Em Fátima, na primeira aparição, a Virgem falou do Céu aos pastorinhos. Disse à Lúcia que Lhe perguntava: donde é vocemecê ? – Eu sou do Céu.
E a menina pergunta: – E eu vou para o Céu? – Sim, tu vais para o Céu. – E a Jacinta ? – Também. – E o Francisco ? – Também mas tem de rezar muitos terços.
Os miúdos ficaram cheios de alegria e a esperança do Céu encheu-os de ânsias de amar mais a Jesus e de salvar muitas almas.
Hoje as pessoas sonham tantas vezes com um céu cá na terra!. E, como não é possível encontrá-lo nas riquezas, nos prazeres, nas comodidades, desesperam e a vida não tem sentido para elas.
A Santa Igreja convida-nos, hoje, a olhar para esses novos céus e nova terra que nos esperam e onde veremos a Deus face a face. E onde não haverá dor nem lágrimas, mas a alegria plena que sonhamos. Para que nos animemos a amar a Deus e ser santos.
Na medida em que lutamos e avivamos a nossa esperança, antecipamos de algum modo o Céu neste mundo. Como o pequenito todo contente porque a mãe lhe prometeu um brinquedo que ele muito deseja. Os santos foram na terra as pessoas mais felizes. Apesar dos sofrimentos e perseguições. «Porque temos de sofrer muitas tribulações para entrar no Reino de Deus» (1ª leit. )
O Apóstolo João fala da nova Jerusalém, vestida como noiva para o Seu Esposo. Essa imagem da Igreja de Deus há-de animar-nos a contemplar com fé e com amor a Esposa de Cristo, que é una, santa, católica e apostólica. É assim que nos aparece nas visões do Apocalipse. Há uma semana falava-nos da imensa multidão de todos os povos e línguas, vestidos de túnicas brancas. Noutro lugar diz: «A muralha da cidade tinha doze fundamentos e neles os doze nomes dos doze Apóstolos do Cordeiro» (Apoc 21, 14)
Nós somos as pedras vivas nesta cidade santa em que Deus «habitará com os homens». A Igreja não é constituída apenas por santos, como afirmaram alguns dos reformadores protestantes. Também nós, pecadores, somos acolhidos por ela e nela recebemos a graça santificante, que nos faz santos e a abundância de graças actuais que nos ajudam a atingir a santidade plena a que somos chamados.
Jesus deixou nela os meios de santificação :a Sua doutrina, os sacramentos, o governo dos Apóstolos e seus sucessores que nos guiam com segurança para o Céu. Através dela continua a derramar sobre nós a Suas graças. A Igreja é sacramento de salvação, lembrou o Concílio Vaticano II. Ela é Cristo continuado cá na terra até ao fim dos tempos.
Estabeleceram anciãos
A Igreja constrói – se cá na terra com a pregação da Palavra de Deus. Jesus enviou os Apóstolos por todo o mundo a proclamar o Evangelho. S. Paulo e S. Barnabé – diz-nos a leitura dos Actos dos Apóstolos –realizaram a sua primeira viagem missionária, impulsionados pelo Espírito Santo. Fundaram várias comunidades cristãos em várias cidades com aqueles que acreditaram e se baptizaram.
Era preciso alguém que celebrasse para eles a Eucaristia, os guiasse na fé e os governasse. S. Paulo e S. Barnabé escolheram entre os homens dessas comunidades os que mereciam mais confiança e ordenaram-nos sacerdotes. «Estabeleceram anciãos em cada igreja, depois de terem feito orações acompanhadas de jejum e encomendaram-nos ao Senhor em quem tinham acreditado» (1ª leit. ).
Na carta a Timóteo S. Paulo faz, mais tarde, as necessárias recomendações para a escolha desses sacerdotes, que receberam o nome de anciãos ou presbíteros. Algumas vezes são chamados também bispos. O Apóstolo diz-lhe : «É necessário que o bispo seja irrepreensível, casado uma só vez, sóbrio, prudente, de bom trato, hospitaleiro, capaz de ensinar, não dado ao vinho, nem desordeiro, mas moderado, não litigioso , desapegado do dinheiro, que saiba governar bem a sua casa, que mantenha seus filhos na submissão, com toda a dignidade… Importa também que tenha boa reputação entre aqueles que estão fora para que não caia no descrédito e nos laços do diabo» (1 Tim 3, 2-7 ).
Os Apóstolos escolhiam pais de família para sacerdotes nas várias comunidades. Com o andar dos tempos muitos desses homens procuravam viver exclusivamente para essa missão, como fizeram os Apóstolos, que deixaram tudo, inclusivamente a família, para seguir a Jesus. O celibato apostólico surgiu quase espontaneamente, impulsionado pelo Espírito Santo, para estarem disponíveis para o ministério pastoral. É significativo que é num concílio provincial em Espanha (Elvira ), por volta de 305, que aparece a primeira vez o celibato como condição para a ordenação sacerdotal. Significa que já era o habitual na vida da Igreja, pois um concílio particular não poderia arrogar-se o inovar e exigir mudanças desse género na vida da Igreja.
Para a ordenação sacerdotal os Apóstolos e os seus sucessores e cooperadores impunham as mãos sobre aqueles homens e administravam-lhes desse modo o sacramento da Ordem. Por ele lhes comunicavam os poderes recebidos de Jesus :de celebrar a Eucaristia, de perdoar os pecados e de administrar os outros sacramentos e também o poder de ensinar a Palavra de Deus e de governar os fiéis. S. Paulo diz a Timóteo «Não te apresses a impor as mãos a ninguém “ (1 Tim 5, 22)
«Pelo Sacramento da Ordem o sacerdote torna-se capaz para emprestar a Nosso Senhor a voz e as mãos, todo o seu ser, é Jesus Cristo que na Santa Missa, com as palavras da consagração, muda a substância do pão e do vinho no Seu Corpo, Sua Alma, o Seu Sangue e a Sua Divindade. Nisto se fundamenta a incomparável dignidade do sacerdote. Uma grandeza emprestada, compatível com a minha pequenez» (S. JOSEMARÍA ESCRIVÁ, Hom. Sacerdote para a eternidade).
Só o bispo, sucessor dos Apóstolos, pode impor as mãos, comunicar os poderes divinos de Cristo entregues aos Apóstolos. Alguns auto-proclamam-se bispos, como vemos em muitas seitas. Como se fosse possível apoderar-se dos poderes de Jesus.
A Igreja precisa de sacerdotes em todos os tempos. E todos temos de promover as vocações sacerdotais e ver Cristo por detrás de cada sacerdote, mesmo que, por hipótese, não fosse nada exemplar.
E agradecer a Jesus ter deixado na Sua Igreja o sacramento da Ordem. Sem ele não haveria Eucaristia nem perdão dos pecados.
Mandamento novo
A Igreja é a Família de Deus cá na terra. Pelo baptismo tornamo-nos irmãos, porque verdadeiramente filhos de Deus. Antes de morrer, Jesus deixa à Sua Igreja o mandamento novo do amor. «Nisto conhecerão todos que sois meus discípulos :se vos amardes uns aos outros» (Ev. )
É necessário que os cristãos de hoje voltem a viver como os primeiros cristãos: «A multidão dos que criam tinha um só coração e uma só alma e nenhum dizia ser sua coisa alguma daquelas que possuía, mas entre eles tudo era comum» (Act 6, 32 ).
Na medida em que procuramos viver a sério a nossa fé e encher-nos da graça, que nos vem de Jesus, aumenta também o amor dentro da própria Igreja. o Livro dos Actos faz outro resumo da vida dos primeiros cristãos: «perseveravam na doutrina dos Apóstolos, na união fraterna, na fracção do pão e nas orações…. Todos os que acreditavam estavam unidos e punham tudo em comum» (Act 2, 42).
O mundo vem sendo sacudido pelos crimes abomináveis do terrorismo. Muitas pessoas vivem assustadas. Algum desse terrorismo apoia-se em fundamentalismos religiosos. O Papa João Paulo I contava numa alocução o martírio das dezasseis carmelitas de Compiègne, guilhotinadas pela Revolução Francesa e beatificadas por S. Pio X. «No processo ouviu-se a condenação: ‘à morte por fanatismo!’ E uma das religiosas, com grande simplicidade perguntou: –Senhor Juiz, por favor que quer dizer fanatismo?
E o juiz respondeu: –’é a vossa estúpida pertença à religião’. Ela dirigindo-se às outras religiosas disse: –Irmãs, ouvistes: condenam-nos pela nossas adesão à fé: Que felicidade morrer por Jesus Cristo!»
Fizeram-nas sair da prisão da Consiergerie e obrigaram-nas a subir para uma carroça. Durante o caminho entoavam cânticos religiosos. Ao chegar ao palco da guilhotina umas atrás das outras foram-se ajoelhando diante da prioresa e renovavam o voto de obediência.
Depois entoaram o Veni Creator. Mas o cântico ia-se tornando cada vez mais débil à medida que a cabeça das pobres religiosas caíam uma atrás da outra, debaixo da guilhotina. Ficou a prioresa, Madre Teresa de Santo Agostinho. E as suas últimas palavras foram: «O amor será sempre vitorioso; o amor é omnipotente». Eis a palavra certa: não é a violência que pode tudo, mas sim o amor. (JOÃO PAULO I, Alocução 24-9-78).
Que a Virgem nos ensine a valentia do amor e fortaleça a Igreja de Cristo e os seus sacerdotes.