11 de maio de 2025 – 4º Domingo da Páscoa – Ano C | Domingo do Bom Pastor | É belo deixar-se levar, mas por quem?

A terra de Israel é em grande parte montanhosa e usada para a pastorícia. Guardadores de rebanhos foram Abel, Abraão, Jacob, Moisés, David. Não deve, portanto, causar admiração que na Bíblia apareçam com frequência imagens da vida pastoril. Deus é chamado «pastor de Israel»: conduz o seu povo como um rebanho, trata-o com amor e solicitude, guia-o para pastagens abundantes e fontes de água fresca. Também o Messias é anunciado pelos profetas como um pastor que apascentará Israel: «Dar-lhes-ei pastores que as apascentarão … farei brotar de David um rebento justo que será rei, governará o país com sabedoria e exercerá no seu país o direito e a justiça».

Jesus faz referência a esta imagem quando um dia, saindo do barco, vê uma grande multidão que tinha acorrido a pé para ouvir dele uma palavra de esperança. Marcos diz: «Teve compaixão deles, porque eram como ovelhas sem pastor».

No Evangelho de João, Jesus apresenta-se como o pastor esperado, como aquele que conduzirá o povo ao longo do caminho da retidão e da fidelidade ao Senhor.

O quarto Domingo de Páscoa é denominado Domingo do Bom Pastor porque nele, todos os anos, a liturgia propõe um trecho do capítulo 10 de João, no qual Jesus se apresenta como o verdadeiro pastor. Os quatro versículos que lemos no Evangelho de hoje são tirados da parte conclusiva do discurso de Jesus e pretendem ajudar-nos a entender ainda melhor o significado desta imagem bíblica.

Começamos por precisar o seguinte: quando falamos de Jesus bom pastor, a primeira imagem que nos vem à mente é a do Mestre que tem às costas ou entre os braços uma ovelha. É verdade: Jesus é bom pastor também no sentido em que vai à procura da ovelha perdida, mas esta é a reprodução da parábola que se encontra no Evangelho de Lucas.

O bom pastor de que se fala no Evangelho de João não tem nada a ver com esta imagem doce e terna. Jesus não se apresenta como aquele que acaricia a ovelha ferida, mas como o homem duro, forte, decidido que se bate contra os bandidos e contra os animais ferozes, como fazia David que seguia o leão e o urso que lhe levavam uma ovelha do rebanho, os abatia e lhes arrancava a presa da boca. Jesus é bom pastor porque não tem medo de lutar até ao ponto de dar a própria vida pelo rebanho que ama.

A primeira afirmação que faz é fortíssima: as minhas ovelhas – diz – nunca hão-de perecer e ninguém as arrebatará da minha mão. A sua salvação é garantida não pela sua docilidade, pela sua fidelidade, mas pela sua iniciativa, a sua coragem, o seu amor gratuito e incondicional. Este é o grande anúncio! Esta é a grande notícia que Vem da Páscoa e que o cristão deve comunicar a cada pessoa. Também a quem errou tudo na vida Ele deve assegurar: as tuas misérias, as tuas faltas, as tuas escolhas de morte não conseguirão derrotar o amor de Cristo.

A segunda imagem, a das ovelhas, deve ser esclarecida porque pode suscitar um certo mal-estar. Por quem é constituído o rebanho que segue o «bom pastor»? a alguém poderia surgir espontânea a resposta: pelos leigos que acolhem docilmente e põem em prática todas as disposições do clero. Pastores seriam então as hierarquias eclesiais, enquanto que ovelhas seriam os simples fiéis.

Esclarecemos isto: o único pastor é Cristo e é-o porque  – como sublinhamos na segunda leitura – Ele é o Cordeiro que imolou a própria vida. Suas ovelhas são todos aqueles que têm a coragem de seguir neste dom da vida. O pastor, é portanto, um Cordeiro que partilha em tudo a sorte do rebanho.

Umas das tentações mais frequentes dos cristãos é a de se identificarem a si mesmos com o rebanho de Cristo. Existem zonas de sobra na Igreja que se excluem a si mesmas do Reino de Deus porque nelas medra o pecado, enquanto que há margens enormes, para lá dos confins da Igreja, que fazem parte do Reino de Deus porque aí opera o Espírito Santo. A ação do Espírito Santo manifesta-se no impulso ao dom da vida pelo irmão: «Quem permanece no amor permanece em Deus e Deus nele».

Pode ser discípulo do bom pastor também quem, mesmo não conhecendo Cristo, se sacrifica pelo pobre, prática a justiça, a fraternidade, a partilha dos bens, a hostilidade, a fidelidade, a sinceridade, a recusa da violência, o perdão dos inimigos, o empenho pela paz. Isto deveria chamar a atenção a muitos cristãos que se embalam em autocondescendências que poderiam revelar-se no final trágicas ilusões. O Pastor poderá, um dia, inesperadamente, dizer a alguns deles: «Não sei de onde sois».

A ostentação de segurança, a desconfiança preconcebida em relação aos membros da comunidade e os preconceitos para com os que não acreditam estão ainda hoje tão radicados e são tão perniciosos como o falso irenismo.

Como é que nos tornamos membros do rebanho que segue Jesus? O que acontece às ovelhas que lhe são fiéis? O Evangelho de hoje afirma que não somos nós a tomar a iniciativa de o seguir, é Ele quem chama: «As minhas ovelhas escutam a minha voz. Eu conheço as minhas ovelhas e elas seguem-me».

Os discípulos de Jesus vivem neste mundo, habitam entre os homens. Ouvem muitos chamamentos e recebem até mensagens desencaminhadoras. São muitos os que assumem atitudes de pastores, que prometem vida, bem-estar, felicidade e convidam a segui-los. É fácil ser-se enganado por charlatões. Como reconhecer entre tantas vozes, a voz do verdadeiro Pastor? É necessário habituar o ouvido. Quem ouve por uns cinco minutos uma pessoa e depois durante um ano nunca mais a ouve, dificilmente poderá distinguir a sua voz no meio da multidão. Quem ouve o Evangelho uma só vez ao ano, não aprende a reconhecer a voz do Senhor que fala.

Não é fácil confiar em Jesus porque Ele não promete sucessos, triunfos, vitórias, ao contrário do que fazem todos os outros pastores. Pede o dom de si, exige a renúncia à procura do próprio interesse, pede o sacrifício da vida. E no entanto – assegura – este é o único caminho que leva à vida eterna. Não há atalhos; quem indica outras estradas está a fazer batota e conduz à morte.

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