6 de julho de 2025 – 14º Domingo do Tempo Comum – Ano C | Estou aqui para te oferecer a paz

«Não estou em paz» É a confidência que, num ou noutro momento de particular desconforto, alguém nos terá feito. Talvez a amiga que interrompeu uma gravidez não desejada, ou o cônjuge envolvido noutra ligação afetiva que se tornou impossível de gerir, ou o vizinho atormentado pelo desejo de se vingar por uma ofensa sofrida e impossibilitado de o fazer, ou a rapariga de má vida humilhada e explorada.
«Não estou em paz», gritariam os responsáveis de crimes, de guerras, de comércios de instrumentos de morte se não estivessem atordoados pelo poder e pelo dinheiro. «Não estou em paz», repetiria quem se dedica a atividades imorais e quem comete injustiças, mas vai em frente com a mente ofuscada pelo sucesso, pelo dinheiro e pelas mentiras dos aduladores.
Este é o mundo ao qual Jesus envia os seus discípulos, não para pregar novas doutrinas, não para condenar, para imprecar contra a corrupção e os maus costumes, para ameaçar com castigos divinos, mas para anunciar aquela paz que – da forma mais inconsciente – estão desesperadamente à procura.

«Naquele tempo designou o Senhor setenta e dois discípulos e enviou-os dois a dois, à sua frente, a todas as cidades e lugares aonde Ele havia de ir». Assim tem início o Evangelho de hoje, e esta informação é bastante surpreendente, já que, poucos antes, Jesus tinha já enviado os doze apóstolos a anunciar o reino de Deus e a curar os doentes, recomendando-lhes que não levassem nada consigo, «nem cajado, nem alforge, nem pão, nem dinheiro, nem duas túnicas…». Quem são agora estes setenta e dois que aparecem de repente e que nunca mais serão lembrados? Uma estranha missão a deles, até porque é difícil imaginar Jesus a seguir 36 pares que iam à sua frente a preparar-lhe o caminho.
Trata-se do relato de uma iniciativa apostólica empreendida por Jesus e descrita pelo evangelista em função da catequese que pretende dar às suas comunidades.
A finalidade do envio: preparar as cidades e as aldeias para a vinda do Senhor. Jesus chega depois dos seus mensageiros, não antes. A tarefa confiada a cada um de nós não é a de se apresentar a si mesmo, mas de dispor as mentes e os corações das pessoas para acolherem Cristo na sua vida.
Para realizar esta missão, o discípulo deve preparar-se. O modo de o fazer é sugerido por Jesus: «Pedi ao dono da seara que envie trabalhadores para a sua seara».
A oração não tem o objetivo de convencer Deus a enviar operários para o seu campo (isto evidentemente não faria sentido), mas tem a finalidade de transformar o discípulo em apóstolo. Dá-lhe o equilíbrio, boa disposição, paz interior; liberta-o do orgulho, da presunção; torna-o capaz de superar oposições, desilusões e insucessos; revela-lhe, a cada momento, o querer do «dono da seara».
O Evangelho pode ser colhido, mas também rejeitado. Como comportar-se quando é necessário confrontar-se com a oposição? Jesus esclarece-o: os missionários vão aé à praça pública e, diante de toda a gente, sacodem o pó dos seus pés. Sodoma e Gomorra serão tratadas com mais tolerância do que aquela cidade.
São palavras difíceis de entender e ainda mais de aceitar. Tomadas à letra, contradizem o resto do Evangelho. Basta pensar na reação de Jesus para com Tiago e João que queriam fazer com que descesse fogo do céu sobre os Samaritanos.
Deus não se zanga, não se vinga, não castiga quem não acolhe a sua Palavra. Ele é só bondade e misericórdia e ama sempre. Jesus utiliza aqui a linguagem e as imagens do seu povo. Fala de castigos de Deus para indicar as consequências desastrosas que comporta a rejeição do Evangelho. Quem não aceita a sua palavra torna-se responsável da sua própria infidelidade, priva-se da paz. É significativo que a cena ameaçadora do juízo pronunciada pelos evangelizadores sobre toda a cidade se conclua com uma palavra de salvação: «Está perto o reino de Deus».

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