30 de outubro de 2022 – 31º Domingo do Tempo Comum – Ano C

A liturgia deste Domingo convida-nos a meditar sobre o amor de Deus.

 

Deus ama tudo o que existe.

Na primeira leitura o autor sagrado explica que Deus “castiga brandamente aqueles que caem.” Usa de moderação para com os que pecam, “para que se afastem do mal” porque ama com amor de Pai todas as criaturas. A Sua benevolência tem a ver com a grandeza e a omnipotência divina: “O mundo inteiro é como uma gota de orvalho sobre a terra.” (cf. Sab 11,22). Daí resulta a tolerância, a misericórdia e o perdão (cf. Sab 11,23). Sabemos pelo profeta Ezequiel que “Deus não quer a morte do pecador, mas que se converta e viva.” (Ezequiel, 18,23)

“Deus é Amor”[1] e derrama o seu amor sobre todas as criaturas. Deus ama-nos como filhos, mesmo quando nos corrige e admoesta. Perdoando as nossas faltas, faz que nos afastemos do mal e estabelece a comunhão connosco (cf. Sab 12,1-2).

Recordemos esta passagem da Bula de proclamação do Ano santo da misericórdia:

“É próprio de Deus usar de misericórdia e, nisto, se manifesta de modo especial a sua omnipotência. Estas palavras de São Tomás de Aquino mostram como a misericórdia divina não é um sinal de fraqueza, mas antes a qualidade da omnipotência de Deus. É por isso que a liturgia, numa das suas colectas mais antigas, convida a rezar assim: «Senhor, que dais a maior prova do vosso poder quando perdoais e Vos compadeceis.» (Oração colecta do XXVI Domingo) Deus permanecerá para sempre na história da humanidade como Aquele que está presente, Aquele que é próximo, providente, santo e misericordioso.

Paciente e misericordioso é o binómio que aparece, frequentemente, no Antigo Testamento para descrever a natureza de Deus. O facto de Ele ser misericordioso encontra um reflexo concreto em muitas acções da história da salvação, onde a sua bondade prevalece sobre o castigo e a destruição. Os Salmos fazem sobressair esta grandeza do agir divino: «É Ele quem perdoa as tuas culpas e cura todas as tuas enfermidades. É Ele quem resgata a tua vida do túmulo e te enche de graça e ternura» (Salmo103, 3-4). (Santo Padre, Papa Francisco, Misericordiae Vultus).

Zaqueu também é filho de Abraão

Depois da parábola do fariseu e do publicano, que escutámos no Domingo passado, o evangelista São Lucas apresenta-nos, hoje, a conversão de Zaqueu, homem rico, mas que procurava ver Jesus.[2] Jesus veio o seu encontro, porque Ele veio ao mundo “procurar e salvar o que estava perdido.” Zaqueu era um chefe de publicanos, encarregado, pelos romanos, de cobrar os impostos. Os judeus consideravam estes homens como verdadeiros traidores, pois colaboravam com a autoridade inimiga, pagã e opressora. O Evangelho diz que Zaqueu, ao ter conhecimento de que Jesus ia passar por Jericó, sentiu um grande desejo de ver Jesus. São João da Cruz diz que “quando a alma procura a Deus, muito mais a procura o seu Amado a ela.”[3] Este homem tinha subido a uma árvore, agora Jesus recompensa todo o seu esforço, todo o seu desejo: “Zaqueu, desce depressa. Preciso de ficar em tua casa.” Com Jesus tudo renasce: O cobrador de impostos, desprezado pelos seus concidadãos, deixou-se transformar pelo amor de Deus e tornou-se um homem arrependido, sincero, generoso, capaz de partilhar os seus bens: “Vou distribuir pelos pobres metade dos meus bens. Vou restituir quatro vezes mais a quem prejudiquei”. Era chefe de publicanos, agora recuperou a dignidade de filho de Abraão.

Somos convidados a agradecer a universalidade do amor de Deus. A história de Zaqueu revela-nos o amor de Deus que provoca a conversão do pecador. O Evangelho diz-nos muitas vezes que Jesus se enchia de compaixão pelas pessoas. Jesus veio “trazer o fogo à terra”[4] para aquecer os nossos corações frios e gelados com o fogo do Amor divino, que ardia no seu Coração.

 Anunciemos com palavras e gestos que só o amor gera “a vida com abundância” e que é o fogo do amor que transforma o mundo. “Vinde Espirito Santo, enchei os corações dos vossos fiéis e acendei neles o fogo do vosso amor. Enviai, Senhor o vosso Espírito e tudo será criado e renovareis a face da terra.”

Queremos ser testemunhas do Amor misericordioso de Jesus, que “come e bebe com os pecadores, porque Ele não veio salvar os justos, mas os pecadores.” ( cf Lc 5,32) Acreditamos que “Deus quer que todos se salvem e cheguem ao conhecimento da verdade.” (1Tim 2,4) Acreditamos que a sua misericórdia se derrama sobre todos aqueles que O temem, “porque o Senhor é bom, eterna a sua misericórdia, a sua fidelidade estende-se de geração em geração.” (Salmo 99,5)

Nossa Senhora, em Fátima, pediu-nos que nos uníssemos em oração e concórdia, com pena dos pecadores, porque Ela é Mãe de misericórdia: “Rezem, rezem muito pela conversão dos pecadores. Há muitas almas que vão para o inferno porque não há quem se sacrifique e reze por elas.” Não fiquemos indiferentes, mas rezemos uns pelos outros. Nunca devemos desistir: “Deus até das pedras pode fazer filhos de Abraão.” (Luc 3,8) O autor da Carta aos Hebreus pede-nos: “Levantai as vossas mãos fatigadas e dirigi os vossos passos por caminhos direitos.”[5] É pecado desesperar da nossa salvação e da dos outros. O zelo pela glória de Deus, ensinava São Maximiliano Maria Kolbe, “resplandece sobretudo na salvação das almas, que Jesus Cristo resgatou com o seu próprio sangue. O principal e mais profundo empenho da vida apostólica deve ser o de procurar a salvação do maior número de almas.”[6] São Paulo exorta-nos a nós, como outrora aos cristãos de Roma: “Seja a vossa caridade sem fingimento. Detestai o mal e aderi ao bem. Amai-vos uns aos outros com amor fraterno. Não sejais indolentes no zelo, mas fervorosos no espírito. Sede alegres na esperança, pacientes na tribulação, perseverantes na oração.” (cf Ro 12, 9-12).

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