O amor de Deus por ti concretiza-se em Jesus Cristo

Deus não se contentou em dizer-te que te amava; um dia no tempo, fez-se homem: um ser como tu, de carne, consciência e sangue. Não necessitas de estudos superiores para compreenderes o que é um homem. Basta sentires-te viver, amar e chorar. Nasce um homem, vive, passa pela terra e é Deus: Jesus de Nazaré, filho de Maria, Filho de Deus. Se tens alguma experiência do Deus três vezes Santo, não podes deixar de ficar maravilhado, estupefacto, pasmado diante do mistério de Jesus.

É inteiramente Deus, sem qualquer restrição. É inteiramente homem, sem qualquer diminuição: “Não é apenas um homem que nasce em Belém, que trabalha em Nazaré, que fala às multidões na Palestina, que grita de medo em Getsémani e morre em Jerusalém – é Deus que nasce, trabalha, fala, grita e morre”. Jesus realiza a união de de Deus com o homem e do homem com Deus. Para isso basta-lhe ser, e nada mais. É verdadeiramente o amor de Deus por ti que se concretiza em Jesus Cristo. Recebe no teu coração o Verbo Encarnado e aprofunda, sem cessar, o mistério da tua pessoa. Pede-lhe, com frequência, que te faça descer ao coração de Deus e do homem. Quando atinges Jesus Cristo pela fé, descobres a verdadeira dimensão do teu ser de homem, transformado em morada de Deus.

Desde que Cristo ergueu a sua tenda no meio de nós, há qualquer coisa que mudou radicalmente no coração do mundo. A humanidade entrou em Deus e Deus penetrou em toda a realidade terrestre, até ao íntimo do cosmos. Em Jesus Cristo, a presença de Deus atinge o centro do mundo, mas sobretudo o coração do homem. Já não se pode falar de Deus sem falar do homem, nem falar do homem sem falar de Deus. É por isso “que nenhum homem nasce sem Cristo”, dirá S. Jerónimo.

Não encontrarás o teu pleno desabrochar de homem senão inserindo-te cada vez mais profundamente no mistério do homem perfeito que é Cristo e, através dele, no mistério trinitário. Em Jesus, encontras não só o Pai, mas entras também em comunhão com todos os teus irmãos, nas suas aspirações para Deus.

Com demasiada frequência opões oração e vida, serviço de Deus e serviço dos irmãos, contemplação e ação. No dia em que tiveres assimilado bem todas as dimensões do mistério de Cristo, de haver oposição. Desde que Deus se encontrou com o homem, em Jesus Cristo já não há nada de profano (etimologicamente, pro-fanum: diante do templo, fora do templo). Uma vez que Deus saiu do Templo da sua “morada celeste”, para viver no mais íntimo da sua criação. Aí está ele presente e vivo nessa realidade do quotidiano que vais modelando com maior ou menor sucesso. Vivendo em cheio o teu dia a dia e a tua relação aos outros, encontras continuamente a Cristo e por ele o Pai. É agora, na vida de todos os dias, no teu trabalho quotidiano, no amor do  irmão, que deves encontrar Jesus.

Quando rezares, ajoelha-te na presença do Pai e, através de uma súplica veemente, pede-lhe para compreenderes que “Cristo habita o teu coração pela fé” (Ef 3,17). Acredita na sua presença em ti, diz a Regra de Taizé, mesmo se não sentes nenhuma ressonância sensível. Utiliza todos os registos da tua pessoa para fazer subir essa oração ao Pai, porque o Espírito de Jesus deve morar em ti. Depois, pouco a pouco, o Espírito Santo dar-te-á luz e força para compreenderes “o que é a largura, o comprimento, a altura e a profundidade e conhecerás o amor de Cristo que excede toda a ciência” (Ef3,18-19).

É necessário que essa consciência da presença de Cristo esteja profundamente enraizada em ti. É o único objetivo da tua oração. Se passares todo o tempo da tua oração a pedir essa graça, assimilarias os pontos de vista de Deus relativamente a ti. Fica a saber que aquilo que pedes assim com insistência, corresponde ao desejo do Pai. Ele espera que tenhas as mãos inteiramente abertas e suplicantes para aí depor o seu Filho.