A Solenidade do Santíssimo Corpo e Sangue de Nosso Senhor Jesus Cristo – popularmente designada como Corpo de Deus – nasceu na Igreja em plena Idade Média, como um grito de fé e amor, perante o silêncio do Mestre Divino em nossos Sacrários, e como um alerta para despertar os cristãos da frieza e sonolência diante deste dom e mistério inefável.
1. Deus está aqui
Vamos a caminho do Céu. «Moisés falou ao povo, dizendo: «Recorda-te de todo o caminho que o Senhor teu Deus te fez percorrer durante quarenta anos no deserto, para te atribular e pôr à prova, a fim de conhecer o íntimo do teu coração e verificar se guardarias ou não os seus mandamentos.»
A peregrinação dos Hebreus através do deserto, no meio de dificuldades, tentações, perigos e carências é uma figura da nossa caminhada da terra para o Céu. Temos uma meta, um destino: a Terra da Promissão, onde corre o leite e o mel.
Não vamos ficar para sempre na terra, nem gostaríamos de ficar, porque encontramos muitas limitações nesta vida. Estamos imensamente agradecidos ao Senhor pelo dom da vida humana, e também porque nos chama a uma felicidade eterna, com os Anjos e os Santos, na qual Ele mesmo será a nossa felicidade, a nossa paz e alegria.
• Experimentamos tribulações. Deste modo, não nos instalamos na vida. Sabemos que vivemos uma situação provisória. O Senhor dá-nos a possibilidade de as transformar em riqueza de valor infinito para a vida eterna.
Das tribulações que experimentamos, umas são o resultado da nossa condição limitada. Não somos deuses, e o nosso organismo vai-se desgastando; outras são procuradas por nós próprios, quando nos afastamos de Deus e nos deixamos aprisionar pelo pecado e pelo demónio; há ainda outras que são causadas por nós uns aos outros. São as pessoas — possivelmente também nós — que transformamos a vida presente num mundo de sofrimento desnecessário.
• As provas. A vida presente é um tempo de provação, como a competição desportiva o é para o aleta. Nenhum deles se queixa da prova, porque sabe que ela lhe oferece a possibilidade de conquistar um troféu.
As dificuldades aproximam-nos mais de Deus, e levam-nos a esperar d’Ele a ajuda indispensável. São provas que intensificam a confiança em Deus, e nos estimulam a amá-l’O mais, se as soubermos aproveitar.
A confiança é necessária quando não vemos a solução dos nossos problemas e continuamos à espera de que o Senhor encontrará a solução exacta. Não pensávamos qual era, mas esta é ainda melhor do que pensávamos.
Não estamos mentalizados de que nos encontramos em tempo e espaço de provação e, por isso, à menor contrariedade, perdemos a calma.
2. Pão da Vida
a) Alimento da Vida em Graça. «Naquele tempo, disse Jesus à multidão: “Eu sou o pão vivo descido do Céu. Quem comer deste pão viverá eternamente. E o pão que Eu hei-de dar é a minha carne, que Eu darei pela vida do mundo”.»
Jesus Cristo quis ficar na Santíssima Eucaristia sob a aparência do pão e do vinho, para nos ajudar a compreender que Ele é verdadeiro Alimento da vida da graça que trazemos em nós desde o Baptismo.
Enquanto estamos neste mundo, a Graça Santificante tem de ser alimentada e defendida dos perigos que atentam contra ela.
Neste Alimento divino, não é o alimento que se transforma na pessoa, como acontece com os alimentos da vida natural mas é a pessoa em graça que se transforma no Alimento, em Jesus Cristo.
É, na verdade, uma humildade suprema que Jesus Se queira fazer pão que desaparece para alimentar. Mantendo as aparências do pão e do vinho, torna-Se o nosso Deus, pela consagração na Missa.
Dois milagres realizados por Jesus na vida pública ajudam-nos a vislumbrar a maravilha da Santíssima Eucaristia.
• Em Caná da Galileia, a quantidade da água que existia antes e depois foi transformada em vinho permanece a mesma, mas a qualidade, a substância já não é a mesma: antes era água; agora é vinho; e mudaram também os acidentes: aparece agora, em vez da brancura e do odor da água a cor e o cheiro do vinho.
• Na multiplicação dos pães e peixes, a substância permanece a mesma: são cinco pães e dois peixes. Mas a quantidade mudou, de modo que puderam ser alimentadas até à saciedade cinco mil pessoas. Todavia, os acidentes não mudaram: o que aparecia como peixe ou como pão, continua igual.
• Na transubstanciação muda-se a substância – antes era pão e vinho e agora é o Corpo e Sangue do Senhor – e muda-se também a quantidade: Cristo dá-se todo inteiro a uma multidão de pessoas que deseje comungar. Contudo, os acidentes, as aparências do pão e do vinho permanecem.
A Presença Real de Jesus na Eucaristia é uma maravilha que só compreenderemos no Céu, embora a razão nos diga, desde já, que nada há nisto contra a razão.