Dia Mundial da Água: Francisco apela a defesa de bem universal, contra transformação de recursos hídricos em «mercadoria»

Jornada promovida pela ONU sublinha, em 2021, necessidade de «não deixar ninguém para trás»

Cidade do Vaticano, 21 mar 2021 (Ecclesia) – O Papa Francisco associou-se à celebração do Dia Mundial da Água (22 de março), afirmando que esta é um bem universal e não uma “mercadoria”.

“Para nós, crentes, a irmã água não é uma mercadoria, é um símbolo universal e é fonte de vida e saúde”, referiu, este domingo, no final da recitação da oração do ângelus, transmitida desde a biblioteca do Palácio Apostólico do Vaticano.

Francisco convidou os crentes a refletir sobre o valor de um “maravilhoso e insubstituível dom de Deus”, assumido a responsabilidade de o levar a todos.

“Demasiados irmãos, tantos, tantos irmãos e irmãs, têm acesso a pouca água e muitas vezes contaminada. É necessário assegurar a todos agua potável e serviços de higiene”, indicou.

O Papa deixou o seu encorajamento aos profissionais e responsáveis que trabalham para este objetivo “tão importante”.

“Penso, por exemplo, na Universidade de Água, na minha pátria, nos que trabalham para levá-la em frente, fazer compreender a importância da água. Muito obrigado”, acrescentou.

O Dia Mundial da Água, promovido pela ONU, lembra em 2021 a importância de “não deixar ninguém para trás”, sublinhando que o acesso à água e ao saneamento foi reconhecido internacionalmente como um direito humano, em resolução aprovada pela Assembleia Geral das Nações Unidas em 2010.

“Mesmo assim, mais de 2 mil milhões de pessoas continuam a viver sem água potável”, alerta a ONU.

O secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, assinala na sua mensagem para este 22 de março que “a água é vital para a sobrevivência e, juntamente com o saneamento, ajuda a proteger a saúde pública e ambiental”.

O responsável português destaca que o acesso à água “não deveria ser negado a ninguém”.

Em junho de 2020, o Vaticano apresentou um documento sobre a aplicação da encíclica ecológica e social ‘Laudato Si’ (2015), que incluiu entre as suas principais preocupações o acesso à água potável como “um direito humano fundamental e universal”.

‘A caminho para o cuidado da casa comum – Cinco anos depois da Laudato Si’ é o nome do documento, elaborado pela mesa interdicasterial da Santa Sé sobre a ecologia integral, que apela à “sobriedade” no consumo da água e à sua reutilização na higiene, usos domésticos e agricultura.

O texto defende a capacitação das comunidades locais, para promover a sua “autossuficiência hídrica”, e políticas que permitam um fornecimento de água potável “economicamente acessível”, chegando também a “quem não tem capacidade de pagar”.

O uso dos plásticos descartáveis aparece como um dos problemas identificados, sugerindo-se a utilização de “recipientes reutilizáveis e inócuos para a saúde humana”, em alternativa.

Em março de 2020, a Santa Sé tinha lançado o documento ‘Aqua fons vitae’ (Água, fonte de vida), no qual desafia as paróquias de todo o mundo a abandonar o uso de garrafas de plástico e a investir em sistemas amigos do ambiente.

“Em todas as paróquias, mosteiros, escolas, cantinas, oratórios e centros de saúde, a Igreja deve garantir o acesso à água potável e ao saneamento com sistemas que sejam amigos do ambiente, eficientes e compatíveis com as necessidades específicas dos utilizadores”, pode ler-se.

Francisco tem alertado para a possibilidade de uma “guerra mundial” por causa dos recursos hídricos, defendendo que a água é um direito “vital” de cada pessoa.

“Pergunto-me se nesta terceira guerra aos bocados estaremos a caminho da grande guerra mundial pela água”, assinalou em 2017, num encontro dedicado ao ‘direito humano à água’, na Academia Pontifícia das Ciências (Santa Sé).

A encíclica ecológica ‘Laudato Si’ dedica um ponto específico à “questão da água”, no qual o Papa recorda que “a pobreza da água pública” se verifica especialmente na África, onde “grandes sectores da população não têm acesso a água potável segura”.

“Um problema particularmente sério é o da qualidade da água disponível para os pobres, que diariamente ceifa muitas vidas”, alerta Francisco.

A encíclica manifestava a oposição da Igreja à “tendência para se privatizar” a gestão da água, como se esta fosse uma “mercadoria sujeita às leis do mercado”.

“Na realidade, o acesso à água potável e segura é um direito humano essencial, fundamental e universal, porque determina a sobrevivência das pessoas e, portanto, é condição para o exercício dos outros direitos humanos”, escreve o Papa.

OC

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