8 de dezembro de 2022 – Solenidade da Imaculada Conceição da Virgem Santa Maria

Neste tempo de Advento somos convidados, através da Solenidade da Imaculada Conceição da Virgem Santa Maria, a celebrar e a meditar como Deus ao longo dos tempos foi preparando a vinda de Jesus. Na verdade, Deus, pela Imaculada Conceição da Virgem Santa Maria, preparou uma digna morada para o seu Filho. Além disto, a presente Solenidade também nos convida a acolhermos o Senhor que vem e a dizermos o nosso sim ao projecto salvífico de Deus, à imagem da Virgem de Nazaré. Assim, a Solenidade da Imaculada Conceição é uma verdadeira festa de Advento que nos ajuda a preparar a visita Salvadora de Deus. 

 

 

Imaculada Conceição, Padroeira de Portugal

O dogma da Imaculada Conceição da Virgem Santa Maria que professa que Nossa Senhora foi concebida sem pecado original em virtude dos méritos futuros da redenção de Cristo, foi definido solenemente pelo Papa Pio IX, depois de ter consultado os bispos de todo mundo, no dia 8 de Dezembro de 1854.

A Imaculada Conceição da Virgem Santa Maria é uma das quatro verdades de fé, um dos quatro dogmas que a Igreja professa acerca de Nossa Senhora e, através dela, acerca de Cristo e do Homem. Na verdade, se os dois primeiros dogmas marianos (maternidade divina e virgindade), surgidos nos primeiros séculos, afirmam uma verdade sobre Cristo (Cristo é verdadeiro Deus e verdadeiro homem), os últimos dogmas marianos (Imaculada Conceição e Assunção), definidos nos séculos XIX e XX, respectivamente, afirmam uma verdade antropológica em chave teológica. Concretamente, o dogma da Imaculada Conceição, reagindo contra a ideia de um homem árbitro absoluto do seu destino e artífice único do próprio progresso, é a afirmação do primado absoluto de Deus na história da redenção que se manifesta de uma forma especial na história de Maria. O homem só por si não é capaz de salvar-se, não é capaz de atingir a felicidade e uma vida com qualidade.

Embora a definição dogmática da Imaculada Conceição ser tardia, já há muito tempo que, quer os teólogos quer o povo cristão, professavam a sua fé, devoção e afecto à Virgem Imaculada. Exemplo concreto desta devoção é o povo português que tem na Imaculada Conceição da Virgem Santa Maria a sua padroeira principal. À medida que Portugal se consolidava e se expandia pelo mundo, a veneração e devoção à sua Senhora ia aumentando. No século XVII, o culto de Maria, no Mistério da sua Imaculada Conceição, fazia parte da cultura nacional. Sinal disso, entre muitos outros, é a consagração de Portugal a Maria Imaculada com a entrega da coroa real à imagem da Senhora da Conceição de Vila Viçosa, pelo Rei D. João IV. Já que, como cristãos e como portugueses, temos na Virgem Imaculada a nossa padroeira apresentemos a Deus por sua intercessão todas as nossas esperanças, angústias e problemas mas também aprendamos dela e com ela a dizermos sim aos desafios que Deus nos faz. 

 

Liberdade humana versus liberdade divina

Na primeira leitura, do livro do Génesis, fala-nos da origem do pecado e do choque entre a liberdade humana e a liberdade divina, utilizando-se uma linguagem simbólica e nunca um relato histórico ou uma página de algum manual de ciências. Os relatos da criação ensinam-nos que na origem da vida está Deus e na origem do mal estão as opções erradas do homem, o seu pecado. O grande dom da liberdade que o Deus criador concede ao homem, se mal utilizado, converte-se num instrumento de devastação e sofrimento, como nos demonstra a leitura veterotestamentária deste dia. Ao comerem o fruto do conhecimento do bem e do mal, Adão e Eva querem tornar-se deuses, querem por eles próprios decidir o que é bem e o que é mal. Ao escolherem tal caminho, a sua relação com Deus, com os outros e com a criação altera-se. Deus deixa de ser visto como alguém que cria e cuida e passa a ser visto como alguém terrível de quem se tem de fugir. No fundo, o mundo, no qual eu devia viver em comunhão com Deus, torna-se o lugar em que me escondo de Deus.

Actualmente, também há Adões e Evas que continuam a pensar que podem fazer o que querem, que não podem estar sujeitos a proibições, que podem muito bem decidir sobre a vida de pessoas e situações como se fossem os senhores de tudo e de todos… e até de Deus! É a prepotência do Homem que quer usurpar o lugar de Deus. No entanto, é bom observar que a única sanção de Deus é sobre a serpente. É ela que é maldita e não o homem e a mulher. 

 

O mundo à espera da resposta de Maria

Bem diferente, de Adão e Eva que disseram não ao projecto de Deus foi a Virgem Maria que, diante do desafio de Deus, coloca-se como a “serva do Senhor”. O evangelho deste dia é o relato da vocação de Maria. O arcanjo Gabriel visita Maria trazendo-lhe uma proposta de Deus: ser a mãe do Messias prometido e esperado. No fundo, como reza São Bernardo, todo o mundo está à espera da resposta de Maria:

“nós, miseravelmente oprimidos por uma sentença de condenação (…) esperamos (Maria) a tua palavra de misericórdia. Em tuas mãos está o preço da nossa salvação. Se consentes, seremos imediatamente libertados. Todos fomos criados pelo Verbo eterno de Deus, mas agora vemo-nos condenados à morte: a tua breve resposta pode renovar-nos e restituir-nos à vida. Isto te suplica, ó piedosa Virgem, o pobre Adão, desterrado do paraíso com toda a mísera posteridade; isto te suplicam Abraão e David. Imploram-te todos os santos Patriarcas, teus antepassados, também eles retidos na região das sombras da morte. Todo o mundo, prostrado a teus pés, espera a tua resposta: da tua palavra depende a consolação dos infelizes, a redenção dos cativos, a liberdade dos condenados, a salvação de todos os filhos de Adão, de toda a tua linhagem. Dá, depressa, ó Virgem, a tua resposta. Responde sem demora ao Anjo, ou, para melhor dizer, ao Senhor por meio do Anjo. Pronuncia uma palavra e recebe a Palavra. Profere a tua palavra humana e concebe a divina. Diz uma palavra transitória e acolhe a Palavra eterna. (…) Abre, ó Virgem santa, o coração à fé, os lábios ao consentimento, as entranhas ao Criador” (Das homilias de São Bernardo em louvor da Virgem Mãe, sec. XII).

 

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