Depois de 40 anos de presença no Algarve, o Instituto das Religiosas do Sagrado Coração de Maria (IRSCM) vai deixar a diocese no início no próximo mês de agosto.

A decisão foi anunciada pelo pároco à paróquia de Silves, que contava com a presença das irmãs desde outubro de 1993, e prende-se com a reorganização do instituto religioso em Portugal para manter o serviço que as suas comunidades desenvolvem em várias dioceses do país, tendo em conta a crise de vocações consagradas que se vive.

No Algarve, o IRSCM começou por ter uma primeira comunidade em Monchique, onde esteve 32 anos, de 1980 a 2012. Abriu depois uma segunda comunidade em Aljezur, onde esteve 9 anos, de 1990 a 1999, e, por fim, rumou a Silves, onde está há quase 27 anos.

A diocese algarvia chegou assim a ter ao seu serviço e em simultâneo durante seis anos, de 1993 a 1999, três comunidades daquele instituto. Ao longo das quatro décadas, as irmãs do IRSCM colaboraram na catequese de crianças, jovens e adultos, em grupos bíblicos, na animação litúrgica, em visitas a doentes, idosos e pessoas sós, no acompanhamento de comunidades cristãs de zonas periféricas e no trabalho na pastoral prisional na penitenciária de Silves.

Só pela comunidade do IRSCM naquela cidade, e ao longo destes quase 27 anos, passaram 13 religiosas: as irmãs Amélia, Salete, Esperança, Maria Capela, Adelaide, Rosa Silva, Valvina, Teresa de Jesus, Fernanda, Rosa Peixoto, Cláudia, Leonilde e Maria Teresa. Atualmente restam as irmãs Maria Teresa Rios (coordenadora), Leonilde Silva e Rosa Peixoto, tendo estas duas trabalhado no Algarve em dois períodos distintos com interrupções pelo meio de serviço noutras dioceses. A irmã Leonilde Silva foi ainda docente de Educação Moral e Religiosa Católicas no 2º e 3º ciclos durante vários anos.

Ao Folha do Domingo, a irmã Teresa Rios explicou que anualmente “as responsáveis têm de fazer uma avaliação das presenças” e “ver as prioridades e os recursos humanos” disponíveis. “Há muito tempo que não entram jovens e as forças vão diminuindo e outras vão falecendo”, sustenta, acrescentando que a avaliação visa perceber “onde é que as forças estão a ser mais precisas e onde é que os grupos já estão mais fortalecidos para poderem caminhar sozinhos”.

A religiosa considera ser este o caso da paróquia de Silves. “Tentámos ir formando líderes para poderem assumir as responsabilidades que vão sendo pedidas. Felizmente já há gente com um bocadinho mais de capacidade de poder ajudar o pároco a levar a paróquia para a frente”, refere, acrescentando que o trabalho em Silves “deu oportunidade a que as pessoas fossem colaborando mais e se inserissem mais nos trabalhos paroquiais”.

Reconhecendo que “40 anos de presença no Algarve é bastante”, a consagrada faz um “balanço positivo”. A irmã Teresa Rios seguirá para a comunidade da Travessa das Freiras, em Lisboa, onde trabalhará no Bairro das Galinheiras, perto de Camarate. A irmã Rosa Peixoto continuará o seu trabalho numa Comunidade de Inserção, passando a viver na comunidade de Cabeço de Vide, no Conselho de Fronteira, Diocese de Portalegre-Castelo Branco e a irmã Leonilde Silva colaborará no Colégio do Sagrado Coração de Maria em Lisboa, assumindo a missão de coordenadora da comunidade da rua Manuel Damaia.

No anúncio à paróquia da saída do instituto, na eucaristia do passado domingo, o pároco de Silves realçou que “a saída das irmãs é uma grande perda” para a paróquia e lamentou que a sua saída não seja compensada com a vinda de novas colaboradoras devido à redução de vocações à vida religiosa. “Somos todos muito agradecidos às nossas irmãs por todo o trabalho aqui realizado”, afirmou o padre Nelson Rodrigues.

O sacerdote anunciou ainda que no dia 2 de agosto será celebrada uma eucaristia “de ação de graças” pelos quase 27 anos de presença e serviço das consagradas em Silves. A missa deverá ser celebrada, pelas 10h30, em local a anunciar brevemente.

O IRSCM tem atualmente 28 comunidades em Portugal, mas este ano para além de Silves irá encerrar mais uma.

Desde 2003, muitos institutos religiosos femininos fecharam comunidades no Algarve e o IRSCM será o quarto a deixar a diocese. Em 2005, a Congregação das Escravas da Santíssima Eucaristia e da Mãe de Deus fechou a única comunidade algarvia, sedeada desde 1991 em São Brás de Alportel, terminando assim a sua presença na diocese. Em 2014, a congregação das irmãs Franciscanas Hospitaleiras da Imaculada Conceição deixou também o Algarve. Em 2008 encerrou o Mosteiro Cisterciense de Santa Maria de Marana-Tha, sedeado em Santa Catarina da Fonte do Bispo, cujo projeto de fundação, embora tendo perdurado desde 1994, não chegou a vingar.