31 de dezembro de 2023 – Festa da Sagrada Família de Jesus, Maria e José

1. A Sagrada família de Nazaré

 

A celebração do mistério do nascimento temporal do Filho de Deus, enche os nossos corações de admiração e de agradecimento. Mas também devemos considerar com a mesma admiração e agradecimento, o caminho que a Providencia divina escolheu para realizar a Encarnação. Deus encarnou para restaurar o projeto divino sobre o homem; e fê-lo numa família para restaurar o projeto divino para a família. Jesus Cristo, perfeito Deus e perfeito homem, é o modelo e o caminho para toda pessoa humana, e a Sagrada Família de Nazaré é modelo e caminho para todas as famílias.

Quando os pastores e os magos encontram o Filho de Deus encarnado, “encontraram-se diante não só do Menino Jesus, mas de uma pequena família: mãe, pai e filho recém-nascido. Deus quis revelar-se nascendo numa família humana, e por isso a família humana tornou-se ícone de Deus! Deus é Trindade, é comunhão de amor, e a família é, com toda a diferença que existe entre o Mistério de Deus e a sua criatura humana, uma expressão que reflete o Mistério insondável do Deus amor. O homem e a mulher, criados à imagem de Deus, tornam-se no matrimónio «uma única carne» (Gn 2, 24), isto é, uma comunhão de amor que gera vida nova. A família humana, num certo sentido, é ícone da Trindade pelo amor interpessoal e pela fecundidade do amor” (Bento XVI, Ângelus, 27-12-2009).

Na família, santuário da vida, torna-se presente a vida trinitária de Deus. Deus Pai Criador e Providente age por meio do amor fecundo dos esposos. Deus Filho Redentor que se entrega pela Igreja, a sua Esposa muito amada, está presente na doação mútua dos esposos, elevada a sacramento. Deus Espírito Santo faz da família uma “igreja doméstica”, unida pela caridade e onde as virtudes cristãs crescem e transmitem à sociedade o bom aroma de Cristo (cf. 2 Cor.2, 15).

A presença da Santíssima Trindade na Sagrada Família é de tal modo singular que S. Josemaria costumava, por vezes, fazer referência a ela como a “trindade da terra”. Queria assim pôr de relevo a profunda conexão entre a Santíssima Trindade e a Sagrada Família.

 

     2. Educar na fé na vida familiar

 

As leituras da liturgia de hoje, incidem sobre as relações familiares na sua dimensão humana e sobrenatural. A primeira leitura tem como pano de fundo o quarto mandamento do Decálogo. A segunda nos fala do amor conjugal e o amor paterno; e o Evangelho nos apresenta Nossa Senhora e São José levando o Menino ao templo, para cumprir, piedosamente, a Lei de Deus. Todas elas iluminam a grandeza da família cristã, e a sua dimensão humana e sobrenatural. Nosso Senhor está presente, com a sua graça, na família cristã para a tornar, como Jesus, humana e divina. Todas as realidades humanas que envolve devem ser vivificadas pela presença de Deus. Mas de modo especial a missão educadora na fé que Deus confia aos pais. Eles devem “levar os seus filhos ao templo”, ou seja, à Deus, a oração, aos sacramentos. E aquilo que de melhor poderão dar aos seus filhos será a receção atempada dos sacramentos, a catequese, e a participação consciente nas celebrações.

O Papa Francisco dizia numa festa como a de hoje: “como nos faz bem pensar que Maria e José ensinaram Jesus a rezar as orações! (…). E também nos faz bem saber que, durante o dia, rezavam juntos; depois, ao sábado, iam juntos à sinagoga ouvir as Sagradas Escrituras da Lei e dos Profetas e louvar o Senhor com todo o povo! (…) Que poderá haver de mais belo, para um pai e uma mãe, do que abençoar os seus filhos ao início do dia e na sua conclusão? Fazer na sua fronte o sinal da cruz, como no dia do Batismo? Não será esta, porventura, a oração mais simples que os pais fazem pelos seus filhos? Abençoá-los, isto é, confiá-los ao Senhor (…), para que seja Ele a sua proteção e amparo nos vários momentos do dia? Como é importante, para a família, encontrar-se também para um breve momento de oração antes de tomar as refeições juntos, a fim de agradecer ao Senhor por estes dons e aprender a partilhar o que se recebeu com quem está mais necessitado” (Papa Francisco, homilia, 27-12-2015).

Todos os que trabalhamos em paróquias temos a experiência, comovente, de ver entrar, a diferentes horas do dia, mães, avós, pais, empregadas, levando crianças pela mão, para visitar Jesus. Emociona ver essas simples e sábias catequeses, feitas de gestos, de breves orações, de beijos que as crianças lançam ao sacrário. Por vezes uma criança de poucos anos é quem arrasta o adulto que a acompanha para dentro da Igreja com a simples petição: “vamos ver O Jesus”. É a “Igreja domestica”, vivificada pelo Espírito Santo, que está a desenvolver todas as suas potencialidades de crescimento. Demos graças a Deus ao ver estas expressões da vitalidade da Igreja, e colaboremos com as famílias para à edificação na fé de todos os seus membros.

 

 

     3. A defesa da família

 

A família é uma realidade tão necessária, tão congruente com a natureza humana, tão vital para a sociedade e a Igreja, que não deve admirar-nos que o demónio (a serpente) procure destruir a sua harmonia desde os inícios da Humanidade. A tentação dos nossos Primeiros Pais, no paraíso, vai dirigida a desvinculá-los de Deus e, por isso a enfrentá-los entre si. Depois do pecado surge a vergonha, as acusações, as desculpas e o sofrimento entre os esposos.

O demónio não descansa desde então, e a família sofre, nos nossos dias, violentos ataques no plano doutrinal, jurídico, social e económico.

São muitos os erros sobre a instituição familiar que são difundidos por todo o mundo. E convêm recordar, antes de mais, que só as pessoas são capazes de constituir uma família. Os animais constituem modos de convivência (alcateias, enxames, etc.) que nada têm a ver com a família humana. A pessoa humana, por ser capaz de autodeterminação, pode constituir, livre e conscientemente, uma comunhão de vida, entre um homem e uma mulher, plena e indissolúvel, para o mútuo aperfeiçoamento e a procriação e educação dos filhos. Só este modo de relação da origem à verdadeira família.

Existem outros modos de relação humana, lamentáveis, com os quais é preciso ter muita compreensão, mas que não podem ser designados como família. Nesta situação se encontram as pessoas divorciadas que se uniram numa nova relação, as pessoas em união de facto e as pessoas do mesmo sexo que convivem sentimentalmente. As legislações que equiparam estes modos de relação com a família fundamentada no matrimónio legítimo, constituem agressões enormemente graves ao matrimónio e a família. A forte pressão exercida em tantos países para estabelecer este tipo de leis e outras parecidas, evidencia uma campanha sistemática e persistente de contornos globalizantes.

No mundo ocidental foram introduzindo-se normas cada vez mais permissivas dos comportamentos gravemente imorais. O divórcio, o aborto, a fecundação “in vitro”, o uso de embriões, considerados material não humano, para fins económicos ou de investigação, leis sobre a educação sexual que corrompem as crianças e a permissividade perante o profundo deterioro da moralidade pública, formam um quadro de comportamentos desestruturantes para a família.

Na cultura pós-moderna o novo paradigma apresentado como modelo a seguir passa pela superação da “família tradicional” (esta terminologia é já uma fórmula ideológica) que cederia o seu lugar a outros modos de convivência “abertos” e fundamentados na “ideologia do género”.

Graças a Deus também hoje encontramos em todo o mundo famílias firmes na fé que resistem, como as árvores das altas montanhas, às tempestades, ao frio, ao calor, a todas as agressões, porque estão profundamente enraizadas em Jesus Cristo. Também vemos surgir associações de famílias, cheias de dinamismo, que visam defender a verdade sobre a família exercendo os seus direitos cívicos. Apoiados na rocha firme da nossa fé acreditemos, com plena confiança no Senhor, que é possível uma mudança dos corações e da cultura por meio da oração e da paciente defesa dos verdadeiros valores da pessoa humana.

Como na primeira evangelização, também na evangelização do século XXI, serão as famílias cristãs o fermento que haverá de transformar, de novo, toda a massa da sociedade. Oremos, com fé, por todas estas intenções à Sagrada Família de Nazaré.

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