Neste Domingo, em que solenizamos de um modo particular a Santíssima Trindade, vamos ter oportunidade de reflectir no Deus que a Bíblia nos apresenta e que não tem os rostos que muitas vezes Lhe atribuímos. Ele é um Deus próximo do homem, o Deus connosco, que Se interessa pelos nossos problemas e intervém para nos conduzir à vida consigo.
É Deus «família», aberta a todos nós. É nessa «família» que somos incluídos pela «força» da Ressurreição de Cristo. Por isso, poderemos chamar a Deus: «Abba, Pai!».
Já tomamos consciência deste facto?
Pensemos no modo como temos correspondido a esta graça ou a ela temos falhado e preparemo-nos convenientemente para participar nesta Sagrada Eucaristia.
Deus não está longe de nós
No nosso coração fomos criando falsas imagens de Deus que não correspondem ao Deus que nos foi manifestado por Seu Filho Jesus Cristo. As leituras deste domingo ajudam-nos a purificar o nosso coração dessas falsas imagens.
O trecho da primeira leitura, extraído do Livro do Deuteronómio, foi escrito para acalentar os israelitas que estavam presos e escravizados na Babilónia. Destinava-se a apoiar a sua esperança de salvação. Nele, como ouvimos, o autor convida-os a reconsiderar a história dos seus antepassados, repleta de maravilhas operadas pelo Senhor em favor do Seu povo. Recorda-lhes que em todo o mundo jamais se ouviu dizer que algum deus tenha actuado com tal poder para libertar o seu povo como o fizera Javé por Israel.
Sabendo como foram amados e auxiliados por Deus, que ficou tão contristado pelos problemas e sofrimentos dos homens, os prisioneiros israelitas não poderão desanimar, pois o Senhor de novo virá para os libertar da escravidão em que se encontram. Deus não é um ente distante, mas um Deus próximo, amigo e protector que Se interessa pelos seus problemas e intervém em seu favor. Por isso, é motivo de alegria, de paz e tranquilidade para aqueles que acreditam n’Ele.
No meio dos contratempos e problemas da vida também nós devemos aprender que Deus nunca nos deixa sós ou desamparados. Por vezes somos tentados a depor a nossa confiança «noutros deuses» que nos parecem mais razoáveis, que não nos obrigam a mudar o coração, que nos possibilitam conservar ressentimento, ser maus, injustos, vingativos, corruptos ou desonestos.
Porém, há só um Deus que nos dá a vida e a felicidade e esse Deus é uma «família» aberta a todos os homens de boa vontade.
É uma família aberta a todos os homens
A «família» de Deus, a Trindade, está sempre aberta para acolher os seus novos filhos. O Pai quer que o Seu amor chegue a todas as criaturas.
Jesus, diz-nos no Evangelho, que o Pai Lhe concedeu todo o «poder» no céu e na terra e que nada escapa ao «domínio» que o Pai Lhe conferiu. Este «domínio» não se identifica com prepotência, mas consiste num serviço que se reconhece com a força de salvar, de levar a Deus todos os homens. E Ele comunica aos seus discípulos esse «poder» que o Pai Lhe deu. Os discípulos terão de ser o prolongamento de Cristo no mundo, para conduzir todos à redenção, ensinando e baptizando em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo, com a garantia de que continuaria com eles até ao fim dos tempos. Depois da Ressurreição declara solenemente que será para sempre o «Deus-connosco», nessa Trindade.
No seu ensinamento diz-nos que Deus não é um Deus sozinho mas uma «família», modelo de unidade e de comunhão de pessoas. Esta «família» de Deus, a Trindade, é a imagem perfeita da harmonia, da plena integração, da total realização, que acontece na abertura do encontro em diálogo de amor com as outras pessoas. Esta unidade de todos na paz da «casa» do Pai realizar-se-á plenamente quando todos os homens, por intermédio dos Seus discípulos, receberem a Boa Nova da salvação, pela Ressurreição de Cristo.
E ensina-nos de que, como família, temos a graça de poder chamar a Deus: «Abba, Pai!»
E ensina-nos a chamar-Lhe «Abba, Pai»!
Não somos já meras criaturas, não somos servos que ajudam o patrão na esperança de conseguir um prémio ou no receio de receber um castigo. Somos filhos que alcançaram d’Ele a mesma vida. O Espírito que nos foi comunicado leva-nos a gritar a Deus, cheios de confiança e alegria: «Abba, Pai!».
A religião dos castigos, do receio, dos méritos, a religião de quem reza a um Deus distante que não sente dentro de si, é inconciliável com a profissão de fé em Deus Pai, Filho e Espírito Santo.
Estaremos nós repletos da presença deste Deus no mundo, especialmente ante quem sofre, quem erra, para quem é pobre? Confiamos que Ele não nos abandona? Acreditamos que o «poder» dado a Jesus e por Ele comunicado através do Espírito Santo acabará por levar todos os homens à salvação?
Então, mantenhamo-nos fiéis ao baptismo que recebemos em nome da Trindade: Pai, Filho e Espírito Santo, para difundirmos no mundo este amor de Deus por todos os homens.