Dá-nos o Pão

As três primeiras petições do Pai-Nosso dizem respeito a Deus, ao seu nome, ao seu, reino, sua vontade. É evidente que nelas é o próprio homem que está em jogo. Na medida em que as reza e se esforça por vivê-las o homem enriquece-se, agiganta-se, enche-se mais de Deus.

Mas que Pão?

O contexto em que está inserida esta oração no evangelho de São Mateus, leva-nos a pensar que não se trata só nem exclusivamente do pão material, alimento corporal. Há um outro sentido, metafórico, espiritual que deve ser tido em conta e que a maioria dos autores e estudiosos da Sagrada Escritura afirmam estar em primeiro lugar. A prece diz respeito ao pão espiritual, alimento sobrenatural dos filhos de Deus. Um sentido não exclui o outro, mas o segundo – alimento espiritual – toma, sem dúvida, maior importância e uma maior necessidade e urgência.

Não pretendemos entrar em descrições exegéticas procurando o significado das palavras. Não é a nossa competência, nem isso interessava à grande maioria dos nossos leitores. Proponhamos, contudo, à luz da Palavra de Deus, algumas considerações que podem enriquecer-nos e ajudar a compreender melhor o texto.

Quando na Escritura Sagrada aparece o nome do alimento «pão», quase sempre, ou pelo menos muitas vezes, significa a totalidade dos alimentos de subsistência para o homem. Por exemplo, quando no livro do Génesis, aparece a expressão: «ganhar o pão com o suor do seu rosto», aqui pão significa não só todo o alimento, mas tudo aquilo que é necessário para viver.

Por outro lado, nos Evangelhos, o pão, o alimento, tem por vezes um sentido simbólico. «Feliz aquele que comer o pão no reino de Deus». Aqui pão é símbolo da felicidade celeste, da bem-aventurança eterna.

Também em Mateus: «Não convém tomar o pão dos filhos e deitá-lo aos cães», a palavra pão, pelo contexto do diálogo e do ensinamento de Jesus, não significa o alimento, mas algo de sobrenatural, de vida divina, de realidade transcendente.

O pão da vida

Todo o longo e belíssimo discurso do pão da Vida que São João nos relata no capítulo VI do seu Evangelho nos faz penetrar noutros sentidos da palavra pão. Com base na multiplicação que se tinha realizado na véspera, Jesus fala do Pão da Vida. Este, em primeiro lugar, significa a própria Pessoa de Jesus. Depois é, sem dúvida nenhuma, designação da Eucaristia: «o pão que eu darei, é a minha carne para a vida do mundo».

Mas os outros autores encontram ainda outro significado simbólico com profundas raízes bíblicas. O pão significa também a Sabedoria. Procura-la como alimento que sacia. É este o sentido, por exemplo, de Isaías: «Todos vós que tendes sede, vinde à nascente das águas. Vós que não tendes dinheiro, vinde, comprai e comei. Vinde e comprai, sem dinheiro e sem despesa, vinho e leite».

Com base noutros textos podemos também concluir que o pão, como alimento espiritual é designação da Palavra de Deus. Esta é verdadeiro alimento que sacia o homem e este deve procura-la e alimentar-se de toda a palavra que sai da boca de Deus. É exatamente este texto que Jesus cita respondendo ao tentador no deserto.

Concluindo, podemos dizer que além do sentido normal de pão, alimento feito de farinha, a palavra é usada como resumo de todas as espécies de alimentos e de tudo o que é necessário para viver. Há depois um sentido espiritual em que pode significar o Pão Eucarístico, a Sabedoria, a Palavra de Deus. Mas qual dos sentidos é expresso na súplica do Pai-Nosso? O mais natural é que sejam os dois. Pedimos a Deus o alimento corporal e também o espiritual: pão eucarístico, sabedoria divina, a Palavra que alimenta e dá vida. E o pão espiritual, alimento de vida eterna, é mais urgente, mais necessário, mais vivificante.

Depois de ter pedido na primeira parte da oração algo de divino, de grandioso, e continuando depois na mesma dimensão a pedir o perdão e que nos livre do mal, não seria normal que o meio da prece se pedisse só algo de puramente material. E mesmo se a súplica do pão diz respeito de algum modo, ao alimento material é também para não nos esquecermos que tudo vem de Deus.

«O pão nosso de cada dia nos dai hoje!» Que esta petição, por nós tantas vezes repetida, seja cada vez mais um grito espiritual de quem acredita firmemente que só o Pão da Vida nos pode saciar.

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