Um senhor já de certa idade veio à clinica onde trabalhou para tratar uma ferida na mão. Via-se bem que estava com bastante pressa e, enquanto lhe tratava a ferida, perguntei-lhe se era muito urgente aquilo que tinha de ir fazer. Disse-me que, naquela manhã, queria ir, quanto antes, a um lar de idosos levar uma flor à sua esposa que lá estava internada e fazia anos naquele dia. Contou-me que ela estava naquele lar havia já bastante tempo, com a doença de Alzheimer muito avançada.
Quando estava a acabar de colocar um penso na ferida, perguntei-lhe se a esposa ficaria muito preocupada caso ele tardasse em chegar.
-Não- respondeu-me.
-Ela não sabe quem eu sou. Visito-a com muita frequência.
Vou vê-la, praticamente, todos os dias; só quando, de todo, o meu trabalho mo impede é que não a visito, mas ela há quase cinco anos que não me reconhece.
Admirado perguntei-lhe:
-Então, se ela não sabe quem o senhor é, porque é que sente necessidade de visitar com tanta frequência, como acaba de dizer?
Sorriu e, dando-me uma palmadinha na mão, disse-me:
-Ela não sabe quem eu sou, mas eu ainda sei muito bem quem ela é, e não posso deixar de lhe levar hoje uma flor muito bonita, como prenda dos seus anos.
Tive que conter as lágrimas. Enquanto ele saía, pensei: esta é a classe de amor que quero para a minha vida.
Para refletir:
O verdadeiro amor não se reduz ao físico ou ao romântico: é a aceitação de tudo o que o “outro” é, do que ele já foi, do que virá a ser e do que nunca poderá vir a ser.
Fonte: Rosário de Maria – ano 72| nº 760| julho de 2016
Autor:
Adaptado por: Frei Domingos N. Martins,op