A VOZ DE DEUS

Quando Nosso Senhor falava do Espírito Santo aos Apóstolos, eles não pediam explicações, embora se mostrassem intrigados: porque é que o Mestre tinha de abandoná-los? Porque havia de vir Outro em seu lugar? Aliás, quem O podia substituir? Não, a promessa não lhes dava consolo. Pelo contrário: se a condição prévia da vinda do Espírito Santo era o seu distanciamento, como haviam de a desejar?

Ainda não conheciam Deus como Trindade de Pessoas. Aí estava uma das razões pelas quais era precisa uma manifestação separada da terceira Pessoa, distinta da do Verbo. Mas eles não podiam compreender; só aceitar, resignadamente, a promessa de Jesus. Que alegria lhes seria possível longe dEle? Depois de O terem confessado como o mesmo Deus, em perfeita unidade com o Pai; depois de aceitarem o desafio estranhíssimo da Sagrada Eucaristia – comer a sua Carne! beber o seu Sangue!… –, que provocou o abandono de quase todos os discípulos… que mais lhes pedia o Senhor? Que se alegrassem com a sua partida!?

O desconcerto da Cruz ainda mais os abalou: porque não Se defendeu? Algum gesto tiveram eles para repelir os atacantes, mas a surpreendente passividade de Jesus, e até uma cortante repreensão, só lhes deixaram a alternativa de fugir, estonteados…

E estonteados deambularam até à Ressurreição. Então, que alegria! Ao longo daqueles quarenta dias, com que anseio esperavam os benditos reencontros com o Mestre numa intimidade maior do que nunca! Já em paz, resignaram-se à partida do Senhor e, aconchegados na fé e no amor de Maria, esperaram com serenidade «o Grande Desconhecido».

O que antes receavam aconteceu no Pentecostes. De repente compreenderam o anseio do Mestre. Antes, não podiam imaginar intimidade maior do que a proximidade familiar, física, do Senhor; de súbito, viram-se mergulhados no seu próprio Espírito! Dentro do seu Coração! E a paixão pelo Paráclito levou-os pelo mundo fora a anunciar a Boa-Nova, de tal maneira que assim se tem chamado aos «Actos dos Apóstolos»: o «Evangelho do Espírito Santo».

«Já recebestes o Espírito Santo?», era a primeira pergunta aos neófitos. «Nem sequer ouvimos dizer que há Espírito Santo!» (cf. Act 19, 2). S. João Paulo II conta que algo de semelhante lhe aconteceu: seu pai admirou-se ao entender que o filho não costumava recorrer à luz do Paráclito quando tinha de tomar alguma decisão na vida.

Nós já recebemos o Espírito Santo. Ele fala connosco constantemente, naquilo a que chamamos «voz da consciência» (cf. CIC, 1776). Ninguém fala tanto connosco como Ele. Não vemos Deus, mas, ouvi-Lo, ouvimos, às vezes com autênticos brados: – «Isso não se faz!» Outras vezes, suave, de aviso ou sugestão. Outras, de aprovação, de ânimo… de agradecimento!

Por mais surdos que queiramos ser à sua voz, por mais interferências que a perturbem, ela nunca se apaga. Não desiste. Bendito e louvado seja o nosso divino Consolador, Amigo, Advogado, Companheiro!

 

 

Fonte: Celebração Litúrgica 

Edição nº 3 | Tempo Pascal | Abril/Maio 2018 

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