O vocábulo “penitência”, que exige ser bem compreendido, nos últimos anos tem sido substituído, com frequência, pelo termo “conversão”. Com efeito, a penitência, no sentido forte da palavra, é o passo fundamental do arrependimento que inspira uma total mudança de vida, isto é, a conversão.
O novo Ritual promulgado por Paulo VI, em 1972, mantém o termo “penitência” para designar o sacramento, tradicionalmente conhecido por este nome, mas acrescentando o termo “reconciliação”. Para nós, trata-se, por conseguinte, do Sacramento da Penitência e da Reconciliação. Esta nova designação pretende, sem dúvida, lançar luz sobre a importância social e fraterna da caminhada sacramental que é a abertura ao outro, aos outros, para descobrir o mistério da Igreja como proposta da Aliança a todos os homens.
Se queremos situar este sacramento na sua originalidade, entre as diversas expressões da misericórdia divina na vida da Igreja, encontramos duas características essenciais. Antes de mais, o testemunho da reconciliação do homem com Deus é o sacerdote que age em nome de Jesus, Senhor e Salvador, e em nome da comunidade cristã, célula da Igreja. Depois, é deste modo que o penitente pode tornar verdadeira a sua vida. Abrindo-se, através do sacerdote, ao mistério da Igreja, a pessoa que perde o perdão é conduzida ao centro mais profundo da sua identidade. A nossa vida pessoal tem a sua fonte primária e o seu dinamismo natural na nossa pertença à Igreja, o que nos torna membros do corpo místico de Cristo.
Existe uma unidade viva, simples e dinâmica da caminhada penitencial no Sacramento da Reconciliação. O essencial é a ação, em nós, do Espírito de verdade que quer formar no nosso coração a contrição perfeita, ou seja, o ato de amor puro a Deus, que nos permite tomar posição contra o nosso próprio pecado e desligar-nos totalmente dele. É deveras difícil para nós descobrirmos a ação de Deus na nossa vida. A tentação é de O considerarmos como um parceiro que nada nos diz, como uma vulgar relação humana. Ora, a maravilha é que Deus, no seu influxo criador, não cessa de nos entregar a nós mesmos mediante a nossa liberdade. Ele, que conhece melhor o nosso coração do que nós mesmos, desperta no nosso íntimo o melhor dos nossos desejos e nos convida a acolher a sua misericórdia.
Sintetizando, o perdão de Deus leva-nos à conversão: tudo é de Deus e, por isso, tudo é nosso. «Pois é Ele quem, segundo o seu desígnio, opera em nós o querer e o agir» (Fl 2,13).
Fonte: Rosário de Maria
Ano 74 | nº 778| março de 2018
Fr. Jean-Claude Sagne, op
Tradução e adaptação de
Fr. Domingos N. Martins, op