23 de novembro de 2014 – Solenidade Nosso Senhor Jesus Cristo Rei do Universo

Vivemos todos na esperança de um mundo melhor, mais humano, mais fraterno, em que haja mais amor, mais compreensão e uma mais justa distribuição de bens, para que as grandes desigualdades desapareçam.

Esta nova terra não virá pela virtude qualquer regime ou partido político – embora uns possam ajudar mais do que outros – mas pela instauração efetiva do reinado de Cristo.

É, pois, com Esperança alicerçada na Fé que a Liturgia nos convida a celebrar hoje a solenidade de Nosso Senhor Jesus Cristo Rei.

Um novo Reino, para uma nova terra

Nenhuma organização social – de entre todas as que temos conhecido ao longo da história – satisfaz os nossos desejos de paz, justiça e amor.

Os homens públicos, em hora de campanha para alcançar o poder, acenam-nos com promessas de todo o tipo. Em breve, porém, a ferrugem dos defeitos das pessoas, juntamente com aqueles que se atrelam interesseiramente ao carro de triunfo, mostra que muitos estão mais interessados em serem servidos do que em servir os outros.

A política é a arte do possível e, no meio da floresta dos interesses e compromissos mútuos, o campo o possível vai ficando de cada vez mais reduzido.

Tudo isto deixa nas pessoas uma profunda desilusão, porque espera dos homens aquilo que eles não são capazes de dar.

A experiência Israelita. Os Israelitas fizeram uma experiência de um Reino que acabou por fracassar. Primeiro, a nação dividiu-se em duas que se hostilizavam. Mais tarde, por causa da sua infidelidade ao Senhor, acabaram por perder a independência, tendo sido levados cativos para o exílio de Babilónia, a cerca de mil quilómetros de distância da sua Pátria.

É neste contexto que o Senhor lhes promete, pelo profeta Ezequiel, a fundação de um novo Reino que o próprio Deus governará diretamente.

«Eis o que diz o Senhor Deus: ‘Eu próprio tomarei o cuidado das Minhas ovelhas. Eu é que hei-de olhar por elas’».

A promessa do Senhor cumpre-se na fundação da Igreja. O cumprimento desta promessa messiânica veio a realizar-se na fundação da Igreja. Jesus Cristo é a Sua Cabeça e o Espírito Santo, a Alma.

De facto, é Cristo pessoalmente, embora de modo invisível, Quem atua na Sua Igreja: anuncia a Palavra, administra os Sacramentos e perdoa os pecados.

Para que possa aparecer visivelmente, escolheu um Chefe da Igreja Universal – o Papa – que governa em Seu nome o rebanho dos fiéis, mantendo-o unido e procurando as ovelhas que andam tresmalhadas; e na Igreja local, o Bispo diocesano que governa em nome de Cristo a porção do Povo de Deus que lhe é confiada, ajudado pelo Presbitério.

O mistério da Igreja realiza, pois, em nossos dias, estas palavras proféticas de Ezequiel, anunciadas durante a noite dolorosa do cativeiro de Babilónia.

A nossa missão no Reino de Cristo. É seguindo Cristo, o Bom Pastor, que seguiremos através da vida terrena até à glorificação final.

Ao mesmo tempo, o texto de Ezequiel define a nossa missão na terra, porque todos participamos, cada um a seu modo, da missão de Cristo, Bom Pastor.

– Fomentar a comunhão entre todo o rebanho e deste com Deus, através dos seus pastores.

– Retirar as ovelhas dos locais onde correm perigo que andam desgarradas, para que reencontrem o caminho, e curar as que estão feridas.

– Assumindo, ao mesmo tempo, o papel de ovelha e bom pastor, para socorrer as mais débeis.

A Lei suprema é o Amor sem fronteiras nem medida

Muitos entendem a sua vida em Igreja como uma disponibilidade para receber pontualmente as ajudas espirituais que ela pode oferecer: rezar, frequentar a Eucaristia dominical e os Sacramentos e marcar os grandes momentos da vida com um sinal cristão: batismo, casamento e funeral.

Há ainda quem entenda que pertencer à Igreja é entrar num meio de transporte o qual, sem qualquer preocupação da sua parte, os levará ao Céu.

O Senhor delineou a Sua Igreja como uma família e nesta, a virtude fundamental é a solidariedade, ou seja, a comunhão, a caridade mútua, com todas as consequências.

Devem fazer-nos pensar as lições do Evangelho hoje proclamado.

O primado da caridade. No Evangelho do Juízo final, que nada vai modificar do que se passou no Juízo particular, logo a seguir à morte, todas as afirmações de Cristo referem-se ao exercício da caridade: «Vinde, benditos de Meu Pai, recebei como herança o Reino que vos está preparado desde a criação do mundo. É que Eu tive fome, e vós destes-me de comer. porque tive fome

A identificação de Cristo com as pessoas carenciadas. Ele está misteriosamente presente naqueles que nós socorremos: «Em verdade vos digo: na medida em que o fizestes a um destes Meus irmãos mais pequeninos, a Mim o fizestes».

A gravidade dos pecados de omissão. Muitos auto-justificam-se, dizendo que nada fizeram de mal na vida.

Jesus Cristo julga os que são condenados e encontra-os com a culpa dos pecados de omissão: «tive fome, e não Me destes de comer, tive sede e não Me destes de beber, vinha de fora e não me recolhestes».

Deste serviço aos outros pode fazer parte também o compromisso político, se o Senhor nos deu qualidades para isso, mesmo quando o preço desta actuação é o sacrifício da tranquilidade e até dos próprios bens.

Talvez encontremos aqui uma das razões mais importantes do aparente fracasso do Reinado de Cristo em nossos dias: há muitas pessoas boas que encolhem os braços, não se cansam de olhar o espelho, para se consolarem com a sua «bondade», mas não fazem nada pelos outros.

A lei fundamental do Amor. Corremos o risco de esquecer o principal do nosso ser-Igreja: a Lei fundamental é o Amor e o amor são obras, e não apenas palavras belas.

Para nos lembrar esta necessidade imprescindível de nos entregarmos ao serviço dos irmãos mais carenciados, o Senhor reúne-nos no Primeiro Dia da semana, renovando o Sacrifício da vida que ofereceu ao Eterno Pai por nosso resgate.

Envia-nos, depois, pelos diversos caminhos da terra, a levar esta mensagem de Amor e de Alegria.

Nesta aventura em que nos lançamos desde o nosso Batismo, contamos com a ajuda da melhor das Mães. Invoquemos a sua ajuda, para que, de mãos dadas, ajudemos todos a construir o reinado de Cristo.

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