História, simbolismo e celebrações do tempo litúrgico que antecede durante quatro semanas, na Igreja Católica, a celebração do Natal 1. Como se formou o Tempo do Advento O Tempo do Advento só se encontra nos livros litúrgicos ocidentais. Nenhuma família litúrgica oriental o possui. Porém, na liturgia romana, é por ele que começa o Missal, o Leccionaria e a Liturgia das Horas. As suas origens encontram-se na Gália e na Espanha, e remontam ao século IV. Mas ainda se lhe não chamava então Advento. Na Gália, por volta do de 360, Santo Hilário, Bispo de Poitiers, referia-se a um período de preparação de três semanas para a Epifania, com início no dia 17 de Dezembro e termo no dia 6 de Janeiro. Em Espanha, no ano 380, o Concilio de Saragoça determinava: “ninguém deve faltar à igreja nas três semanas que precedem a Epifania”. Por que razão falam esses dois testemunhos de Epifania e não de Natal? Porque ainda não se celebrava o Natal, festa que viria a nascer em Roma só por volta do ano 375, e demorou alguns anos a ser acolhida por todas as Igrejas do Ocidente. Como instituição litúrgica, o Tempo do Advento só se formou nos finais do século VI. Consistia então em seis semanas de preparação para o Natal. Foi São Gregório Magno (590-604) que o reduziu a quatro semanas, duração que ainda mantém. Hoje, quando o Advento começa, sente-se que estão próximas as festas com que os cristãos celebram, todos os anos, o nascimento de Jesus. 2. Os dois Adventos de Cristo A palavra advento significa vinda ou chegada. Escrevendo a Tito, Paulo refere-se, nestes termos, aos dois adventos ou vindas de Cristo: Manifestou-se a graça de Deus, fonte de salvação para todos os homens, ensinando-nos a renunciar à impiedade e aos desejos mundanos, e a viver no mundo presente com toda a sobriedade, justiça e piedade (1ª. vinda), aguardando a bem-aventurada esperança e a manifestação gloriosa do nosso grande Deus e Salvador Jesus Cristo (2ª. vinda). Na sequência da doutrina da revelação ensinada por Jesus e lembrada pelo Apóstolo, S. Cirilo de Jerusalém explicava, no século IV, aos seus neófitos: “Anunciamos o advento de Cristo. Não, porém, um só, mas também o segundo, muito mais glorioso que o primeiro. Aquele revestiu um aspecto de sofrimento; este trará consigo o diadema do reino divino. No seu primeiro advento, Cristo foi envolvido em faixas e deitado num presépio; no segundo, será revestido com um manto de luz. No primeiro suportou a Cruz, sem recusar a ignomínia; no segundo, aparecerá glorioso, escoltado pela multidão dos Anjos. Por esse motivo, afirmamos na nossa profissão de fé, tal como a recebemos por tradição, que acreditamos naquele que subiu aos Céus e está sentado à direita do Pai e que há-de vir em sua glória para julgar os vivos e os mortos, e o seu reino não terá fim”(LH, vol. I, p. 135-136). É precisamente dessas duas vindas de Cristo e da preparação para elas pela catequese e pela penitência que falam as orações e leituras do Tempo do Advento, o que dá a este período litúrgico características algo semelhantes às da Quaresma. 3. Liturgia do Advento 3.1 Duração e importância do Tempo do Advento O Tempo do Advento começa com as I Vésperas do domingo mais próximo do dia 30 de Novembro e termina antes das I Vésperas do Natal (NUALC 40). Dada a variação da data do seu início, que pode ir de 27 de Novembro até 3 de Dezembro, este tempo litúrgico não tem extensão uniforme. A sua duração máxima é de 28 dias (4 semanas completas) e a duração mínima de 22 dias (4 semanas incompletas). Nessas quatro semanas, nem todos os dias têm a mesma importância litúrgica. Em primeiro lugar salientam-se os quatro Domingos do Advento, cuja designação de domingos privilegiados significa que nenhuma solenidade tem precedência sobre eles. Tal é o caso da Imaculada Conceição, transferida para o dia 9 de Dezembro sempre que o dia 8 cai ao domingo. Seguem-se, em importância, os sete dias que vão de 17 a 24 de Dezembro, orientados de modo mais directo para a preparação do Natal, e, por fim, os restantes dias feriais, anteriores ao dia 17 de Dezembro. Esta importância relativa dos dias do Advento há-de ser vista como pedagogia pastoral em ordem à participação dos fiéis na sua celebração. Assim, se cada um dos domingos do ano litúrgico é dia do Senhor e dos cristãos, são-no muito mais os Domingos do Advento, pelo que nenhum fiel deve faltar à assembleia eucarística dominical, pois é particularmente nesses domingos que “por meio da memória da primeira vinda do Filho de Deus aos homens, as nossas mentes se dirigem para a expectativa da segunda vinda de Cristo no fim dos tempos (NUALC 39). 3.2 Aspectos celebrativos próprios do Advento Alguns pormenores celebrativos chamam a nossa atenção para aspectos específicos do Advento: por um lado, devem pôr-se flores nos altares, mas com a moderação que convém às características deste tempo para não antecipar a plena alegria do Natal do Senhor (CB 236); os paramentos são roxos, para se acentuar o carácter penitencial do Advento; a Missa não tem Glória, para que este cântico, cujas palavras iniciais foram cantadas pela primeira vez pelos Anjos e escutadas pelos pastores perto do lugar onde Jesus acabava de nascer, possa ser retomado e ressoar com novidade na Missa da Noite de Natal. Mas, por outro lado, a proclamação do Evangelho é precedida do canto do Aleluia, para nos recordar que o Advento é tempo de “piedosa e alegre expectativa” (NUALC 39) e não de penitência quaresmal, e o Ofício de Leitura da Liturgia das Horas, em cada um dos domingos do Advento, conclui-se pelo hino Te Deum, o que não acontece na Quaresma. Sempre que os fiéis se derem conta destes pormenores e compreenderem o seu significado, no que hão-de ser ajudados pela catequese que os pastores lhes hão-de fazer principalmente na homilia, estarão a crescer na inteligência da fé e a experimentar o mistério da presença de Cristo na liturgia. 3.3 As Missas do Tempo do Advento As celebrações litúrgicas têm em conta as duas características que recordamos acima: preparação do Natal e da última vinda de Cristo. No que se refere à Missa, a melhor síntese dessa dupla perspectiva é aquela que apresentam os dois Prefácios do Tempo do Advento. O Prefácio I, que se diz desde o primeiro domingo do Advento até ao dia 16 de Dezembro, declara que Cristo “veio a primeira vez, na humildade da natureza humana (…), e de novo há-de vir, no esplendor da sua glória”. O prefácio II, que se diz desde o dia 17 até ao dia 24 de Dezembro, recorda-nos que é Cristo “que nos dá a graça de nos prepararmos com alegria para o mistério do seu nascimento”. a) As leituras As Leituras das Missas ilustram os diversos aspectos do mistério do Advento. Os textos do Antigo Testamento nos quatro domingos recordam doze profecias messiânicas, abrangendo um período de mais de quinhentos anos, desde a de Natã, no tempo de David, até às dos profetas da época pós-exílica. As mais importantes são as do 4º. Domingo, todas relacionadas com a maternidade de Maria: “O Senhor anuncia que te vai fazer uma casa. O teu trono será consolidado para sempre” (Ano B); “De ti, Belém-Efrata, a mais modesta entre as famílias de Judá, de ti é que há-de nascer Aquele que reinará sobre Israel” (Ano C); “Eis que uma Virgem conceberá e dará à luz um filho chamado Emanuel” (Ano A). Os Evangelhos dominicais insistem na necessidade de vigiar, pois ninguém sabe quando o Senhor chegará no fim dos tempos (1º. Domingo); falam do ministério de João Baptista (2º. e 3º. Domingos); descrevem a Anunciação do Anjo a Maria e o mistério da Encarnação do Verbo de Deus (4º. Domingo). b) As orações As Orações das duas primeiras semanas evocam principalmente a última vinda de Cristo no fim dos tempos: Senhor, fazei-nos esperar ansiosamente a vinda do vosso Filho, para que Ele nos encontre vigilantes na oração e alegres no seu louvor (2ªf. da 1ª. S.); Preparai, Senhor, os nossos corações para que, no dia da vinda do vosso Filho, mereçamos entrar no banquete da vida eterna (4ªf. da 1ª. S.); Deus misericordioso, que os cuidados deste mundo não sejam obstáculo para caminharmos generosamente ao encontro de Cristo (2º. Dom.) . Mas a partir do dia 17 de Dezembro privilegiam a preparação da solenidade do Natal: Deus omnipotente, preparai-nos para acolher com alegria a glória do Salvador no seu nascimento (3ªf. da 2ª. S.); Deus de infinita bondade, fazei-nos chegar às solenidades da nossa salvação e celebrá-las com renovada alegria (3º. Dom.); Deus omnipotente, que o esperado nascimento do vosso Filho Unigénito nos liberte da antiga escravidão do pecado (18/12); Ao aproximar-se o nascimento do vosso Filho em nossa carne mortal, fazei-nos sentir, Senhor, a abundância da vossa misericórdia (23/12). Trata-se de duas perspectivas complementares. O Advento recorda e faz participar no mistério do nascimento do Filho de Deus que já veio na humildade da natureza humana e na pobreza de Belém, e que há-de voltar no esplendor da sua glória para julgar os vivos e os mortos. 4. Teologia e espiritualidade do Advento Começámos por dizer que o Advento foi o último tempo litúrgico a constituir-se, e que apenas é celebrado pelas liturgias ocidentais. Tal facto não significa, porém, que o Advento tenha menor importância que outros tempos do ano cristão. Apenas quer dizer que só a Igreja do Ocidente sentiu a necessidade duma preparação mais adequada para a celebração dos mistérios da primeira vinda de Cristo, no Natal, e da sua última vinda na glória, no fim dos tempos. 4.1 Vinde, Senhor Sabemos que Cristo já veio. Aquele que os profetas anunciaram e desejaram ver fez-Se carne no seio de Maria, nasceu em Belém, foi contemplado pelos homens. Mas voltou para o Pai, onde intercede continuamente por nós. Porém a Igreja acredita que os fiéis de todos os tempos têm necessidade de fazer experiência idêntica à dos filhos de Israel que viveram antes da vinda do Messias. Dai a sua proposta, no início de cada ano litúrgico. As leituras do Advento fazem ouvir às comunidades cristãs de hoje a voz de Isaías que as convida a preparar os caminhos do Senhor, e a de João Baptista que proclamou estar para vir Aquele que os profetas anunciaram, e O mostrou já presente no meio dos homens. São ainda essas leituras que lhes permitem contemplar, em Maria, a serva de Deus que esperou Cristo com inefável amor, enquanto as orações as levam a pedir a graça de se prepararem com alegria para o mistério do seu nascimento. E quando as comunidades e cada um dos seus membros, vigilantes na oração e celebrando os louvores de Cristo repetem “Maranathá” (= Vinde, Senhor), estão a apressar a vinda definitiva d’Aquele que nos dará em plenitude os bens prometidos. A celebração do Advento encerra uma força peculiar e uma eficácia sacramental. Através dela, o próprio Cristo, no mistério das suas duas vindas, continua a realizar a sua ação de imensa misericórdia, de tal modo que os fiéis não só as meditam, mas entram em contacto com elas, comungam nelas e por elas vivem (cf. CB 231). As perspectivas litúrgicas da Igreja sobre o Advento não são, pois, as de um mero tempo de ontem, anterior à primeira vinda do Filho de Deus, mas principalmente as de um tempo de hoje, bem real para nós. Embora com raízes no passado, o Advento aponta prevalentemente para o futuro, para esse “dia do Senhor”, desconhecido dos próprios Anjos. É esse dia que, cheios de confiança, nós ousamos esperar. 4.2 Vinde, Espírito Santo No princípio, quando Deus criou o céu e a terra, o Espírito pairava sobre as águas e nelas infundiu a força criadora da vida. Na hora da Anunciação do Anjo, foi ainda o Espírito que gerou no ventre da Virgem Maria o Filho Unigénito de Deus, dando início aos novos céus e à nova terra. No princípio, o Espírito precedeu a vida; na Anunciação, precedeu o Verbo. O mesmo Espírito que esteve na origem da primeira vinda de Cristo, há-de ser invocado para apressar a segunda. O Advento é, pois, tempo de clamar: “Vinde, Espírito Santo”, pois só o Espírito é capaz de preparar a lgreja e o mundo para a vinda definitiva do Filho de Deus, e simultaneamente o coração de cada homem e de cada mulher para neles se ir completando a obra da redenção que teve início na Encarnação do Verbo. É isso o que a lgreja ensina ao orar deste modo, em três Missas do Advento: Senhor, que pela anunciação do Anjo, quisestes que a Virgem Imaculada, envolvida na luz do Espírito Santo, fosse consagrada templo da divindade, ajudai-nos a cumprir fielmente, como ela, a vossa vontade (20/12, Colecta); Senhor, santificai estes dons com o mesmo Espírito que, pelo poder da sua graça, fecundou o seio da Virgem Santa Maria (4º. Dom. Adv., SO); Senhor, que nos alimentais com o pão da vida, concedei-nos que, inflamados pelo fogo do vosso Espírito, brilhemos como lâmpadas resplandecentes quando vier o Senhor (17/12, DC). Estas orações falam do Espírito Santo como Dom de Deus que precedeu Cristo na Encarnação ao descer sobre Maria, que precede Cristo no pão e no vinho para os tornar Corpo e Sangue do Redentor, que precede na vida os fiéis que comungaram, para os fazer brilhar como lâmpadas quando o Senhor vier. O Espírito, diz-nos a liturgia do Advento, vem sempre antes de tudo o que acontece na economia da salvação. Vem antes de cada celebração do Natal e virá antes da última vinda de Cristo. O Advento preparará tanto mais o coração dos fiéis para a festa do Natal e para a última vinda de Cristo, quanto mais for tempo de intensa invocação do Espírito, de profunda vida na intimidade do Espírito. Não está nas tuas mãos evitar que muitos homens e mulheres vivam um Natal sem Deus, vazio de Cristo. Mas está nas tuas mãos fazer com que o Natal comece a ser cristão em ti, se fores capaz de viver o Advento na mesma atitude em que o viveram, há muitos séculos, Isaías, João Baptista e Maria. 4.3 Viver em clima de Advento, com Maria Os pobres de Javé são aqueles filhos de Israel que, nos tempos da Antiga Aliança, acreditaram na promessa dum Salvador, suplicaram a Deus a vinda desse dia, e souberam esperar o Messias prometido. Maria ocupa, entre esses pobres, o primeiro lugar. O Advento é, mais do que nenhum outro tempo litúrgico, o tempo dos novos pobres de Javé, pois é no Advento que a Igreja pede com maior insistência a vinda da salvação: Desça o orvalho do alto dos Céus e as nuvens chovam o Justo. Abra-se a terra e germine o Salvador (AE 4º. Dom. Adv); Aquele que há-de vir não tardará. Ele é o Salvador do mundo (AE 19/12); O Senhor virá com poder e majestade e iluminará os olhos dos seus fieis (AC 4ª f. 3ª. Sem); Virei sem demora, diz o Senhor, para dar a cada um a recompensa das suas obras (Sáb 2ª. Sem). Não admira, por isso, que Maria ai ocupe lugar de grande relevo (cf. Marialis Cultus, 3-4). Deus iniciou pela Virgem Maria a obra da redenção humana, ao preservar de toda a mancha do pecado aquela que viria a ser a Mãe de Cristo (cf. Col. 8/12). É pois, com toda a naturalidade, que celebramos, nos primeiros dias do Advento, a solenidade da Imaculada, preparação radical da Virgem para a vinda do Salvador e feliz aurora da lgreja (cf. Marialis Cultus, 3). As afirmações que melhor exprimem a fé da lgreja para com a Mãe de Deus encontram-se nos dias 17 a 24 de Dezembro: O Anjo do Senhor disse a Maria: Conceberás e darás à luz um Filho e o seu nome será Jesus (AC 20/12); Bendita sejais, ó Virgem Maria, porque em vós se há-de cumprir a palavra do Senhor (AC 21/12); Senhor, que no seio da bem-aventurada Virgem Maria quisestes realizar o grande mistério da Encarnação do Verbo (C 17/12); Deus eterno e omnipotente, ao aproximar-se o nascimento do vosso Filho, fazei-nos sentir a abundância da vossa misericórdia, que O fez encarnar no seio da Virgem Maria (C 23/12). A minha alma glorifica o Senhor, porque o Todo-Poderoso fez em mim maravilhas (AC 22/12). Mas é sobretudo no 4º. Domingo do Advento que a presença da Virgem atinge a sua máxima expressão, nas leituras bíblicas, nas orações e na bela antífona da comunhão: Eis que uma Virgem conceberá e dará à luz um Filho chamado Emanuel (AC 4º. Dom. Adv). A presença de Maria na liturgia do Advento tem um profundo sentido de exemplaridade. Assim como Deus pôs os olhos na humildade da sua serva, do mesmo modo os põe em cada crente que a imita. A exemplaridade de Maria há-de ser ponto de referência para a lgreja e para cada crente que, em continuidade com ela, têm a missão de preparar o mundo para a última vinda de Cristo Salvador. Na aurora dos novos tempos, foi em Maria que a promessa feita por Deus aos patriarcas e aos profetas se transformou em Dom. Nos nossos, que são os últimos, há-de ser através de cada homem e de cada mulher que vivam à maneira de Maria, que Deus apressará a última vinda do seu Filho, e nos dará a graça de alcançarmos a herança do céu, onde, com a criação inteira, cantaremos eternamente a glória do Senhor. 5. Viver um Advento Cristão O Tempo do Advento começa nos últimos dias de Novembro ou nos primeiros dias de Dezembro. Porque antecede o Natal e o fim do ano civil, é um período muito importante para a manifestação dos mais nobres sentimentos da pessoa humana. Que o digam as inumeráveis festas de carácter social que nele acontecem, conhecidas pelo nome de “natais”: natal dos hospitais, natal da TV, natal dos trabalhadores da empresa X. Mas a visão cristã do Advento vai mais longe. Ela parte da actividade profética, nomeadamente por parte de João Baptista, e dela deduz que o Advento tem, como finalidade, preparar as comunidades para uma celebração cristã do Natal e lembrar também que a última vinda do Senhor está agora mais próxima do que no momento em que abraçámos a fé. A visão cristã do Advento faz de Deus e não do homem a medida de todas as coisas. Trata-se duma maneira de olhar as coisas e o mundo que contrasta com a visão que a cultura, a política e o social têm dessas mesmas realidades, e que é incómoda. Por isso, a liturgia do Advento deveria interpelar fortemente os que a frequentam, apontando-lhes como objectivo final a última vinda de Cristo, e como metas intermédias as celebrações do Natal e as manifestações de solidariedade humana, a viver em jubilosa esperança. Deveria também, nomeadamente nas celebrações do sacramento da Penitência, fazer ressaltar, através da atitude humanamente acolhedora e fraterna dos ministros, a inigualável humanidade de Deus que se compadece de todas as fraquezas dos homens, e cujo perdão é imensamente maior do que os pecados de todos os homens de todos os tempos. Os cristãos, por seu lado, na sua vida quotidiana, deveriam estar atentos às tentativas do poder económico que pretende transformar o Advento num período de louco consumismo, verdadeiro atentado à dignidade de todos os homens que Cristo veio salvar, e à igualdade e fraternidade que o Natal proclama. O comportamento de cada cristão deveria estar de acordo, não com os modelos culturais que os meios de comunicação criam e impõem, mas com as lições que se aprendem ao ler as páginas do Evangelho que narram o nascimento de Cristo, ou ao contemplar a simplicidade e pobreza do primeiro presépio: uma gruta, uma manjedoura, um Menino, que sendo rico Se fez pobre para ensinar aos homens a mais bela das lições: Felizes os que têm um coração de pobre, porque deles é o reino dos céus. Onde estão os mestres que queiram dizer isto com palavras e com a vida? Os discípulos não tardariam em ser multidão. É que o Advento nasceu para introduzir os fiéis no mistério da Encarnação, mistério que faz nascer Deus para o homem e conduz o homem para Deus.
Fonte: José de Leão Cordeiro, Boletim de Pastoral Litúrgica, n.º 60 – 1990