Quinta-feira da 11ª Semana do Tempo Comum (17 de junho de 2021)

A ORAÇÃO DO REINO

  1. O perdão que recebemos e damos. No Evangelho de hoje Jesus diz-nos que não é preciso importunar Deus com longas rezas à base de palavreado, como fazem os pagãos com os seus ídolos. “Não sejais como eles, pois o vosso Pai celestial sabe do que necessitais antes de lho pedirdes”. E a seguir propõe o grande modelo de oração, o Pai nosso, com as suas sete petições segundo o evangelista Mateus (cinco segundo Lucas). As três primeiras petições referem-se diretamente a Deus, a quem começamos por chamar Pai nosso: santificação do seu nome, isto é da sua pessoa; vinda do seu Reino ao mundo dos homens e cumprimento da sua vontade na terra como no céu.

A segunda parte do Pai-nosso são quatro petições para nós: o pão de cada dia, isto é, o sustento material, o pão da palavra e o pão eucarístico; o perdão das nossas ofensas a Deus, condicionado ao perdão que nós concedemos aos irmãos; a perseverança nas tentações de cada dia e, sobretudo, na grande prova final dos crentes perante o assalto do maligno, para não renegar Deus e Cristo, e, finalmente, o vermo-nos livres de todo o mal para podermos servir fielmente a Deus e ao próximo em todos e cada um dos dias da nossa vida.

A conclusão do texto evangélico de hoje volta à quinta petição, a do perdão, para insistir na reconciliação fraterna. Porque Deus nos perdoa gratuita e pessoalmente, podemos e devemos imitar essa generosidade divina perdoando ao irmão que nos ofendeu. Com o perdão acontece a mesma coisa que com o amor: assim como temos de amar os outros com o amor com que Deus Pai nos ama em Cristo, assim temos de perdoar com amor com que Deus nos perdoa. Pois ele dá-nos com a sua graça e o seu Espírito o ser e o agir, o poder e o querer fazer o bem.

  1. O Reino no centro. Se queremos procurar a ideia vertebral do Pai-nosso para centrar nela a nossa atenção, convém ter em conta que o reino de Deus, inaugurado por Jesus, é a ideia omnipresente e determinante. Para que se cumpra o desejo ardente com que devemos repetir uma e outra vez o “venha a nós o teu Reino”, isto é, para que se manifeste plenamente o reino de Deus entre os homens, seguem-se as demais petições: que santifiquemos o nome e a pessoa de Deus, que cumpramos a sua vontade fielmente, que agradeçamos e partilhemos com os outros o pão de cada dia, que perdoemos ao irmão como Deus nos perdoa, e que resistamos à tentação e ao mal.

Todavia, há dois aspetos intimamente únicos e interdependentes, que temos de sublinhar no Pai-nosso. Em primeiro lugar, a afirmação vigorosa da paternidade universal de Deus em relação a todos os homens, uma paternidade sempre em ação porque o amor paternal de Deus atua a cada instante criando-nos e modelando-nos à sua imagem. E em segundo lugar, a consequência lógica disso mesmo: a fraternidade comum entre os filhos de Deus, que somos todos. O cristão é irmão dos outros, e estes são irmãos para ele; o que significa algo muito mais sério e comprometedor que companheiro ou camarada.

A imagem de Deus como Pai está muito por cima do vaivém dos tempos, muito para além das ideologias, e explicações psicológicas. Por isso toda a tradição eclesial rendeu fidelidade e homenagem ao Pai-nosso. Os santos padres dedicaram-lhe muitos dos seus saborosos comentários, e na catequese quaresmal adquiriu grande relevo, especialmente com a “entrega do Pai-nosso” aos catecúmenos que iam ser batizados na vigília pascal.

Nunca deveria desaparecer dos nossos lábios a oração do Pai-nosso, sobretudo nos momentos auge da vida familiar, comunitária e pessoal, como faz a liturgia da Igreja.

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