IGREJA SOU EU!

  1. SE A IGREJA FOSSE FORA DAS IGREJAS…

A igreja são os cristãos. Cada cristão é portador da Igreja. A Igreja é, antes de mais, comunhão de pessoas, animadas pelo Espírito de Cristo e pelo Evangelho. Não é, infelizmente, nas igrejas onde os cristãos habitualmente se reúnem, aos domingos, para a celebração da Missa, que a comunhão, como cumprimento do mandato do Amor, mais se testemunha. Infelizmente, a liturgia não ajuda muito a isso, nem é muito fruto disso.

O lugar próprio da Igreja, como testemunho da comunhão e da caridade, não é o templo mas o mundo onde os cristãos vivem: o mundo da família, o mundo do trabalho, o mundo do lazer… É sobretudo aí que o testemunho da comunhão mais convence, por ser encarnação de Cristo e do seu Evangelho na vida… Se é aí que o testemunho de Cristo mais convence e mais converte, á aí que os cristãos são mais Igreja e, como tal, mais sacramento (= sinal de Cristo)…

Cristo nunca se preocupou com a construção de igrejas ou sinagogas para testemunhar a presença de Deus na vida das pessoas e do mundo. Cristo nunca aconselhou os seus discípulos a construir igrejas ou sinagogas como lugares do testemunho da presença de Deus no mundo. Pelo contrário… «Os nossos Pais adoraram neste monte e vós dizeis que é em Jerusalém que se deve adorar. Jesus disse-lhe (à Samaritana): “Acredita-me mulher! Vai chegar a hora em que nem neste monte, nem em Jerusalém, adorareis o Pai… Vai chegar a hora e já chegou, em que os verdadeiros adoradores hão-de adorar o Pai em espírito e verdade, pois são esses os adoradores que o Pai deseja…”» (Jo 4,20-24).

Cristo prevê e prediz mesmo que os Apostólicos hão-de ser expulsos das sinagogas e dos lugares de culto, mas não do mundo: Excluir-vos-ão das sinagogas…» (Jo 16,2). Não é, pois, com a expulsão das sinagogas que acabará a Igreja: «Tu és Pedro e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja e as portas do inferno nada poderão contra ela… (Mt 16,18).

A verdadeira religião, para Cristo, consiste em dar testemunho d’Ele, sem medo nem vergonha: «Quem se envergonhar de Mim e das minhas palavras, diante desta geração adultera e pecadora, também o Filho do Homem se envergonhará dele, quando vier na glória de seu Pai, com os Santos Anjos» ((Mc 13,11).

A verdadeira Religião consiste em «afastar-se do mal e em praticar o bem».

O lugar próprio para o cumprimento desta religião e deste culto não são as igrejas, em que os cristãos se reúnem para a celebração dominical da Missa, mas todos os lugares em que eles vivem… O tempo próprio para o cumprimento desta religião e deste culto não é apenas a hora da Missa, aos domingos, mas todas as horas de todo o tempo…

Aliás, é este o significado das palavras com que o celebrante despede as pessoas, no final de cada missa: «Ide em paz! E que o Senhor vos acompanhe!» Ide fazer pelos outros e aos outros o que Cristo acaba de fazer por vós! Ide fazer comunhão com os outros, como Cristo acaba de fazer convosco! Deixai-vos comungar (comer) por eles, como Cristo se deixou comungar (comer) por vós! Sede o Corpo de Cristo, dado em comunhão aos outros, para poderdes voltar a comungar o Corpo de Cristo! Sede o que acabais de comer, para continuardes a comer o que sois: Corpo de Cristo!

O templo da grande liturgia cristã é o mundo. Foi ao mundo que Cristo nos enviou, antes de partir para o Pai: «Ide pois, ensinai todas as nações, batizando-as em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo, ensinando-as a cumprir tudo quanto vos tenho mandado. E eu estarei sempre convosco até ao fim do mundo» (Mt 28,19-20).

Sempre que os inimigos de Cristo pensaram destruir a Igreja, começaram por destruir e fechar as igrejas, proibindo nelas o culto. Mas nunca conseguiram destruir a Igreja nem o culto que cada cristão presta a Deus, no seu coração, nem o culto da caridade. É que a realidade da Igreja não são as igrejas, mas o amor com que os cristãos (se) amam «Vede como eles se amam!…».

  1. SERIA MAIS IGREJA DENTRO DAS IGREJAS

Quando se pergunta a alguém o que é a Igreja, recebe-se habitualmente a seguinte resposta: a Igreja é a casa de Deus… Confunde-se, assim, a Igreja (=comunhão dos Filhos de Deus) com a igreja (=templo, onde se reúnem os filhos de Deus, para louvarem o Pai Nosso, que está nos Céus).

O verdadeiro templo de Deus, a verdadeira casa de Deus é cada Cristão: «Não sabeis… que o vosso corpo é templo do Espírito Santo, que habita em vós, que recebestes de Deus e que não vos perteceis a vós mesmos?» (1 Cor 6,19). Se eu, pois, não trago Deus comigo, se o não levo para a igreja, quando vou à igreja, Ele não está, para mim, nas igrejas… Deus está nas igrejas e em toda a parte, se eu sou, nas igrejas e em toda a parte presença viva de Deus… O mesmo se pode dizer dos sacramentos: o proveito dos sacramentos depende da fé de quem os recebe. Os sacramentos não se recebem para termos fé, mas por termos fé. Que adianta batizar uma criança ou comungar o Corpo de Cristo, se não acredito que me torno filho de Deus (batismo) e me alimento do seu Corpo (comunhão)?

Na maioria dos casos, ninguém tem noção de ser Igreja. Para a maioria dos chamados cristãos, a igreja é o templo, o edifício, algo de exterior…

Tomemos um exemplo: a família e a casa. Ninguém confunde a família com a casa em que vive. Pode-se mudar facilmente de casa, mas ninguém muda facilmente de família. E porquê? Porque a família é algo de mais vital, para as pessoas, do que a casa. A família faz parte da essência de uma pessoa. Não é a mesma coisa ser pai ou mãe desta ou daquela criança; não é a mesma coisa ser marido ou esposa desta ou daquele… Mas, no fundo, tanto faz viver nesta como noutra casa qualquer, desde que se mantenha reunida a família.

Se os cristãos vivessem no mundo, como Igreja (=sem ser do mundo), como testemunhas da salvação trazida por Cristo, de certeza que haveriam de ser preferidos, em tudo, pelos outros. Todos gostariam de ter cristãos como vizinhos; todos gostariam de ter, como médico um cristão; todos gostariam de ser governados por cristãos; todos gostariam de comprar e vender a cristãos, porque todos o fariam com a convicção de não enganar nem ser enganado por ninguém; todos gostariam de ter cristãos como professores (e/ ou alunos) nas escolas…

 

 

Fonte: Jornal Actos

Autor: Pe. Domingos Monteiro da Costa, S.J.

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