A ideia de que a “verdadeira liberdade” passa por não trabalhar pode ser muito tentadora, em particular num momento em que muitas pessoas vivem presas a um emprego precário, mal pago e que não as realiza ou sofrem em busca de um trabalho que lhes permita ganhar o seu pão e assegurar um nível de vida digno. Não é por acaso, também, que muitos tresleem o relato do Génesis: o trabalho não é um castigo de Deus pela desobediência de Adão, é mais uma marca da imagem divina no ser humano.
A esta luz se percebe que, no pensamento católico, o trabalho seja visto como um “bem” e um direito fundamental para que o ser humano se possa realizar na sua plenitude. Mais do que atividade “útil”, é algo que pertence à vocação de cada pessoa e na qual esta se pode exprimir.
A Igreja ensina o valor do trabalho, recordando o seu caráter de necessidade e a sua importância na vida social. São João Paulo II dizia que o trabalho, como o nascimento, o amor ou a morte, são “acontecimentos fundamentais da existência”.
A divinização de estilos de vida estéreis e fúteis contraria em tudo esta visão. Em última instância, atrevo-me a dizer, ajuda a fomentar uma mentalidade que secundariza quem vive do trabalho e é, infelizmente, visto cada vez mais como um ser humano de categoria inferior, do qual se pode dispor em função de interesses económicos e financeiros. É a humanidade que, em última instância, tem vindo a transformar o trabalho na maldição que nunca deveria ser.
Octávio Carmo,
Agência ECCLESIA