Orar é deixar-se amar

A oração, em sentido cristão, é essencialmente um mistério. Não parte do homem, mas de Deus. Não obedece à iniciativa humana, mas à divina. Não é uma tarefa simplesmente nossa, mas do Espírito Santo em nós. Ou, se se prefere, nossa, mas enquanto vivificados e impulsionados pelo Espírito Santo que em nós habita. Ele nos transforma por dentro, a partir das nossas próprias raízes, e capacita-nos para nos dirigir ao Pai em atitude filial e aos outros homens em atitude fraterna. O Espírito associa-nos à Sua própria corrente de amor no seio da Trindade e introduz-nos na vida familiar de Deus.

Assim entendida, a oração cristã tem uma originalidade absoluta. Não se parece – na sua origem consciente nem no seu conteúdo mais amplo -, a nenhuma outra forma de oração. Põe em primeiro lugar a iniciativa de Deus. Destaca, por isso mesmo, o sentido da graça ou da gratuitidade. Não se apoia nos méritos do homem. É puro dom imerecido, que ultrapassa a própria capacidade humana. A oração cristã é inconcebível sem a presença real e ativa do Espírito Santo, que é o seu princípio e a sua máxima garantia.

A verdadeira oração não é um meio, por muito importante ou necessário que ele seja considerado, para a vida cristã ou espiritual, mas é, antes, a própria vida espiritual ou cristã em exercício. Nada expressa tanto o sentido dinâmico desta vida como a oração. Por isso mesmo, a mesma definição serve para ambas. E por isso, também, existe uma correspondência perfeita entre oração e vida espiritual, de tal modo que os santos descrevem os graus e as etapas da vida espiritual pelos graus ou etapas da oração.

Orar é deixar-se amar. É esta, muito possivelmente, a definição de oração mais essencial e a mais compreensível, ao mesmo tempo. A que melhor expressa o segredo último da oração cristã. Deixar-se amar implica: crer no amor pessoal e gratuito, divino e humano, de Deus Pai em Jesus Cristo; consentir nesse Amor; acolhê-lo ativamente; ter consciência, cair na conta, saber-se verdadeiramente amado, etc.

O crente não ora, desde logo, para exigir, para mudar ou para fazer alguma coisa; o que, sobretudo, busca é a presença. Para ele, Deus não está ali como um objeto. No mistério indescritível em termos objetivos, descubro que Deus é, na Sua própria transcendência, mais íntimo que a minha própria intimidade. Tu estás comigo, eu estou contigo. Isto me é suficiente, porque Tu me amas. Orar é deixar-se amar.

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