Com frequência, interrogamo-nos sobre os efeitos que produz em nós a Palavra de Deus: Ler a Bíblia, porquê e para quê? Ora, esta Palavra constitui o essencial do programa da vida cristã, de cada um que se diz seguidor de Cristo.
Ouçamos o que nos diz a Igreja, nas palavras autorizadas do Concílio Vaticano II:
«Em virtude desta Revelação, Deus invisível, na riqueza do seu amor, fala aos homens como a amigos e conversa com eles, afim de os convidar e admitir à sua comunhão» (Dei Verbum 2).
Por meio da sua Palavra Deus não apenas se revela ao leitor/ ouvinte; sobretudo, estabelece com ele uma relação pessoal. Mais ainda: o que acontece é uma relação de amigo para amigo, numa dinâmica de amor.
Este amor é claramente manifesto por aquele documento, nas palavras amor, amigos, conversa e comunhão. Tais palavras dizem-nos que, ao lermos a Bíblia, não estamos apenas a ler um livro, mas a «conversar» com a Pessoa do próprio Deus, numa dinâmica de amizade, de amor e de comunhão com Ele. Este processo da leitura da Bíblia diz-nos que a Revelação de Deus à humanidade nos concede uma extraordinária importância: torna-nos, não simples receptores de mensagens divinas, de verdades perenes e eternas, mas interlocutores de Deus.
A leitura da Bíblia não é uma simples aprendizagem de verdades eternas sobre Deus e sobre o mundo criado, mas é sobretudo uma relação pessoal com o Deus da Aliança.
. A revelação que Deus nos faz, por meio da sua Palavra, não pode ser entendida apenas pela inteligência e guardada pela memória; deve ser também acolhida pelo coração, isto é, pela fé.
. Da leitura crente da Palavra de Deus deve nascer a oração cristã, como um efeito natural desse contacto com o Deus da Palavra; pois a oração cristã não pode ser outra coisa senão a parte humana da “conversa” que Deus quer entabular connosco.
Autor: Herculano Alves, diretor da revista Bíblica, professor de Sagrada Escritura na UCP e doutorado em Teologia Bíblica.