3 de julho de 2022 – 14º Domingo do Tempo Comum – Ano C

Notamos no ambiente em que vivemos, nas pessoas de todas as condições sociais e credos religiosos, um grande desconforto. Ao contemplar as lamentações generalizadas das pessoas do mundo, ficamos com a convicção de que nada nos pode contentar.

Ouvimos queixas por toda a parte, protestos a propósito de tudo e de nada e apontam-se culpados deste mal-estar sem qualquer critério.

As pessoas não se entendem na família, no grupo de trabalho, nem no grupo social, ao mesmo tempo que cada um procura isolar-se o mais que pode no seu mundo egoísta, procurando exclusivamente o próprio interesse.

A experiência ensina que podemos dar ás pessoas tudo o que pedem, porque, no fim de tudo, continuarão descontentes  e com novas exigências.

O segredo está em que lhes falta o essencial. Falta-lhes Deus e gritam pela Sua vinda, embora de modo inconsciente, porque já não podem esperar mais.

 

1. O Senhor é a nossa Esperança

O texto de Isaías situa-nos em Jerusalém, vários anos após o regresso do Exílio da Babilónia.

A reconstrução da cidade e do Templo faz-se muito lentamente e em condições penosas, porque a maioria da população da Cidade Santa está mergulhada na miséria; os inimigos atacam continuamente e põem em causa o esforço da reconstrução; a esperança está em crise… O Povo pergunta: “quando é que Deus vai realizar as promessas que fez, ainda na Babilónia, através do Deutero-Isaías?”

Nossa Alegria. «Alegrai-vos com Jerusalém, exultai com ela, todos vós que a amais. Com ela enchei-vos de júbilo, todos vós que participastes no seu luto

Deus consola o Seu Povo com imagens tiradas da vida familiar. Compara-nos à criança que chora faminta e desconsolada e a quem a mãe se esforça por consolar.

Numa visão profética, o Senhor promete bens que contrastam com a situação actual do Seu Povo.

O clima humano em que vivem contrasta com o ambiente inseguro e triste em que se encontravam nos tempos do cativeiro de Babilónia.

«Nas margens dos rios da babilónia nos sentamos a chorar, lembrando-nos de Sião. / Nos salgueiros daquela terra, pendurávamos, então, as nossas harpas, / porque aqueles que nos tinham deportado pediam-nos um cântico. / Os nossos opressores exigiam de nós um hino de alegria: Cantai-nos um dos cânticos de Sião. / Como poderíamos nós cantar um cântico do Senhor em terra estranha? / Se eu me esquecer de ti, ó Jerusalém, que minha mão direita se paralise! /Que minha língua se me apegue ao paladar, se eu não me lembrar de ti, se não puser Jerusalém acima de todas as minhas alegrias.» (Salmos 137:1-7).

O importante é aceitarmos os dons que o Senhor nos oferece na Sua Igreja. Se teimássemos em procurar teimosamente apenas o prazer dos sentidos — boa mesa e sexo — estaríamos na situação de quem procura matar a sede com água salgada.

Para termos verdadeira alegria, precisamos de mudar de mentalidade, convertermo-nos às promessas de Deus.

Caminhava santa Teresa de Jesus, de noite na serra Morena, a caminho de Granada. Os almocreves perderam-se no caminho e não sabiam que rumo tomar. De repente, as mulas que puxavam os carros estacaram e não havia quem as fizesse mover. Quando estavam a chicotá-las para que seguisse, ouviu-se uma voz vinda das profundidades: “Parai! Ides cair no abismo!”

Deixaram-se ficar imóveis até despontar a manhã. Quando a manhã despontou verificaram com horror que um passo mais dado em frente teria sido fatal.

A santa reformadora dos Carmelos atribuiu sempre este aviso a S. José, porque o tinha invocado na aflição.

Não nos dá vontade de gritar isto mesmo a esta caravana do mundo que procura a felicidade nos prazeres da vida, voltando as costas ao Senhor, verdadeiro caminho?

Temos a doutrina da fé a iluminar-nos o caminho, a abundância dos Sacramentos e a solicitude dos pastores da Igreja. Por que desaproveitamos estes dons e continuamos a procurar a felicidade por falsos caminhos?

 

2. Ele precisa da nossa ajuda

Deus quer actuar no mundo para resolver os problemas que nos afligem, mas precisa da nossa colaboração. Sem esse pequeno nada que podemos fazer, Deus não actuará.

Santa Teresa de Jesus lamentava-se dos muitos males que havia no seu tempo e do muito bem que ficava por fazer. O Senhor respondeu-lhe: “Teresa, Eu quis, mas os homens não quiseram!”

Somos enviados. «Naquele tempo, designou o Senhor setenta e dois discípulos e enviou-os dois a dois à sua frente, a todas as cidades e lugares aonde Ele havia de ir

Jesus enviou à Sua frente os discípulos, para uma missão bem definida: preparar o acolhimento a Jesus Cristo.

Todo o apostolado que  fazemos se concretiza nisto: não uma afirmação pessoal um projecto individual, mas preparar o acolhimento a Jesus Cristo pela conversão pessoal.

Quando somos enviados ao outros, não há uma separação física entre nós e Jesus Cristo, mas levamo-l’O presente. O Espírito Santo faz que Ele fale pela nossa boca. Não é a nossa eloquência — as nossas palavras bonitas — que fazem mudar as pessoas, mas a acção misteriosa e eficaz da Terceira Pessoa da Santíssima Trindade em cada pessoa.

Dar visibilidade a Jesus Cristo no mundo, restituir-Lhe o lugar a que Ele tem direito, na família, no trabalho, nos divertimentos e nas leis, é uma grande honra.

Para isso precisamos de pôr em prática algumas exigências:

 

Identificação com a vontade de Deus. É preciso purificar a nossa mente e desprendê-la de interesses pessoais. Queremos apenas o que Deus quer, sem forçar a verdade teológica e moral para os nossos gostos e interesses.

Mas para querermos o que Deus quer, temos de saber o que Ele quer. Precisamos de formação doutrinal. De outro modo, podemos dar conselhos que em vez de ajudar as pessoas as afastam de Jesus Cristo e as levam a não O acolher.

Nestes tempos de confusão doutrinal, o perigo é ainda maior, porque as pessoas ignoram o mais elementar. Não faltam pessoas de comunhão diária a dizer que A ou B, depois de ter abandonado a esposa ou marido legítimo, tem o direito de ser feliz, juntando-se a outra pessoa.

Se isto acontece em assuntos tão gritantes, o que não acontecerá noutros, quando se fala da generosidade na aceitação dos filhos, na seriedade no trabalho… ?

Coerência. Deus não nos pede que nos tornemos santos antes de começar a fazer apostolado, mas que estejamos sinceramente dispostos a cumprir aquilo que aconselhamos aos outros. Como podem os pais fazer dos filhos pessoas piedosas, se eles não rezam?

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