17 de novembro de 2024 – 33º Domingo do Tempo Comum Ano B –[Quanto mais rigoroso é o inverno, tanto mais rica de frutos é a nova estação]

Quando Marcos escreve esta página do seu Evangelho, o Império Romano está abalado por guerras, epidemias, calamidades de carestias. As comunidades cristãs foram atingidas pela perseguição e, profundamente perturbadas, já não conseguem compreender o sentido do que está acontecer. A situação crítica acende a fantasia de alguns fanáticos que, recorrendo ao anúncio da destruição do templo de Jerusalém feito por Jesus, difundem previsões sobre uma catástrofe iminente, sobre o fim de toda a criação e sobre o regresso de Cristo nas nuvens do céu.

O equilíbrio das comunidades está abalado e o evangelista sente que deve intervir. Para ajudar os Cristãos a enquadrar os acontecimentos na perspetiva justa, insere no seu livro um capítulo, o décimo terceiro 8que talvez inicialmente não estivesse programado), onde refere as palavras iluminantes do Mestre sobre este tema apocalíptico.

Antes de mais lembra a recomendação de que não se deixem enganar pelos discursos insensatos daqueles que pregam o fim iminente do mundo: «Acautelai-vos para que ninguém vos iluda. Quando ouvirdes falar de guerras, não vos alarmeis; é preciso que isso aconteça, mas ainda não será o fim. Há-de erguer-se povo contra povo e reino contra reino; haverá terramotos em vários lugares, haverá fome. Isto será apenas o princípio das dores».

Não será o fim, mas o início das dores. O que se deve então esperar? Um agudizar-se da dor? Uma dramática agonia do mundo, prelúdio da morte da criação ou de um novo nascimento depois do trabalho de parto?

A esta questão Mateus responde com as palavras do Mestre referidas no Evangelho de hoje.

O trecho abre-se com as imagens típicas da literatura apocalíptica: «O sol escurecerá e a Lua não dará a sua claridade; as estrelas cairão do céu e as forças que há nos céus serão abaladas».

Parece o prelúdio da cena do juízo final descrita no Evangelho de Mateus. Fica-se quase sem respiração, à espera que Jesus continue: «E o Filho do homem separará as pessoas umas das outras, como o pastor separa as ovelhas dos cabritos…».

O sentido da imagem dos anjos que reúnem os eleitos dos quatro pontos cardeais é completamente diferente. Não é o anúncio de um julgamento, não se refere nenhum castigo; a mensagem não tem nada de ameaçador, é a resposta consoladora dada por Marcos às suas comunidades que atravessam um momento dramático. São perseguidos, sofrem vexames, muitos cristãos são mortos e infelizmente há também entre eles – e este é o aspeto mais doloroso – discórdias e divisões; há até mesmo quem atraiçoa os irmãos na fé, os denuncia e os acusa diante dos tribunais pagãos. Estão longe os tempos em que os discípulos «eram um só coração e uma só alma», agora sentem-se à mercê das forças do mal, como folhas levadas para longe por ventos impetuosos, estão desorientados e são incapazes de reagir.

A estes cristãos, tentados a desistir, Marcos recorda a promessa feita por Jesus: o Filho do homem não permitirá que sejam dispersos; através dos seus anjos reuni-los-á de toda a terra.

A mensagem é, portanto, de alegria e de esperança: nem um sequer dos eleitos será esquecido, nenhum se perderá.

Só o Pai e mais ninguém conhece o dia e a hora em que o reino de Deus se realizará plenamente. No entanto, há sinais evidentes que mostram que o momento decisivo se aproxima. Os cristãos desenvolvem a sensibilidade e o olhar atento do agricultor que sabe ver em tudo o que acontece os sinais da nova estão.

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