Mensagem quaresmal do bispo do Algarve adverte que só a “conversão pessoal” levará a nova organização eclesial

“Convertei-vos e acreditai no Evangelho” (Mc 1,15)

  1. A Quaresma é o tempo litúrgico que inicia, anualmente, com a exortação convertei-vos e acreditai no Evangelho (Mc 1,15), acompanhada pelo rito de imposição das cinzas. Um convite a centrar a nossa vida cristã no essencial da sua verdade: não temos aqui morada permanente, somos peregrinos a caminho do Céu. Reconhecemos, com humildade, a nossa fragilidade, que nos leva, por vezes, a caminhar por “atalhos” e a atrasar o passo. Manifestamos, igualmente, a vontade e a coragem da nossa fidelidade, fortalecida pelo desejo de alcançar a plenitude de vida, só possível à luz da Páscoa de Cristo, que dá sentido a cada Quaresma e que constitui, desde já, uma realidade inspiradora da nossa vida cristã.

Em cada Quaresma, ou melhor ainda, em cada Páscoa, queremos responder a este convite de experimentarmos, com renovada fidelidade, esta centelha de eternidade infundida em nós pelo Espírito de Cristo ressuscitado. Para tal, queremos assinalar este percurso quaresmal pelo silêncio e pela oração, pelo jejum e pela partilha em ordem à conversão que o inspira e, sobretudo, com a esperança de viver a alegria que brota de Cristo ressuscitado.

 

  1. Conversão pessoal e conversão pastoral

Vivemos em tempo sinodal, conduzidos pelo seu lema inspirador: comunhão, participação, missão. Realizou-se a primeira sessão. Preparamos a segunda com o envolvimento das comunidades paroquiais e dos organismos colegiais diocesanos. Estamos a implementar uma “nova organização da pastoral paroquial em chave missionária”. Com esta opção pretendemos responder ao pedido que o Papa Francisco dirigiu/lançou a toda a Igreja, logo no início do seu pontificado: “espero que todas as comunidades se esforcem por atuar os meios necessários para avançar no caminho duma conversão pastoral e missionária, que não pode deixar as coisas como estão. Neste momento, não nos serve uma simples administração” (EG 25). O caminho percorrido, ainda no seu início, já nos mostrou que só uma conversão pessoal – abertura sincera à novidade do Espírito – pode conduzir a uma conversão pastoral e missionária efetiva, traduzida em novas formas de organização eclesial com o envolvimento corresponsável de todos os batizados, clero, consagrados e leigos. Converter-se, sinodalmente, equivale a escutar o outro, acolher o diferente e integrar órgãos eclesiais participativos de discernimento e de decisão.

 

  1. O caminho do Ano Santo de 2025 já começou, com o Ano de Oração promovido pelo Papa Francisco. Determinou que o ano antes do jubileu fosse “dedicado a uma grande sinfonia de oração, de modo a recuperar o desejo de estar na presença do Senhor, de o escutar e de o adorar”. Pediu a todas as Dioceses para promoverem e intensificarem tempos de oração individual e comunitária, como preparação para este tempo de graça. A Quaresma constitui um tempo oportuno para esta resposta. Exorto as comunidades paroquiais, bem como as comunidades religiosas, a acolherem este pedido, juntamente com o seu pedido insistente a invocar o dom da paz, para toda a humanidade, particularmente para os países envolvidos em guerras devastadoras.

 

  1. O Secretariado Diocesano de Catequese apresentou um sugestivo caminho quaresmal, para este setor pastoral, inspirado na mensagem do Papa Francisco: através do deserto, Deus guia-nos para a liberdade, com o convite a deixarmos que o deserto existencial de cada um, seja visitado pela esperança cristã da Páscoa. As propostas apresentadas semanalmente às comunidades paroquiais, ultrapassam o âmbito de catequistas e catequizandos, alargando-se a quantos as acolherem e assumirem para si mesmos. A imagem do deserto é sempre enriquecedora para o caminho quaresmal. O deserto, mais do que ausência de barulho, é presença de Deus que fala ao coração do seu povo, é lugar de reviver o primeiro amor (cf. Os. 2,16-17), lugar onde Deus educa o seu povo, para que saia das suas escravidões, o atrai novamente a Si com palavras de amor e de misericórdia e o guia para a liberdade plena. Esta imagem sugere um tempo de paragem, mas não de inatividade. Agir é também parar: parar em oração, para acolher a Palavra de Deus, e parar como o Samaritano junto do irmão ferido. Duas vertentes do mesmo e único amor. A oração, a esmola e o jejum constituem um único movimento de abertura, de esvaziamento de tudo o que torna o coração prisioneiro de falsos ídolos e incapaz de amar. Este é o tempo de passar da escravidão para a verdadeira liberdade e realizar o sonho de Deus, a terra prometida para a qual caminhamos.

 

  1. A renúncia quaresmal, fruto da nossa partilha fraterna e sinal da verdade do nosso caminho quaresmal, une-nos como expressão solidária na resposta às necessidades de quantos batem à porta do nosso coração. Não hesitemos, também este ano, em alargar o “espaço da nossa tenda”, e se possível com maior generosidade que em anos anteriores.

 

O ano passado decidimos acolher o pedido dos “Missionários de Santa Teresa de Jesus”, Instituto Religioso ainda nos seus inícios, sediado na Diocese de Viana, Angola. Recolhemos e enviámos 9.678,81€ para apoiar a construção da Casa de Formação dos seus 45 seminaristas do curso de Teologia. Este ano destinaremos o fruto da nossa renúncia ao Centro Paroquial de Cachopo, já em obras de ampliação, há muito necessitadas, passando de trinta para cinquenta e cinco camas. Queremos dar continuidade à louvável e oportuna campanha natalícia da Rádio Renascença, destinada a apoiar a mobilação dos novos quartos, orçamentada em 66.000€, quantia a necessitar ainda da nossa generosidade para ser atingida. Que o Espírito Santo, dom de Cristo ressuscitado, nos ilumine e fortaleça neste caminho quaresmal, e que Maria, Rainha da paz, obtenha do seu Filho Jesus, o dom da paz para os povos em guerra e para toda a humanidade.

 

 

Faro, 08 de fevereiro de 2024

+ Manuel Quintas, Bispo do Algarve

 

 

Fonte: https://www.facebook.com/folhadodomingo

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