24 de março de 2016 – Quinta-Feira Santa -CELEBRAÇÃO DA CEIA DO SENHOR

Nesta tarde de Quinta-Feira Santa recordamos a Última Ceia do Senhor com os seus Apóstolos, no Cenáculo em Jerusalém. «Sabendo Jesus que chegara a Sua hora de passar deste mundo para o Pai, Ele, que amara os Seus que estavam no mundo, amou-os até ao fim» (Evangelho), levando até ao extremo o seu amor por eles:

Exemplo de humildade, de serviço e de entrega de Jesus. O Mandamento Novo

«Se Eu vos lavei os pés, sendo Senhor e Mestre, também vós deveis lavar os pés uns aos outros. Eu dei-vos o exemplo, para que, assim como Eu fiz, vós façais também» (Evang).

A nossa fé cristã reuniu-nos aqui à volta deste altar para celebrarmos a Instituição dos grandes dons da Eucaristia, do Sacerdócio e do Mandamento Novo e para aprendermos dos lábios divinos de Jesus Cristo e dos seus gestos lições inesquecíveis de espírito de serviço, de caridade e de humildade. Ele passou por esta terra fazendo o bem e tendo amado os seus que estavam no mundo, naquela tarde inolvidável de Quinta-Feira Santa, nas vésperas da sua Paixão, amou-os até ao extremo, instituindo o Sacramento do seu Amor, dando-se a eles como alimento, comunicando-lhes o poder de celebrar a Eucaristia, deixando-lhes o seu exemplo: «Assim como Eu fiz, assim deveis fazer também vós».

Jesus abre o seu coração, mostrando grande amor e ternura para com os seus discípulos. A Última Ceia começa mais ou menos ao pôr do sol. S. João transmitiu-nos que Jesus desejou ardentemente comer esta ceia com eles. Foram horas intensas de diálogo, de despedida, de gestos surpreendentes, de comoção, de grande afecto e de imensa alegria, ao mesmo tempo que Jesus lhes falava de promessas divinas e de visões supremas, de revelações e confidências íntimas como nunca tivera até àquele momento. Jesus fala de traições, de fugas e abandonos, de imolação e de morte próxima. Nessa noite memorável, o Senhor quer deixar aos seus Apóstolos e seus sucessores, Bispos e sacerdotes, o poder de renovar o prodígio da Eucaristia até ao fim dos tempos, para que nunca falte à sua Igreja este Alimento de vida eterna. Ele sabia a necessidade que tínhamos d’Ele e da sua presença. Quis ficar para sempre connosco até ao fim dos séculos, para que pudéssemos unir-nos sempre à sua Humanidade Santíssima, para ajudar-nos, para consolar-nos, para fortalecer-nos, para vir ao encontro de todas as necessidades do nosso pobre coração. Jesus quer, também, deixar bem gravado na mente e no coração dos seus discípulos, para que o transmitam, mais tarde, a todos os povos, o seu exemplo de humildade e de amor, dando-lhes esse Mandamento Novo como o grande sinal que eles Lhe pertencem.

A instituição da Eucaristia e do Sacerdócio Ministerial

«Eu próprio recebi do Senhor o que por minha vez vos transmiti» – diz-nos S. Paulo na 2.ª leitura, fazendo-nos o relato da Última Ceia com todos os pormenores.

«Na última Ceia, na noite em que ia ser entregue, para deixar à sua Igreja, sua amada Esposa, um Sacrifício visível – como pede a natureza dos homens   que fosse renovação do sacrifício sangrento que havia de consumar-se uma só vez na Cruz; para que esse remédio permanecesse até ao fim dos séculos e se aplicasse a sua virtude salvadora para remissão dos nossos pecados quotidianos, ofereceu a Deus Pai o seu Corpo e o seu Sangue sob as espécies do pão e do vinho e deu-os aos Apóstolos   constituídos então sacerdotes do Novo testamento   a fim de que O recebessem sob estas mesmas espécies, ao mesmo tempo que   a eles e aos seus sucessores no Sacerdócio   lhes mandava que o oferecessem» (Conc. de Trento).

A Eucaristia que celebramos nesta tarde de Quinta-Feira Santa, traz-nos à lembrança essa Última Ceia memorável e torna presente para nós esse mesmo ambiente de confidências, de amor e enorme carinho do Senhor para connosco. Jesus está aqui connosco, presente no Sacerdote, de cujas mãos e lábios se serve para nos falar e se entregar a nós, presente nesta assembleia reunida em seu nome, presente em cada um de nós cristãos, unidos a Ele pela graça santificante, presente na sua Palavra salvadora, presente de modo especial e surpreendente no pão e no vinho que vão ser consagrados sobre este altar. Jesus ama-nos verdadeiramente. Ele gosta de nós com amor de pai, de mãe, de irmão, de amigo. Fica connosco na Eucaristia para que não O esqueçamos. É Ele mesmo que nos salva e nos pede uma união espiritual e corporal com Ele. A Comunhão do Corpo e do Sangue de Cristo torna-nos «concorpóreos e consanguíneos» como mesmo Jesus, transformando-nos cada vez mais n’Ele, a ponto de podermos dizer com S. Paulo: «Já não sou eu que vivo, é Cristo que vive em mim».

Rezemos a Maria, Mãe do Sumo e eterno Sacerdote e Mãe de todos os sacerdotes, que nos ajude a venerar e a agradecer estes tesouros da Igreja, a Santíssima Eucaristia como Sacrifício e como Sacramento, os sacerdotes como ministros de Cristo e dispensadores dos mistérios de Deus e o Mandamento Novo como o sinal de que somos discípulos do seu Filho, Jesus Cristo.

A Mesa da Aliança.

A mesa da aliança é convocada no livro do Êxodo para expressar a saída do Egipto, rumo à liberdade, à vida, ao compromisso com o projecto de Deus.

Deve ser vista como dom. Ser acolhida e dinamizada pela coragem de caminhar, de fazer comunidade e comunhão, de buscar o projecto de Deus e Sua Santidade.

A Páscoa é acontecimento memorável. A Páscoa da Nova Aliança, celebrada no Sangue do Cordeiro de Deus, Jesus Cristo é acontecimento e celebração do amor sempre doado. Em Cristo os sinais da sua Páscoa são:

  1. a) Lavar os pés. Os seus discípulos deverão compreender, que como o seu Mestre, deverão oferecer a vida em oblação de acolhimento e serviço, em humildade que desce ao ponto mais problemático do ser humano.

Há uma expressão «calcanhar de Aquiles» que faz referência aos problemas e dificuldades mais difíceis de resolver, ao ponto nevrálgico de fraqueza. Lavar os pés significa que Jesus Cristo desceu ao âmago dos nossos problemas e dos nossos pontos mais sensíveis. Desceu ao nosso mundo sujo, mundo de miséria, de fraqueza e de pecado, a necessitar de água pura do Seu Espírito e Sangue de amor, para lavar, curar, salvar.

  1. b) Mestre de amor.

Atentos a este gesto profético, explicado e clarificado devido à oposição de Pedro, cada discípulo deve compreender que se não aceita Cristo como servidor do Pai e dos Homens não pode ser seu discípulo. É um gesto síntese, de toda a sua vida e seu ensino, sobre o serviço humilde, o dar a vida, o amor gratuito a todos.

  1. c) Ungidos no acolhimento, no serviço, na doação da vida.

Compreender e assumir o sentido desse gesto significa estar apto para tornar o amor de Deus presente e vivo na celebração da Eucaristia. A Eucaristia é a bela história de amor e de doação, que Deus faz com o seu Povo e com toda a humanidade.

Em cada Eucaristia eu sou testemunha de um Deus que vem, numa profunda humildade, para servir, amar e dar a vida. Por isso ela me compromete a uma entrega à maneira do Mestre.

  1. d) Receber e transmitir.

Por outro lado celebrar a Eucaristia é realizar com fidelidade o dom recebido e transmiti-lo com a frescura da fidelidade.

Hoje é grande a nossa responsabilidade porque somos testemunhas do dinamismo de Jesus Eucaristia, na vida de multidão de santos, na fidelidade heróica da Igreja, na densidade teológica, na frescura da fé, na Tradição e no autêntico Magistério da Igreja.

Jesus Cristo no centro da vida.

Em Pedro, o primeiro, o líder dos doze, estão todos representados. Pedro necessita compreender que deve ser servido por Cristo. Na sua vida pessoal, na experiência mais profunda de fragilidade, deve compreender como está seguro, é amado, é salvo. Deve perceber que o amor de Deus é gratuito, e que apesar da sua fragilidade, Jesus Cristo, quer levantá-lo e erguê-lo pelo dom do seu amor. Quando estiver a afundar-se nas águas de Tiberiades, há-de crer na segurança da presença amorosa de Jesus Cristo. Dentre em breve perceberá a força do olhar de amor, na realidade da sua tríplice negação. Depois compreenderá que amando a Cristo, e crendo nesse amor, estará apto para apascentar os seus cordeiro, as suas ovelhas.

Em Quinta Feira Santa, motivo de gratidão a Jesus Cristo que escolheu os seus sacerdotes, os ungiu e os enviou como servidores da humanidade.

Dia de exigência e de santidade. Se todos nos deixarmos lavar por Cristo, se interpretarmos a nossa fragilidade no encontro com a sua poderosa força de amor, iremos despertar para um coração renovado, que O amará plenamente, e por Ele, se fará acolhimento, serviço, doação.

Em cada Eucaristia, Corpo Entregue e Sangue derramado, encontramos a certeza da presença viva do Deus amor que está presente na nossa vida, na nossa fragilidade. E robustecidos pela força deste amor seremos capaz de dar a vida.

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