O caminho de peregrinação na fé

Não vamos pensar que a fé inicial de Maria foi sempre “de vento em popa”, sem conhecer dificuldades, perturbações ou provações. Também Maria teve de ir assimilando pouco a pouco o Evangelho anunciado por Jesus. O sim da anunciação foi o início de um longo itinerário para Deus, de uma verdadeira peregrinação na fé. Teve de renovar cada dia a fé profunda com que disse o seu primeiro sim, para o manter fiel durante toda a vida até à entrega do Filho na cruz.

Desde cedo, a sua fé passou por situações que a puseram à prova: o risco de perder o amor de José, seu noivo, por aceitar a maternidade divina, o nascimento do menino num pobre estábulo em Belém, a fuga para o Egito, a apresentação do menino no templo quando ouviu a desconcertante profecia de Simeão: “uma espada de dor atravessará o teu coração”, a perda de Jesus no templo. Maria vive a “noite da fé” que atinge o seu auge aos pés da cruz unida a Cristo sofredor no seu despojamento total. Mediante a fé, a mãe participa na morte do Filho com fidelidade, de modo bem diferente dos apóstolos, que fugiram.

Como é que Maria pôde viver este caminho ao lado do Filho com uma fé sólida, mesmo na obscuridade – quando Deus parece ausente ou em silêncio –, sem compreender tudo e sem perder a plena confiança em Deus? O evangelista S. Lucas revela-nos a atitude de fundo com que ela enfrentava estes acontecimentos: “Maria guardava todas estas coisas meditando-as no seu coração” (Lc 2, 19); e “Mas eles [os pais] não compreenderam as palavras que lhes disse… Sua mãe guardava todas estas coisas no seu coração” (Lc 2, 51). Isto significa que Maria entrava em diálogo íntimo com a Palavra de Deus anunciada: recordava e relacionava no seu coração os acontecimentos e a Palavra, discernindo desta forma os desígnios de Deus. Assim adquire a compreensão que só a fé lhe pode garantir e permitir “esperar contra toda a esperança”.

Neste contexto, compreendemos as referências elogiosas de Jesus a sua mãe como ouvinte da Palavra, que a torna membro da grande família espiritual que é a Igreja: “Minha mãe e meus irmãos são aqueles que escutam a Palavra de Deus e a cumprem” (Lc 8, 18-21) e “Felizes antes aqueles que escutam a Palavra de Deus e a guardam” (Lc 11, 27-28).

 

 

D. António Marto – Bispo de Leiria – Fátima 

Fonte: Carta Pastoral 2015/2016 -“Maria, Mãe de Ternura e de Misericórdia” nº 9

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