A Expo 2015, que se realiza em Milão (Itália) até dia 31 de outubro, tem por tema «Nutrir o planeta, energia para a vida». Uma ocasião propícia, como afirmou o Papa Francisco, para mudar de mentalidade e garantir uma alimentação saudável, segura e suficiente para todos.
A Expo Mundial, segundo os organizadores, pretende ser «uma vitrina mundial» e «mostrar o melhor das suas tecnologias para dar uma resposta concreta a uma necessidade vital: garantir uma alimentação saudável, segura e suficiente para todos os povos, respeitando o planeta e o equilíbrio dos seus ecossistemas». O evento é, sem dúvida, uma ocasião para que cidadãos e organizações pensem sobre os problemas da alimentação no planeta.
Mas no tema da alimentação existem alguns paradoxos. O mais evidente é que há alimentos para todos, mas nem todos podem comer. No mundo, as pessoas que passam fome são 805 milhões, segundo os dados da FAO. Existe comida suficiente para todos, mas persiste um problema no aceso aos alimentos, que estão disponíveis apenas para aqueles que têm meios para os comprarem.
Igualmente paradoxal é o facto de que ao lado de 800 milhões de famintos, vivem 500 milhões de obesos e mais de mil milhões de pessoas com peso a mais. Cerca de 65% da população mundial vive em países onde as consequências do excesso de alimentos fazem mais vítimas do que a desnutrição. Além disso, persiste o escândalo do desperdício alimentar. Conta-se por toneladas a quantidade de comida que se transforma, diariamente, em lixo. Um insulto para quem padece fome e um esbanjamento dos dons da criação.
UM GRANDE ESCÂNDALO DA HUMANIDADE
No dia da inauguração da Exposição, o Papa Francisco denunciou, precisamente, o «paradoxo da abundância» e acultura do desperdício e do descarte. Fez um apelo para globalizar a solidariedade. «Façamos que esta Exposição Universal seja uma ocasião propícia de mudança de mentalidade; que mude o modo de pensar que as nossas ações quotidianas – em seus diversos níveis de responsabilidade – não têm impacto sobre a vida das pessoas, próximas ou distantes, que têm fome e não se alimentam de modo digno para um ser humano. Estou a pensar em tantos homens e mulheres que sofrem de fome, e, em particular, na multidão de crianças que morrem de fome».
Em nome dos pobres, que «com dignidade, buscam ganhar o pão com o suor do seu rosto», o bispo de Roma afirmou: «O meu desejo é que esta experiência permita aos empresários, comerciantes e estudiosos, sentir-se envolvidos num “grande projeto de solidariedade”: o de nutrir o planeta, no respeito de cada homem e mulher que nele habita e no respeito do ambiente natural. Eis o grande desafio ao qual Deus chama a humanidade deste século XXI: parar, finalmente, de abusar do jardim que Deus nos confiou, para que todos possam comer dos frutos deste jardim. Assumir tão grande projeto é dar plena dignidade ao trabalho de quem produz e de quem pesquisa no setor alimentar»
A Expo Milão 2015 ajuda a pôr em evidência uma realidade injusta, cruel e escandalosa da história da humanidade: a pobreza e a fome caminham lado a lado com a obesidade e o desperdício. Milhões de seres humanos, nossos irmãos, não têm direito à alimentação, mas não é por falta de alimentos. A terra é fértil e generosa. O que falta é repartir o pão de cada dia na paz e na fraternidade, como lembra o Papa Francisco.
Fonte: Jornal bimestral Família Comboniana nº 236| julho/agosto de 2015
Autor: Irmão Bernardino Frutuoso