«Alarga o espaço da tua tenda, estende sem medo as lonas que te abrigam, estica as tuas cordas, fixa bem as tuas estacas, porque vais aumentar por todos os lados». É o convite que o profeta dirige a Jerusalém, fechada dentro de uma muralha apertada. O tempo do nacionalismo mesquinho acabou; abrem-se novos horizontes sem fim: a cidade deve preparar-se para acolher todos os povos que a ela acorrerão, porque todos, não só Israel, são herdeiros das bênçãos prometidas a Abraão.
A imagem usada pelo profeta é deliciosa, permite-nos contemplar quase visivelmente, toda a humanidade que caminha em direção ao monte onde está situada Jerusalém. Lá, o Senhor preparou «um banquete de carnes gordas, acompanhadas de vinhos velhos, carnes gordas e saborosas, vinhos velhos e bem tratados».
Com outra imagem da cidade, o autor do Apocalipse descreve, nas últimas páginas do seu livro, a feliz conclusão da difícil história da humanidade. Jerusalém «tinha uma grande e alta muralha com doze portas. Ao Oriente havia três portas, ao Norte três portas, ao Sul três portas e ao Ocidente três portas». A imagem é diferente, mas a mensagem é a mesma: de onde quer que se chegue, cada pessoa encontrará diante de si as portas da cidade abertas de par em par para a acolher.
Mas o caminho para o banquete do reino de Deus não é um passeio cómodo. É um caminho difícil, e a porta – diz Jesus – é estreita e difícil de encontrar. Esta afirmação não contradiz a mensagem otimista e alegre dos profetas que anunciam a salvação universal. Acautela para a ilusão de se estar a percorrer a estrada justa, quando pelo contrário se vai por caminhos que afastam da meta.
Chegaremos todos, sim, mas… não convém chegar no final do banquete.
As palavras de Jesus referem-se ao presente, ao fazer parte aqui e hoje do reino de Deus. São um convite premente a reconsiderar, com urgência, a própria vida espiritual, porque há quem cultive a ilusão de ser discípulo, mas de maneira nenhuma o é. Estas pessoas, se não se derem já conta desta situação, acabarão em choro (quando virem que fracassaram) e ranger de dentes (sinal da raiva de quem percebe, demasiado tarde, que fracassou).
No final, portanto, todos serão acolhidos, mesmo que – infelizmente para eles – os últimos tenham perdido a oportunidade de gozar desde o início as alegrias do banquete do reino de Deus.
