Creio na alegria

Caminha para o fim a Semana dos Seminários, este ano centrada num desafio: servir a alegria do Evangelho. Sei que esta é uma proposta do papa Francisco para toda a Igreja. Mas julgo de todo adequado que os candidatos ao sacerdócio ou os que, depois de terem dito Sim, diariamente revisitam a sua vocação lhe dediquem especial cuidado.

Pessoalmente não creio em entregas tristes, que martirizam o próprio e são contratestemunho para quem deveria ser provocado por vidas iluminadas e luminosas, porque agradecidas.

A tristeza como rosto – diria como opção, como estado – é uma forma grave de infidelidade; mesmo quando outras manifestações estejam ausentes. De facto – se me perdoam a metáfora – não basta que a porta esteja devidamente enquadrada no caixilho; urge também que abra e feche sem ruídos permanentes e não passe os dias e as noites a ranger, tocada por uma qualquer corrente de ar…

Não, não estou a falar de ausência de dificuldades, nem a dizer que estão esconjuradas todos os dias de neblina – mormente nestes tempos tão complexos. Também não tenho qualquer simpatia por patetas alegres, nem confundo a alegria com mero optimismo. Estou, isso sim, seriamente tocado pela definição que o Papa Francisco dá de alegria (EG,6): é «um feixe de luz que nasce da certeza pessoal (…) de sermos infinitamente amados». E de sermos chamados.

Assim definida, percebe-se que não requeira condições extraordinárias e seja feita de pequenas coisas (Eg,7). Como se percebe, também, que quem realmente a vive não a possa esconder: quem se sente amado não tem cara de funeral (EG, 10), não se fecha em pessimismos estéreis (EG, 84). Pelo contrário: comunica, partilha, frutifica e festeja (EG, 24). Aliás, já Bento XVI tinha também percorrido este caminho da proposta da alegria, escrevendo na Exortação Apostólica “Verbum Domini(n. 2), de 30 de Setembro de 2010: «é dom e dever imprescindível da Igreja comunicar a alegria que deriva do encontro com a Pessoa de Cristo, Palavra de Deus presente no meio de nós. Num mundo que frequentemente sente Deus como supérfluo ou alheio, confessamos como Pedro que só Ele tem «palavras de vida eterna» (Jo 6, 68). Não existe prioridade maior do que esta: reabrir ao homem actual o acesso a Deus, a Deus que fala e nos comunica o seu amor para que tenhamos vida em abundância (cf. Jo 10, 10)». O Apóstolo Paulo assumiu claramente esta tarefa e, por isso, perante os Coríntios, «firmes na fé», o Apóstolo Paulo propôs-se como servidor da sua alegria (2 Cor 1,24).

Voltando ao princípio: esta Semana dos Seminários, com o seu tema de fundo, apresentou-nos um programa exemplar: viver a alegria da caridade de nos entregarmos aos outros; manifestar o entusiasmo de nos sabermos chamados não a uma profissão ou a um serviço qualquer, «mas a um serviço que participa de maneira absolutamente especial e com um carácter indelével no poder do sacerdócio de Cristo» (Paulo VI, “Mensagem aos sacerdotes”, 30 de Junho de 1968).

Apresentando a tranquilidade de um coração enamorado, o mundo poderá ver em nós o rosto de Cristo. E ao mundo poderemos dizer com Santo Agostinho: «a nossa ciência é Cristo e a nossa esperança também é Cristo» (De Trinitate, 13, 19, 24).

João Aguiar Campos,

Secretariado Nacional das Comunicações Sociais

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