A celebração de hoje é muito densa na revelação do amor de Deus por nós.
Até onde chega a nossa fragilidade e a força do pecado! Mas tudo é transformado pela insondável e infinita misericórdia de Deus.
Paixão e Morte de Jesus Cristo no contexto global da Sua Vida.
A paixão e Morte de Jesus Cristo compreende-se no contexto global da Pessoa e Missão de Jesus Cristo. É a síntese da sua mensagem de Boa-Nova.
É a consequência pelos critérios da sua vida pautados na plena e total obediência ao Pai. É o assumir as consequências do que proclamou, defendeu, ensinou, viveu: entrega, pobreza, simplicidade, humildade, fidelidade à verdade e ao amor, fidelidade ao Pai e ao Espírito Santo que O ungiu para isso.
A Sua Morte é o caminho que Ele segue a Jerusalém: sinal de doação, de entrega, de redenção, de cumprimento das Escrituras. No Seu caminho Ele interpela, desassossega, incomoda, escandaliza, cura, dá vida, perdoa, ama.
A Sua Morte é a reacção do pecado pessoal e colectivo; reacção do mundo das trevas, da mentira e da morte. É consequência do enfrentamento com as estruturas de pecado.
A Sua Morte é algo que se Lhe impõe fruto da maldade humana, mas é sobretudo Sua doação, entrega livre, dádiva e dom de amor, cumprimento da Sua «Hora».
Nova Imagem de Deus.
A paixão e Morte de Cristo é consequência do anúncio e visibilidade da autêntica e correcta imagem de Deus. É a realização da Palavra de Deus e a sua autêntica interpretação.
Cristo neste mistério revela o Deus da vida, da misericórdia, do perdão, da paz e da vida nova. O Deus que não julga segundo as aparências, o exterior, o rito, mas vê o coração do Homem. Por isso usou as parábolas da misericórdia.
Ele come à mesa de pecadores, faz festa com eles. Abraça os pequeninos motivos do seu louvor e alegria. Ele é o Deus da alegria, da festa, da esperança e do amor. Ele é o Deus com coração para acolher a todos e sem preconceitos.
Muitos se escandalizaram que transmitisse um Deus próximo, amigo de pecadores, cheio de misericórdia em busca de todos, sobretudo os pecadores. Também não aceitaram que se igualasse a Deus e que tratasse a Deus por seu Pai «abbá».
Interesses e situações ameaçados.
A paixão e Morte de Jesus foi consequência da Sua vida. A Pessoa e a Missão de Jesus Cristo chocou com uma gama alargada de interesse: religiosos, políticos e sociais. Chocou com a mentalidade farisaica, de aparências, de escravaturas, de auto-suficiência. Chocou com o pecado pessoal e colectivo, realidade de egoísmo, ausência de Deus, ausência de amor; mundo de morte, mentira e falsidade. Chocou com o poder das trevas que sabia ter chegado a hora da sua definitiva derrota.
Muitos sentiram-se ameaçados nas suas certezas, na sua vazia religiosidade, nas suas carreiras. Fez surgir a inveja, o ódio a condenação e a morte «O Mundo odeia-me porque dou testemunho de que as suas obras são más» (Jo 7, 7).
A coerência e a limpidez da vida de Cristo Jesus é notável, e a sua Palavra acompanhada pelos gestos, é Palavra que cura, liberta, dá esperança, faz crescer como pessoas, introduz no coração de Deus, salva.
Reivindicação da Sua Autoridade Messiânica
A expectativa de um rei foi sempre muito forte no Povo da Antiga Aliança. Mas no fundo um rei semelhante aos outros na força, no poder, no prestigio. Alguns discípulos de Cristo também pensavam assim. Nas suas catequeses Jesus tenta fazê-los compreender o seu verdadeiro messianismo, à luz da Palavra de Deus e do Projecto do Pai.
Jesus Cristo é Messias, é Rei, mas um rei muito diferente: pobre, modesto, de serviço, de verdade, de perdão e de vida. E todo o esforço de Jesus com os seus discípulos passa no sentido de os ensinar a ver e compreender onde está o verdadeiro reino, o verdadeiro rei: dar a vida, amar, servir.
Jesus Cristo é o Messias. Reivindica para si, por palavras e gestos (sinais-milagres) que é o Messias-Rei enviado pelo Pai e ungido pelo Espírito Santo. Expulsa os demónios, tem domínio sobre a Natureza, o Homem, a doença, a morte e a vida. Manifesta-se no perdão dos pecados concedido em nome próprio.
Ele revela a Sua autoridade na interpretação da Lei; que é o Senhor do Sábado e a Sua supremacia sobre o Templo.
Apresenta-se na radicalidade do seu chamamento, da sua proposta, antepondo-se aos mais puros e legítimos laços familiares e religiosos. E o seu consequente envio: em seu Nome e com a sua autoridade.