Os cristãos associaram desde sempre a tradicional festa de fim do ano a um motivo da sua fé. Antes do Concílio celebra-se a circuncisão de Jesus, feita, segundo o que refere Lucas, oito dias depois do nascimento. Depois este dia foi dedicado a Maria, Mãe de Deus, e, a partir de 1968, o primeiro dia do novo ano tornou-se, por vontade do Papa Paulo VI, o Dia Mundial da Paz.
As leituras refletem esta variedade de temas: a bênção para iniciar bem o novo ano (primeira leitura); Maria, modelo de cada mãe e de cada discípulo (Evangelho); a filiação divina (segunda leitura).
O Evangelho de hoje é a continuação do trecho lido na noite de Natal. Ao lado do berço de Jesus aparecem novamente os pastores.
Seguindo o anúncio recebido do céu, eles vão a Belém e encontram José, Maria e o menino, que está deitado na manjedoura.
Note-se: não encontram nada de extraordinário. Vêem somente uma criança com o seu pai e a sua mãe. E, no entanto, naquele ser débil, necessitado de ajuda e de proteção, eles reconhecem o Salvador. Não precisam de sinais extraordinários, não verificam milagres e prodígios. Os pastores representam todos os pobres, os excluídos que, quase por instinto, reconhecem no Menino de Belém o Messias do Céu.
Nas representações, os pastores aparecem geralmente de joelhos diante de Jesus. Mas o Evangelho não diz que eles se prostraram em adoração, como fizeram os Reis Magos. Ficaram simplesmente a observar – maravilhados, extasiados – a obra maravilhosa que Deus tinha operado a seu favor, depois anunciaram aos outros a sua alegria, e quantos os ouviam ficavam também admirados.
Nos primeiros capítulos do seu Evangelho, Lucas sublinha com frequência a admiração e a alegria incontável das pessoas que se sentem envolvidas no projeto de Deus. Isabel, descobrindo que está grávida, repete a todos: «Deus foi bom para mim!» Simeão e a profetiza Ana bendizem a Deus que lhes concedeu ver a salvação preparada para todos os povos; também Maria e José ficam maravilhados, e estupefactos.
Todos eles têm os olhos e o coração da criança que acompanha com o olhar cada gesto do pai, fica arrebatado perante cada gesto seu e sorri, sorri porque em tudo aquilo que o pai faz vê um sinal do seu amor. «O reino de Deus pertence a quem é como eles – dirá um dia Jesus – e quem não acolhe o reino de Deus como uma criança não entrará nele».
A primeira preocupação dos pastores não é de tipo ético: não se questionam sobre o que devem fazer, que correções deverão fazer na sua vida moral nem sempre exemplar, que pecados deverão empenhar-se em evitar… Param para se alegrarem com aquilo que Deus fez. Depois, só depois de se terem sentido amados estão em condições de escutar os conselhos, as propostas de vida nova que o Pai lhes dirige. Só assim se encontrarão nas condições justas para confiarem.
Ensina-nos, Senhor, a abençoar quem nos insulta, a suportar quem nos persegue, a confortar quem nos calúnia.