29 de novembro de 2015 – 1º Domingo do Advento – Ano C

Temos muitas incertezas no pensamento: preocupa-nos a saúde e ajuda que receberemos, se vier a surgir uma crise; de carácter económico, quer por causa da insegurança do trabalho, quer pela contínua subida do custo de vida, quer ainda pelas surpresas que a vida nos reserva; de liberdade e segurança da vida, ao tomar conhecimento de tantos casos de assaltos, agressões e roubos.

A incerteza gera a angústia. Nesta confusão, somos tentados a procurar um redentor que nos resolva estes problemas. Onde encontrá-lo?

O demónio – Inimigo do homem e fomentador da morte em todas as suas formas, do ódio e da divisão – tenta-nos com falsos redentores.

Muitas vezes, no meio desta desorientação, seguimo-los e desistimos da nossa confiança no Senhor.

O mundo em que vivemos

Temos consciência da nossa falta de liberdade e de segurança. Fazemos plenamente nossas as palavras de S. Paulo: «Eu não faço todo o bem que quero e faço algum mal que não quero

Encontramos sinais claros da atuação do demónio no mundo:

– A cultura da morte (aborto, eutanásia e guerras), imposta como atitude racional;

– Uma profunda e inconsolável tristeza e falta de esperança no futuro, apesar dos clubes de riso, como terapia. Por isso as pessoas criaram o hábito de olhar apenas para o dia de hoje, vendo as pessoas e o mundo por um prisma materialista.

– A desunião entre as pessoas e nações, soprada por uma ambição desmedida de bens materiais. (Quando anunciaram a um célebre estadista português que tinha sido descoberto em Angola, a sua resposta foi desconcertante: «Só nos faltava mais essa!» Os factos vieram a dar-lhe razão. Aguçou-se a inveja e ambição das grandes potências).

Para além da nossa fragilidade pessoal, oprimem-nos tantas estruturas de pecado que nos empurram violentamente para ele, tantos maus exemplos e aliciamento dos que vivem connosco, para que os imitemos no seu descaminho.

Confiamos plenamente no Senhor, para vencer estas dificuldades que nos impedem de preparar a vinda do Senhor.

O Senhor virá libertar-nos

Enquanto em muitas regiões da terra se vive com fervor e heroísmo a fidelidade a Cristo, deixámos que o paganismo se voltasse a implantar no nosso meio.

Para muitos, o modo de pensar já não é cristão: põem-se de lado valores naturais, como a vida, a honestidade nos negócios, o respeito pelas pessoas e a honestidade de costumes.

Esta situação é fortificada por duas realidades: apresentam-se os vícios como sinais de progresso, de evolução; e os que antes eram cristãos já não se aproximam para ouvir as verdades do Evangelho.

Uma nova Evangelização. Por isso, João Paulo II, de saudosa memória, fala-nos da Nova Evangelização. Par além da verdade de sempre, temos necessidade de:

Novos púlpitos. Já não se encontram exclusivamente nas igrejas. São a praça pública, os cafés, o mundo do trabalho e o do divertimento.

Testemunho. As pessoas deixaram de ser sensíveis aos discursos eloquentes. Querem testemunhos de vida. Lançam-nos um desafio constante: «Mostrai-nos com as vossas vidas que Cristo vive!» Pedem-nos, sobretudo, testemunhos de Amor, de caridade.

Nova linguagem. Mantendo heróica fidelidade à doutrina de sempre, temos de procurar novos modos de expressão, para que sejamos entendidos.

A Salvação de Cristo passa por nós. A promessa do Senhor vai cumprir-se, como nos anuncia o profeta Jeremias.

Mas o Senhor pede-nos uma porta aberta para entrar no mundo e realizar as maravilhas do Seu Amor: a porta do nosso coração, as nossas vidas.

Temos de reconquistar a própria liberdade e ajudar os outros a fazê-lo, pela meditação da Palavra de Deus e obras de salvação.

Por isso, o tempo do Advento é, fundamentalmente, um chamamento à conversão pessoal e ao apostolado pessoal. Muitas pessoas precisam ser ajudadas, uma a uma, a caminhar ao encontro de Jesus Cristo, presente na Sua Palavra e nos Sacramentos.

Não nos deixemos intimidar pelas dificuldades com que nos enfrentamos. As dos primeiros cristãos não foram menores. E, para além do mais, encontravam um obstáculo que parecia intransponível: não podiam declarar a sua condição de cristãos, porque isso podia custar-lhes a vida. E, no entanto, em poucos anos, deram à luz, com lágrimas e sangue de martírio, o mundo novo que nos legaram.

As nossas interrogações. Ao começar mais um Advento, em que se concretiza, sinceramente, a nossa esperança? Melhor mesa? Mais prazer? Mais dinheiro? Ou santidade pessoal com todas as suas exigências?

Que esforços concretos estamos dispostos a fazer, para nos convertermos e ajudarmos os outros?

Caminhos de conversão

  1. Lucas fala-nos, em linguagem figurada, de grandes movimentos de conversão: «Nos últimos dias haverá sinais no Sol, na Lua e nas Estrelas e, na Terra, angústia entre as nações, que ficarão perturbadas com o rugido e a agitação do mar

As três vindas de Cristo. É pela conversão pessoa, numa luta diária, que havemos de preparar as três vindas de Cristo, indissoluvelmente articuladas entre si:

A vinda histórica. Não nos contentamos em preparar uma simples comemoração de um facto histórico, mas queremos preparar a celebração, a trazer para a nossa vida esse grande acontecimento e tomar parte nele. A preparação duma festa exige renovação, trabalho intenso, principalmente dentro de nós.

A vinda escatológica. Jesus Cristo virá no fim dos tempos, sobre as nuvens do Céu, para julgar os vivos e os mortos. Para nós, esta vinda é, de algum modo, antecipada, no momento da morte. A situação definitiva então criada, já não sofrerá modificação no fim do mundo.

A vinda mística. Todas as vezes que passamos do pecado à vida da graça, ou damos um passo em frente no caminho da santidade, podemos dizer que Jesus Cristo renasce em nós.

Para a preparação desta vinda convergem as outras duas.

 Hora de esperança. Não há razão para vivermos atemorizados perante um mundo hostil que rejeita os valores do Evangelho. Jesus Cristo antecipa-se às nossas dúvidas e hesitações, recomendando-nos: «Quando isto começar a acontecer, endireitai-vos e levantai a cabeça, porque a vossa libertação está próxima

Estas convulsões sociais são uma confissão velada da fraqueza do demónio e dos que o seguem, e de que se aproxima a sua derrota. Não será com a nossa força que vamos modificar o mundo, mas pela força de Deus. Ofereçamos apenas o humilde contributo para que isto aconteça.

O Senhor anima-nos a fazer isto mesmo, na Celebração da Eucaristia de cada Domingo.

Com o auxílio de Maria, nossa Mãe, seremos instrumentos da criação de um mundo novo.

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