Dia da Mulher: Consciência de si e espiritualidade são caminhos de afirmação

Duas católicas olham para a importância do feminino na sociedade e na Igreja

Lisboa, 08 mar 2015 (Ecclesia) – A práxis da exortação apostólica «A Alegria do Evangelho», do Papa Francisco, é para Maria Teresa Vasconcelos o caminho que vai permitir a Igreja olhar de forma diferente para as mulheres.

“Se a Igreja quiser pôr radicalmente em ato a exortação apostólica do Papa, necessariamente vai emergir uma outra posição da Igreja em relação às mulheres”, afirma a professora aposentada à Agência ECCLESIA.

No âmbito do Dia Internacional da Mulher, que desde 1977 se assinala a 8 de março, a Ecclesia procurou perceber junto de duas católicas que olhar pode o feminino trazer à sociedade e à Igreja.

De acordo com a psicóloga Maria José Vilaça a mulher, na tentativa de “se tornar igual em tudo ao homem”, “esqueceu-se do que lhe é específico”.

“O corpo da mulher é um corpo que acolhe e o homem tem um corpo que dá. A consequência disto está na forma como nos relacionamos. Como mulher, compete-me acolher a vida dos outros e afirmar o seu valor”, afirma a presidente da associação de psicólogos católicos.

Para Teresa Vasconcelos, a “biologia” marca a “especificidade” da mulher, traduzindo uma maternidade que não implica “dar à luz um filho”.

“Nunca tive filhos, com pena, mas ao mesmo tempo muito contente com a vida que tive, sentindo que a maternidade se realiza de muitas maneiras. E na certeza de que, enquanto mulher, o meu contributo foi específico”, traduz a membro do movimento GRAAL.

Para a professora, a paridade “faz sentido” enquanto “justiça social, dignidade humana e oportunidades para todos”.

Maria José Vilaça gostaria de ver a mesma vontade em afirmar o “específico da vocação feminina”, tal como há anos atrás “se lutou pelo voto e por direitos iguais no mercado de trabalho”.

A especificidade feminina é notada pelas duas mulheres, escutadas pela ECCLESIA, na espiritualidade.

“A mulher, talvez porque tem mais consciência da sua fraqueza física, está mais apta a colocar-se como dependente de Deus. É uma forma de estar na relação com Deus que a Igreja pode aprender das mulheres, mas para isso tem que a reconhecer também”, explicita Maria José Vilaça.

Para Maria Teresa Vasconcelos, a mulher, “eventualmente por causa do seu corpo e da sua ligação à terra”, de uma “característica imanente que é o cuidar das coisas vivas”, tem “a nível espiritual, um grande contributo a dar à Igreja”.

De acordo com a psicóloga, “as mulheres apenas pedem à Igreja que as deixem ser mulheres”.

“As mulheres que eu conheço preocupam-se em afirmar o valor da Igreja e afirmar Deus através do seu trabalho e isso é que é o que é característico feminino. Não estão à procura de vitórias suas ou de lutas de poder, mas de afirmar um Outro, sempre”.

Maria Teresa de Vasconcelos gostaria que a Igreja “escutasse de forma atenta e em profundidade as mulheres”.

A professora aposentada aponta “excelentes teólogas” que estão a contribuir “de forma decisiva” para ajudar a mudar uma “teologia mais tradicionalmente praticada pelos homens” e afirma o desejo de uma Igreja “menos hierarquizada”: “Não me interessaria ter mais poder do que o que tenho nas estruturas presentes que são extremamente hierarquizadas e onde as questões da paridade muitas vezes terminam com uma palavra dogmática dizendo que nada vai mudar”.

Para Maria Teresa de Vasconcelos não é a instituição do sacerdócio feminino e a simples paridade que vai mudar as estruturas: “As estruturas mudarão se as mulheres, depois de uma profunda reflexão, também ética, sobre si mesmas, exercerem as suas funções de forma diferente e específica”.

A conversa com Maria José Vilaça e Maria Teresa de Vasconcelos pode ser acompanhada no programa Ecclesia, este domingo, na Antena 1 (06h00).

LS

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