21 de agosto de 2022 – 21º Domingo do Tempo Comum – Ano C

 Virão muitos do Oriente e do Ocidente

Os textos litúrgicos recordam-nos o chamamento universal de Deus à salvação e o esforço pessoal que temos de fazer para aceitar o desígnio divino.

Na primeira leitura, o profeta Isaías aponta-nos a universalidade da salvação que Deus oferece a todos os povos da terra. Os pagãos também são convidados para o serviço divino. Isaías, numa visão magnífica, contempla a chegada à cidade santa de Jerusalém, de homens provenientes de todos os povos, trazendo oferendas para Deus.

O Apóstolo São Paulo escreveu estas palavras ao seu discípulo Timóteo: “Exorto que se façam súplicas, orações, intercessões, e acções de graças por todos os homens, pois isto é bom e agradável diante de Deus nosso Salvador, o qual deseja que todos os homens sejam salvos e cheguem ao pleno conhecimento da verdade. Porque há um só Deus, e um só Mediador entre Deus e os homens, Jesus Cristo. Ele deu-se a si mesmo em resgate por todos.”[1] Com base nesta passagem bíblica podemos concluir que “Deus quer que todos se salvem.” Entre os muitos caminhos para chegar à salvação, o mais seguro é o da fé cristã, porque Jesus é o Caminho que nos conduz ao Pai.[2] Jesus é “a salvação que Deus colocou ao alcance de todos os povos.” (Luc 2,30-31) Jesus é o “Único Mediador entre Deus e os homens.” Morreu por todos. Derramou o seu Sangue pela Redenção de toda a humanidade: “Bebei todos, porque este é o meu sangue, sangue da Aliança que vai ser derramado por todos, para remissão dos pecados.” (Mat 26, 27-28)

 Jesus enche-nos de esperança, ao dizer que “virão muitos do Oriente e do Ocidente, do Norte e do Sul e sentar-se-ão à mesa do Reino.” (Luc 13,29) O banquete do Reino é para todos. Colocamos em Jesus toda a nossa confiança. Ele espera por nós na alegria do banquete eterno: “Vós estivestes sempre comigo nas minhas tribulações. E Eu preparo para vós um reino, como meu Pai o preparou para Mim: comereis e bebereis à minha mesa, no meu reino.”[3] Vamos semeando a esperança, desejando uma nova primavera da nossa Igreja santa, católica, apostólica. Na vida terrena já temos a grande alegria que nos vem da garantia da Palavra divina. Jesus afirmou: “Esta é a vontade de meu Pai, que não se perca nem um só daqueles que me deu. Porque a vontade de meu Pai é que todo o que olha para o Filho e acredita n’Ele tenha a vida eterna, e eu o ressuscitarei no último dia.” (João 6, 39-40) E noutra passagem: “Deus amou tanto o mundo, que lhe deu o Seu Filho para que todo aquele que acredita não pereça, mas tenha a vida eterna.” (Jo 3,16) Cheios de gratidão, rezamos com Igreja: “Pai Santo, nós Vos louvamos e damos graças por Jesus Cristo. N’Ele quisestes restaurar todas as coisas. Pelo Seu sangue derramado na cruz destes a paz a todo o universo e salvação eterna a todos os que Lhe obedecem.” (Prefácio Comum I)

“O cristão há-de mostrar-se sempre disposto a conviver com todos, a dar a todos a possibilidade de se aproximarem de Jesus. Há-de sacrificar-se gostosamente por todos sem distinção. Não pode separar-se dos outros, porque a sua vida deve “fazer-se tudo para todos, para salvar a todos.”[4]

Com o Santo Padre, o Papa Francisco, sonhamos com uma Igreja, que oferece uma grande esperança de renovação. “Igreja com as portas abertas”, Igreja sem medo, anunciando a Boa Nova, não só com palavras, mas sobretudo “com uma vida transfigurada pelo fogo do Espírito Santo.” 

O Santo Padre gostaria de nos ver cheios de coragem, cheios de alegria, evangelizando com ardor, “cheios de amor contagiante.” 

“A dinâmica de justiça e de ternura, de contemplação e de caminho para os outros faz da Virgem Maria um modelo eclesial para a evangelização. Pedimos-lhe que nos ajude, com a sua oração materna, para que a Igreja se torne uma casa para muitos, uma mãe para todos os povos e torne possível o nascimento de um mundo novo.”[5]

O destino universal da salvação também foi posto em evidência pelo Concílio Vaticano II. O chamamento universal não admite exclusão de povos nem de línguas, nem de épocas, nem de categorias sociais: «Aos que se voltam com fé para Cristo, autor da salvação e princípio de unidade e de paz, Deus chamou-os e constituiu-os em Igreja, a fim de que ela seja para todos e cada um, o sacramento visível de salvação.” (LG 9).

 

Porta estreita

 “Senhor, são poucos os que salvam?” (Luc 13,22)

Jesus não responde directamente, como que a dizer-nos que não nos compete saber a resposta. Se toda a humanidade se salvasse, nós poderíamos cair no “quietismo” ou na ociosidade, descansando na certeza de que já estamos salvos. Se são poucos os que se salvam, poderíamos desanimar. Para que fazer tanto esforço, se a salvação é para um pequeno número de pessoas? É verdade que Jesus nos convida a entrar pela “porta estreita,” e diz que “muitos tentarão entrar, sem conseguirem,” mas ensina-nos que todos podemos alcançar a salvação e diz-nos como devemos fazer: “Esforçai-vos por entrar pela porta estreita.”[6] Ficamos a saber que não se entra automaticamente e com facilidade. O esforço supõe da nossa parte colaboração, humildade e confiança na misericórdia divina. São Paulo recorda aos Efésios que a salvação não se conquista pelos nossos méritos: “É pela graça que somos salvos, por meio da fé. A salvação não vem de nós, é dom de Deus. Não se deve às obras, ninguém se pode gloriar.” (Ef 2,8-9) O cristão não conhece a palavra desânimo, porque Jesus confidencia-nos: “Digo-vos estas coisas para que em mim tenhais a paz. No mundo tereis tribulações, mas tende bom ânimo. Eu já venci o mundo.” Devemos “levantar o pé”, desejando seguir Jesus, que nos garante: “Em verdade vos digo, Eu sou a porta. Quem entrar por mim será salvo.” (Jo 10,9) Devemos fazer o que está ao nosso alcance, sem inquietação, sem angústia, como se tudo dependesse de nós. Depois, devemos confiar plenamente em Deus porque sabemos que “tudo é graça.”

 

O Senhor corrige aquele que ama (Heb 12,5)

O Evangelho de hoje faz-nos pensar que não há lugares reservados no Céu para gente privilegiada. Não basta sermos baptizados, ir à Missa e dizer: “Senhor, comemos e bebemos contigo e Tu ensinaste nas nossas praças.” Jesus responderá: “Não vos conheço. Afastai-vos de mim, todos os que praticais a iniquidade.”[7] É um bom sinal pertencermos a um movimento ou a uma comunidade religiosa, mas isso não garante uma salvação automática. Temos de ser coerentes. Não queremos “praticar a iniquidade.” A nossa fé em Deus manifesta-se no Amor ao próximo. É pela prática da justiça que se vêem os frutos da caridade fraterna, e só “quem perseverar até ao fim será salvo.” (Mat 24,13)

“Assim como um homem corrige o seu filho, assim te corrige o Senhor teu Deus.”

Guardarás os mandamentos do Senhor teu Deus e andarás com temor em seus caminhos. (Deut 8, 5-6)

A Bíblia é o livro da pedagogia de Deus e pode ser comparada ao amor de um pai para com os seus filhos. “Qual é filho a quem o Pai não corrige?” (Heb 12,7) Sabemos que a correcção é para nosso bem, uma vez que é feita por um pai que nos ama. Jesus fez-nos esta confidência no Evangelho de São João: “Filhinhos, o próprio Pai vos ama.” (Jo 16,27) Por isso, embora nos custe, pois nenhuma correcção, quando se recebe, é considerada como motivo de alegria, mas de tristeza, aceitemos a correcção, porque, mais tarde, produziremos frutos de paz. Deus serve-se de muitos meios para despertar em nós o desejo profundo da salvação. Um desses meios é a penitência que conduz ao arrependimento e à conversão. Deus falou muitas vezes através dos profetas, convidando o pecador ao arrependimento: “Eu não quero a morte do pecador, mas quero que se converta e viva.” (Ez 18,23) Aceitemos o convite do autor da Carta aos Hebreus: “Meu filho não desprezes a correcção do Senhor, porque o Senhor corrige aquele que ama.” A voz de Deus que nos convida ao arrependimento e à penitência continua a fazer-se ouvir através da pregação da Igreja de todos os tempos: “Arrependei-vos e acreditai no Evangelho.” (Marcos 1,15)

 “Sob todos os pontos de vista, a mortificação é de uma importância extraordinária. Por razões humanas, pois quem não sabe dominar-se a si mesmo jamais influirá positivamente nos outros, e o ambiente o vencerá, sempre que afague os seus gostos pessoais: será um homem sem energia, incapaz de um esforço grande, quando for preciso. Por razões divinas: não te parece justo que, com estes pequenos actos de penitência, demonstremos o nosso amor Àquele que deu tudo por nós?”[8]

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