A celebração da Festa da Sagrada Família de Nazaré atualiza o apelo do Santo Papa João Paulo II dirigido a todas as famílias do mundo: «Família, torna-te aquilo que és!» (João Paulo II, Familiaris Consortio, 17). Sim, aquilo que é «desde o princípio» (Cf. Mt 19, 3-6), segundo o plano de Deus. Trata-se de um convite a tornar-se verdadeira comunidade de amor, duradoura e firme, onde a vida humana possa germinar e crescer, onde possa ser defendida por toda a duração da mesma, desde o instante da concepção até ao seu termo natural.
A vida humana é um valor absoluto
Por ocasião da Festa da Sagrada Família, e lembrando que a Assembleia da República decidiu sujeitar, mais uma vez, a referendo popular o alargamento das condições legais para o aborto voluntário, somos convidados a assumir a nossa responsabilidade na defesa e promoção da vida humana em todas as circunstâncias, com toda a sua dignidade, desde o primeiro momento da concepção.
A festa da Sagrada Família, é, por isso, mais um importante apelo. Sabemos das dificuldades pelas quais passam as famílias, não só pelo pouco tempo que a sociedade moderna deixa para ocupações desta índole, como também pelas ideias que veicula e que funcionam como verdadeiras tentações que afastam de Deus e do Seu projeto.
Para os cristãos, a vida humana é um valor absoluto e portanto, não é referendável e, portanto, o aborto provocado é um pecado grave porque é uma violação do 5º mandamento da Lei de Deus, «não matarás», e é-o mesmo quando legalmente permitido. E não se trata de uma questão exclusivamente da moral religiosa; o aborto agride valores universais de respeito pela vida.
Um futuro digno da humanidade
Tudo isto é ousado e radical. Tudo isto faz-nos lembrar um pensamento de Martin Luther King: «A covardia perguntou, isto é seguro? A segurança perguntou, isto é político? A vaidade perguntou, isto é popular? E a consciência perguntou, isto é certo? Chega o momento em que é necessário assumir posições, não por ser segura, política ou popular, mas porque a consciência diz que é certo».
Tudo isto torna evidente a urgência de procurarmos juntos construir uma sociedade mais justa e consentânea com o projeto de Deus. Não serão as dificuldades a travarem o Evangelho. Como escrevia S. Paulo aos Coríntios: «Em tudo somos atribulados, mas não esmagados; confundidos, mas não desesperados; perseguidos, mas não abandonados; abatidos, mas não aniquilados (…) animados do mesmo espírito de fé, conforme o que está escrito: acreditei e por isso falei, também nós acreditamos e por isso falamos» (cf 2 Cor 4, 8.13).
Caríssimos pais e mães, famílias aqui presentes: fostes chamados para a excelsa missão de colaborar com o Criador na transmissão da vida (cf. João Paulo II, Carta às Famílias, 8); não tenhais medo da vida! Com a Sagrada Família de Nazaré, proclamai juntos o valor da família e da vida, pois só com estes valores, haverá um futuro digno da humanidade!
A Sagrada Família de Nazaré, pela fidelidade com que viveu a missão recebida de Deus, seja o modelo inspirador de todas as famílias. Celebrar a sua festa é recordar que todo o ser humano tem em si um instinto incoercível pela defesa da vida. Por isso, a Família de Nazaré hoje interpela-nos: sede sempre fonte de vida, nunca de morte!