Depois de ter cumprido um Programa Pastoral trienal, iniciado em 2017, a Diocese do Algarve estava a preparar um novo triénio pastoral que a conduziria até 2023, mas a pandemia de Covid-19 veio provocar uma alteração nos planos.

“A Igreja do Algarve considerou que seria adequado adiar, por um ano, a entrada no novo Triénio Pastoral para dedicar especial atenção àquilo que são as necessidades da Sociedade e da Igreja algarvia nos próximos meses, àquilo que efetivamente é possível e seguro realizar, e compreendendo o que é verdadeiramente essencial para o viver cristão”, pode ler-se na introdução ao Programa Pastoral para este ano de 2020/2021 que servirá de preparação para o próximo plano trienal adiado por um ano e que procura “apontar caminhos comuns que cada organismo da vida diocesana (de modo especial as paróquias e comunidades locais) deverá acolher, interpretar e implementar conforme a sua realidade, necessidade e capacidade”.

“A Igreja, chamada a ler os sinais dos tempos à luz do Evangelho e com a Sabedoria que vem de Deus, não pode fazer um caminho indiferente às circunstâncias em que vive a humanidade nem viver desencarnada da realidade em que se insere”, justifica o texto.

Na explanação do novo plano trienal, entretanto adiado, a diocese algarvia adianta que o “caminho sinodal de discernimento”, percorrido durante o último ano, evidenciou, através dos seus organismos colegiais, as suas “realidades prioritárias” que serão tidas em conta, sendo elas “a juventude”, “a iniciação cristã e (re)descoberta da fé”, “a espiritualidade” e “a formação dos leigos”.

No âmbito da juventude, apela-se a uma “urgente atenção e ação pastoral” com os jovens, no caminho para próxima Jornada Mundial da Juventude que decorrerá em Lisboa, entretanto também adiada para 2023.

A “iniciação cristã e na redescoberta da fé” são apontadas como “as duas áreas fundamentais em que se devem centrar esforços”. “Nestes inclui-se a necessidade de nos colocarmos, como Igreja, numa maior relação com a Sociedade, através do testemunho dos seus diferentes membros”, realça-se.

Relativamente à espiritualidade indica-se a “necessidade de continuar e reforçar o cuidado pela vida espiritual dos cristãos da Diocese, proporcionando-lhes, através de vários meios, o encontro com Deus e consigo mesmos”.

No que respeita à “formação dos leigos”, a “prioridade surge com o objetivo claro de se poder vir a lançar um novo estilo de dinamismo e liderança pastoral comunitária com uma crescente marca batismal /laical/ministerial”. “É, por isso, indispensável que se proporcione uma formação específica, não isoladamente, mas em ligação com as áreas anteriores”, refere-se.

Programa Pastoral 2020/2021

Com estas prioridades pastorais adiadas até setembro de 2021, a Igreja algarvia estabeleceu então as duas que irão ser tidas em conta já neste ano 2020/2021, que terá como tema “Recomeçar a partir de Cristo – «Tende coragem: não tenhais medo!» (Mc 6, 50)” e como objetivo geral “reedificar as comunidades cristãs a partir do essencial da vida em Cristo e fazer delas expressão de Fraternidade, Esperança e Caridade nas dificuldades da sociedade atual”.

São elas a “edificação da comunidade” e a “evangelização e transmissão da fé”. “Reconstruir e reorganizar as comunidades cristãs nos vários âmbitos pastorais, tendo presente que o tempo pandémico não só nos impôs grandes e graves alterações, como evidenciou a carência de adequação do nosso estilo pastoral face à situação presente e futura. É importante que as comunidades cristãs paroquiais se detenham num olhar e ação profundidas naquilo que é necessário refazer”, é pedido no âmbito da primeira.

Nesta reconstrução e reorganização comunitária, destaca-se como merecedoras de especial atenção a “transmissão da fé”, ao nível do catecumenado e catequese de infância-adolescência, da juventude e/ou grupos juvenis e da catequese de adultos e aprofundamento da fé; a “celebração da fé”, procurando “valorizar a participação e dinamização da Eucaristia dominical”, “recuperar o valor e necessidade do sacramento da Eucaristia, mormente a Missa dominical”, “reforçar a formação e ação dos ministros da palavra” e “apostar em equipas dinamizadoras da vida espiritual familiar”; e a “Caridade/Serviço”, sublinhando a necessidade de “dar continuidade ao trabalho das equipas de acolhimento” e de “fomentar a missão das equipas da Pastoral da Saúde em comunhão com as equipas/grupos de ação sóciocaritativa”.

No âmbito da segunda prioridade há quatro áreas em destaque: “a transmissão da fé e as novas gerações”, os “meios digitais”, a “caridade fraterna” e a “liturgia e espiritualidade”.

Relativamente à primeira é indicado que “as novas gerações (adolescentes e jovens) serão uma das prioridades na vida da Igreja do Algarve nos próximos anos”, “acompanhando o sentir da Igreja Universal e da Igreja em Portugal”. “Há que dar lugar a uma maior criatividade no modo de aproximação e acompanhamento para as fazer crescer numa verdadeira relação com Jesus Cristo”, refere o documento, rejeitando “compromissos comunitários eclesiais vazios” que não proporcionam um “verdadeiro encontro com Deus”. Nesse sentido, apela-se a “novas formas de estar com estas gerações, levando-as ao encontro íntimo e transformador com o Senhor”.

Sobre os meios digitais, apela-se à continuidade do “esforço implementado no acompanhamento das comunidades através dos meios e das redes digitais” e a “desenvolver nas comunidades cristãs a capacidade de atrair, acompanhar e alimentar a vida de fé a partir destes meios”. “Sem que nunca substituam a primazia da comunidade que se edifica de modo presencial, podem ser desenvolvidos no âmbito da complementaridade para a melhor prossecução da missão da Igreja atraindo os homens e mulheres do nosso tempo para Cristo”, acrescenta-se, exortando à “responsabilidade de possibilitar uma adequada formação para que a sua utilização ao serviço da evangelização não se torne uma presença a qualquer custo, mas um verdadeiro serviço de evangelização, enquadrado na restante vida comunitária cristã”.

Relativamente à caridade fraterna o Programa Pastoral defende ser “urgente que as comunidades cristãs, nos seus organismos próprios, reflitam e se deem conta de como esta pandemia está a afetar a vida das pessoas que vivem na área da Paróquia”. “É necessário que, onde ainda não existam, se desenvolvam de um modo organizado redes no Serviço da Caridade que acompanhem e encontrem possibilidades de solução para as situações difíceis que muitos atravessarão. Do mesmo modo, é importante que se estabeleçam relações sinceras com as várias entidades que trabalham neste campo”, concretiza.

O Programa Pastoral realça que “importa desenvolver meios de acompanhamento e ajuda que não fiquem somente pela dimensão material”, mas incidam também na dimensão espiritual “dos que vivem sós, isolados, idosos ou em situações de precariedade social, promovendo uma assistência integral da pessoa humana” e dos profissionais de saúde.

No âmbito da liturgia e da espiritualidade exorta a “continuar o trabalho que vinha a ser desenvolvido no que respeita à redescoberta da vivência eclesial em família como Igreja doméstica. “Este caminho de vida espiritual em família deve ser acompanhado, estimulado e desenvolvido por uma Equipa ou Grupo paroquial que promova e subsidie a sua realização”, sustenta, incitando a “continuar a fomentar a vida orante em família”.

O Programa Pastoral deste ano será apresentado na manhã do próximo sábado, 19 de setembro, em Assembleia Diocesana que terá lugar na igreja de São Pedro do Mar, em Quarteira, a partir das 10h. Por causa da pandemia, a participação presencial será reduzida um número meramente representativo da diocese, pelo que a assembleia será transmitida em direto na página do jornal Folha do Domingo na rede social Facebook.