Completaram-se 100 dias da eleição de Bergoglio. Ao longo deste tempo mudou o modo de entender a Igreja.
1. SIMPLICIDADE
Desde o seu tempo de professor de filosofia e literatura, o «padre Jorge» sabe que os pedestais não servem para nada. O melhor é aproximar-se do aluno de igual para igual, colocar-se ao seu nível.
Como pároco e bispo, aprendeu a «falar aos mais pequeninos, porque assim também entendem os maiores». Os títulos e os tronos criam barreiras desnecessárias.
Chama-se simplesmente «Francisco» em vez de «Francisco I».
- AFETO
É um vendaval de carinho. Com as pessoas que conhece e com as desconhecidas, especialmente crianças, pobres ou doentes.
Sorri, abençoa, movimenta-se e aproxima-se das pessoas com uma energia assombrosa para um homem de 76 anos e com uma ligeira insuficiência pulmonar.
Distribui beijos e abraços sem se cansar, especialmente aos doentes e deficientes.
- HUMILDADE
Presenteou Bento XVI com o ícone da «Virgem da Humildade» recebido da Igreja Ortodoxa russa. Mas, ambos são exemplo dessa virtude.
Joseph Ratzinger foi toda a sua vida uma pessoa simples e sóbria, espartana nos seus gastos pessoais. Jorge Bergoglio sempre soube cozinhar, lavar a sua roupa, andar de autocarro e de metro.
No dia a seguir à eleição como Papa foi à residência do clero buscar a sua mala e pagar a conta da estadia.
- FORTALEZA
Ao despedir-se da presidente brasileira, Dilma Roussef, antiga militante e prisioneira política, durante a ditadura militar, deu-lhe um conselho da sua própria experiência, como provincial dos Jesuítas da Argentina e cardeal arcebispo de Buenos Aires: «Lembre-se: forte, mas com ternura».
Foi sempre carinhoso com todos mas, ao mesmo tempo, «o que tem de fazer, fá-lo». Fustiga o «carreirismo» e a hipocrisia.
- LIBERDADE
Francisco é um homem livre…Não aspira a nada. Não lhe importa o que disserem dele. Desde há muito que não se dava ao trabalho de responder a calúnias contra a sua pessoa; limitava-se a esclarecer deturpações do que tivesse dito em público ou em privado.
É um Papa «low cost». Não precisa de nada. Nunca teve carro oficial, nem secretários, apenas uma agenda. Telefona pessoalmente a quem quer. Escreve e fala com liberdade, pois as críticas não lhe importam nada.
- COLEGIALIDADE
Como superior dos jesuítas da Argentina e como Arcebispo de Buenos Aires, sempre escutava a opinião dos interessados em cada assunto assim como a dos seus colaboradores. Mas, depois decidia sozinho, assumindo toda a responsabilidade.
Como presidente da conferência episcopal argentina, respeitava a opinião coletiva mesmo quando não coincidia com a dele.
Para a reforma da Cúria vai-se apoiar no trabalho do grupo dos oito cardeais dos cinco continentes e no Sínodo dos Bispos.
- ORAÇÃO
Levanta-se às cinco da manhã e faz uma hora de oração. Depois, preparaa sua homilia e continua a rezar até à missa das sete.
Vai muitas vezes ao sacrário. Ao fim da tarde reza outra hora, «diante do Senhor e, às vezes, dormito um pouco por causa do cansaço, às vezes pensamos que devemos pedir, falar, falar, falar… Não! Deixa-te guiar pelo Senhor».
- PROFUNDIDADE
O jovem perito químico Jorge Bergoglio trabalhou num laboratório de análises de alimentos, onde aprendeu a realizar com exatidão medidas e cálculos.
Formou-se no noviciado da Companhia de Jesus, quando as aulas ainda eram em latim. É licenciado em Filosofia e em Teologia.
Foi um grande professor de filosofia e literatura. Prega e escreve com grande clareza, vigor e beleza literária. É um intelectual que, deliberadamente, omite os arrazoados complicados e apresenta as conclusões com palavras simples.
- MISSÃO
Na intervenção que impressionou os Cardeais, antes do Conclave, disse que « a evangelização é a razão de ser da Igreja» «chamada a sair de si mesma e ir às periferias geográficas e existenciais».
Advertiu-os de que «quando a Igreja não sai de si mesma para evangelizar, torna-se auto-referência e adoece», cai no narcisismo. Insiste em que «é preciso sair à rua e ir ao encontro das pessoas».
- COERÊNIA
Desde do tempo em que era mestre de noviços, que o seu «método» era ensinar com o exemplo. Acompanhava os seus irmãos jesuítas mais jovens a alimentar os porcos, e cozinhava em casa aos domingos.
Em 21 anos de bispo, visitava os sacerdotes nas suas casas, cuidava deles quando doentes. Dedicava muito tempo à catequese, confissões, confirmações e primeiras comunhões nas paróquias pobres.
Não pede nada que não tenha feito pessoalmente antes.
Por isso pode exigir. E exigirá.
Juan Vicente Boo
(correspondente no Vaticano – dia 17 /06/ 2013)