Saber não é noticiar

Nem tudo o que sabemos nos pertence e, por isso, não o podemos partilhar. Sei que isto parece um contrassenso na era da hipercomunicação (que não cura a solidão nem outras doenças), mais a mais porque há muita gente a vangloriar-se de saber aquilo que, efetivamente, não conhece. Porém, tanto as relações pessoais como a deontologia profissional obrigam, em determinados momentos da vida, a travar o ímpeto de mostrar ao mundo que, afinal, também sabemos tanto ou mais do que os outros.

Percebe-se que seja fácil, numa era de espetáculo e de grande facilidade de comunicação, do ponto de vista dos recursos existentes, que se bombardeiem os espetadores/ouvintes/leitores com toda a espécie de ‘informação’, mais ou menos relevante, enquanto se espera por algo que seja verdadeiramente notícia. Julgo, no entanto, que isso é trair o papel fundamental do jornalista como mediador e, a longo prazo, é mesmo uma condenação para a profissão.

Há cada vez maior possibilidade de acesso aos factos e são muitos os que, sem qualquer carteira profissional, os divulgam ou ajudam a divulgar. Por outro lado, a sucessão (por vezes  inacreditável) de factos absolutamente irrelevantes – quantas vezes ouvimos na última semana que o advogado x ‘saiu para fumar’? – mina a relação de confiança com o jornalismo. O espetáculo, o direto estéril e decorativo, não são, nunca foram nem nunca serão o objetivo da Comunicação Social.

Se o público é tão crítico do jornalismo é porque tem, a respeito dele, as mais nobres expectativas. Espera que lhe seja capaz de mostrar para lá da epiderme, que o ajude a compreender e a entrelaçar a realidade face a um volume cada vez maior de informações. O que é que interessa reter? O que é ou não verdade? O que é ou não notícia? O que se deve ou não partilhar, no âmbito do trabalho informativo?

São questões que não são secundárias, porque não é a partir de frestas que o jornalismo cumpre a sua missão. Não nos basta ver, não nos basta saber, é preciso noticiar.

P.S. – Os dois discursos pronunciados pelo Papa Francisco em Estrasburgo são de leitura obrigatório para todos os europeus, independentemente das suas convicções religiosas.

Octávio Carmo,

Agência ECCLESIA

Check Also

Missa de 7º Dia do Monsenhor Cónego José Pedro de Jesus Martins

Missa de 7º Dia pelo Monsenhor Cónego José Pedro de Jesus Martins, na próxima quinta-feira …

Sahifa Theme License is not validated, Go to the theme options page to validate the license, You need a single license for each domain name.