18 de fevereiro de 2024 – 1º Domingo da Quaresma -Ano B

Todos os anos, no primeiro domingo da Quaresma, o trecho evangélico trata o tema das tentações de Jesus no deserto.

Notemos, antes de mais, que é o Espírito que, logo após ter pousado em Jesus, como uma pomba, o impele para O deserto.

Se «tentar» fosse equivalente a «incitar ao mal», então poderíamos dizer que o Espírito não lhe fez um grande favor; no Pai-nosso, de facto, nós pedimos a Deus que «não nos deixe cair em tentação». E, no entanto, vemos com frequência que, na Bíblia, Deus põe à prova as pessoas que escolhe, não os malvados.

Há tentações que não são absolutamente instigações ao mal: são as situações que também o homem justo deve enfrentar, os momentos nos quais deve fazer escolhas e que constituem ocasiões favoráveis para tornar mais sólida a própria fé.

Quem quer crescer, melhorar, purificar-se, reforça a sua adesão a Deus não pode ser poupado a estas provas. Nem mesmo Jesus o foi, e isto aproxima-o de nós, coloca-o ao nosso lado, porque também Ele «foi provado em tudo como nós, excepto no pecado».

O evangelista coloca a prova de Jesus no deserto. Porquê? O que representa este lugar?

Não há dúvida que Jesus, assim como o Baptista e muitos outros ascetas do seu tempo, deve ter passado um período da sua vida em solidão, meditando e rezando nalguma gruta da região árida e desolada que se estende ao redor do mar Morto. Então perguntamo-nos: terá pretendido Marcos abreviar o tempo em que Jesus foi tentado, reduzindo-o à duração desta breve experiência? Não pode ser: isso não só iria contradizer a afirmação que acabámos de citar da Carta aos Hebreus, como tornaria Jesus uma pessoa estranha, alguém que foi poupado às nossas dificuldades, que gozou de privilégios e que foi apenas aflorado – ou talvez nem sequer isso – pelas angústias e as dúvidas que nos acompanham durante toda a vida. Um Jesus assim deixaria de ter interesse para nós.

O número quarenta esclarece, inequivocamente, a intenção do evangelista: na simbologia bíblica indica toda uma geração, com particular referência à geração que atravessou o deserto, que aí foi tentada e que por lá morreu. Deste modo, é toda a vida de Jesus que é representada nestes quarenta dias passados no deserto: durante toda a sua vida, Ele esteve submetido à prova. Entrou no deserto logo após o batismo de João: iniciou o seu êxodo, empreendeu a sua luta contra Santanás, uma luta que durou até ao momento que, vitorioso, saiu do deserto, no momento da sua morte.

E quem é Satanás, esta personagem que aparece a seu lado? O termo hebraico satan não é um nome próprio de pessoa, mas um nome comum: indica aquele que se põe contra, que se coloca defronte, como adversário e acusador. Era imaginado, no tempo de Jesus, como um espírito mau, inimigo do bem do ser humano, destrutor da obra de Deus. No nosso texto é a personificação de todas as forças do mal contra as quais Jesus

lutou, durante os «quarenta dias» da sua breve vida na terra.

Este antagonista de Deus e do ser humano apresenta-se hoje nos impulsos ao ódio, ao rancor, ao egoísmo, na cobiça do ter, na avidez do domínio, nas paixões desregradas que produzem coeeupção e morte. São estes os Satanás contra os quais cada ser humano, como Jesus, é chamado a confrontar-se, não com práticas de exorcismo, mas com a força do Espírito que age na palavra do Evangelho e nos sacramentos. É através desta luta interior que nos é dada a possibilidade de maturar e crescer «até que cheguemos todos ao homem adulto, à medida completa da plenitude de Cristo».

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