Como é tão difícil ser cristão… hoje

Há quem pense que ser cristão é “ser” de Cristo, e não pensa mal, mas não chega. A minha experiência é que ser cristão é “ser” Cristo. Esqueçam o “de”… o que torna as coisas mais difíceis num mundo cheio de atracções.

Ser Cristo hoje não é ser como Jesus era no tempo em que esteve entre nós. O mundo era diferente. Não havia a capacidade de comunicação que temos hoje, ou o acesso a educação, livros e entertenimento. Não se viajava para o outro lado do mundo num dia, ou se comprava um livro saído num outro continente com um toque do nosso dedo. O mundo esteve sujeito a 2000 anos de evolução cultural. Por isso, Deus convida-nos a sermos “outros Cristos” em cada dia, não com a mentalidade ou cultura de ontem, mas a de hoje, e aí surgem as dificuldades.

Além da evolução cultural, estamos, também, na onda de uma evolução tecnológica associada aos últimos 10 anos que não tem precedentes na história da humanidade. Quase de um momento para o outro, o acesso a uma quantidade indigerível de informação passou a fazer parte do nosso quotidiano. A leitura de livros não se restringe a um exemplar em papel, mas podemos começar a ler no tablet, alterar para o smartphone porque saímos de casa, ou mesmo “ler” livros ouvindo-os através de audiobooks enquanto caminhamos.

As mensagens são praticamente instantâneas, mesmo quando estamos separados por 1800km. Nos países mais industrializados, o acesso a comida – dita – rápida é relativamente em conta, existe em abundância e a generosidade manifesta-se de cada vez que ocorrem iniciativas como as do Banco Alimentar.

Existem também muitas assimetrias, mas o número pessoas envolvidas para as resolver nada se compara com o que existia no tempo de Jesus e dos primeiros Apóstolos. Talvez seja difícil perceber como num mundo que, em muitos, muitos aspectos, está melhor, seja tão difícil ser-se “outro Cristo.”

O que é essencial para se ser “outro Cristo” hoje?

Amar.

Também não era fácil amar no tempo de Jesus, e o modo como se falava do amor não devia ser o mesmo que hoje. Reparem como se fala tanto de amor com tantos e variados pontos de referência. Mas se desejamos ser um “outro Cristo”, amar tem apenas um ponto de referência.

Amar é dar-se totalmente.

Não é só sentimento, nem apenas decisão. É sentimento, decisão e muito mais com muito menos.

É o simples acto de dar-se totalmente à Vontade de Deus no momento presente. Requer uma atenção plena e aqui está a razão da dificuldade. Pois, vivemos na cultura mais distractiva de sempre.

Estamos de tal modo ligados virtualmente a tanta coisa que temos uma sensação virtual de proximidade que nos afasta da proximidade dos relacionamentos reais com os outros, com a natureza e, até mesmo, com Deus.

Nos últimos tempos tenho tomado conhecimento do quanto as redes sociais destroem as famílias ao iniciarem vidas paralelas. Imersos em foto após foto, comentário atrás de comentário, insta-story após insta-story, os momentos de pausa, silêncio e de um simples olhar à nossa volta estão cada vez mais ausentes da nossa vida. Só posso fazer a experiência de ser um outro Cristo se estiver atento ao meu próximo, ao que está ao meu lado em cada momento.

Podemos começar com 10 coisas “ridiculamente” simples:
1.Não olhar para écrans 1h antes de deitar.
2.Quando nos sentimos enfastiados e a mão vai ao bolso para tirar o smartphone: parar! Olhar durante 1min para quem está à nossa volta e, se não houver ninguém, exploremos o ambiente onde estamos.
3.Meter o smartphone em modo de voo durante as refeições e quando dormimos. Nas refeições focamo-nos nas pessoas. Se em modo de voo enquanto dormimos, descansamos melhor.
4.Se formos à missa em família, levar apenas um telemóvel, ou nenhum.
5.Telefonar mais aos outros, em vez de enviar mensagens.
6.Mais texto nas mensagens e menos emojis.
7.Jejuar um dia por semana de redes sociais, de preferência ao Domingo, e jogar em família ou com os amigos.
8.Procurar sempre o positivo divulgado nas redes sociais e aí fazer “Like.”
9.Colocar para sempre o smartphone em modo de vibração.
10.Eliminar as notificações e marcar um horário para nos dedicarmos, não mais do que 15 minutos, às redes sociais e Chats (Messenger, WhatsApp, etc.)

 

Fonte: http://www.agencia.ecclesia.pt

Miguel Oliveira Panão (Professor Universitário), Blog & Autor

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