17 de março de 2024 – 5º Domingo da Quaresma – Ano B

À medida que nos aproximamos do final da Quaresma – esta é  a semana que antecede a celebração dos grandes acontecimentos em Jerusalém, em que o grão de trigo vai ser lançado à terra para morrer e deixar sair toda a força que traz dentro de si -, vai ficando, cada vez mais claro para nós o que nos espera: a proposta de uma Nova Aliança, gravada no coração; o Mandamento Novo do Senhor, uma nova gramática de vida: onde uma vida dada gera vida; uma vida entregue gera esperança e uma nova solidariedade, uma nova liberdade e uma nova comunidade.

Neste ponto do nosso caminhar a Liturgia pergunta-nos: que frutos tens produzido? Que mudanças aconteceram na tua vida e nas tuas relações com Deus e os irmãos? Os pobres e aflitos encontraram em ti um olhar que se compadece e um coração que vê e atua em consequência…? Também tu queres ver Jesus e aceitar a sua proposta de ser lançado à terra, perdendo a vida, para poder dar fruto abundante?

 

1. Dai-me, Senhor, um coração puro

Para que isso aconteça o Senhor propõe-nos, através do profeta Jeremias (1ª leitura), uma nova aliança. Ele quer imprimir a Sua Lei e preceitos no nosso coração e não em tábuas de pedra ou em rolos de papel. Ou seja, Deus quer que a sua Lei esteja onde nascem os pensamentos, onde se definem os valores, se decidem as ações e se assumem responsabilidades. Ele não quer que volte a acontecer connosco o que aconteceu com o povo da Aliança do Sinai que aderiu à aliança mas mais com a boca do que com o coração e por isso depressa a esqueceu e continuou a trilhar caminhos de infidelidade, de injustiça, de auto suficiência, de pecado.

Só com um coração puro, continua o profeta, tocado, purificado e transformado pela graça do Amor e da misericórdia de Deus, o crente poderá viver na fidelidade à Aliança, na obediência aos mandamentos e no respeito pela lei. Só assim ele será capaz de amar porque foi amado e perdoado por Deus.

Desafio: pede ao Senhor, como o salmista: dai-me, Senhor, um coração puro… e fazei nascer dentro de mim um espírito firme; acolhe e deixa-te transformar pelo dom de Deus; renuncia ao egoísmo e a esses caminhos de recusa e indiferença para que possas testemunhar a vida de Deus nos gestos simples do dia a dia.

 

2. Chegou a hora de ver para ser grão de trigo

O projeto de uma nova Aliança entre Deus e o seu povo concretiza-se em Jesus quando, chegou a hora em que o Filho do Homem foi glorificadoE, elevado na cruz, atraiu todos a si, deixando-se morrer na terra, como o grão de trigo para explodir em colheita abundante (Evangelho).

O episódio deu-se poucos dias antes dos acontecimentos da última Páscoa de Jesus. Há um grupo de gregos simpatizantes do judaísmo, que se encontra em Jerusalém para as festas pascais e adorar a Deus no templo. Mas eles desejam mais: querem ver Jesus, encontrar-se com Ele, conhecer o Seu projeto, tomar contacto com a proposta de Salvação que Ele veio oferecer, e, até quem sabe, acreditar nas Suas palavras, na vida renovada que Ele propõe e convida a abraçar. Filipe e André fazem chegar este pedido ao Mestre.

A resposta de Jesus à primeira vista é desconcertante: perante os pagãos que queriam conhecê-l’O, Jesus anuncia a sua morte. Jesus fala de si, fala dos seus clamores e lágrimas que ninguém vê, da Sua entrega iminente, fala da sua obra e do fim da Sua missão. E acrescenta: se quereis ver-me, olhai o grão de trigo… Se quereis compreender-me, olhai a cruz, porque, quando eu for elevado da terra, atrairei todos a mim.

Duas imagens, o grão de trigo e a cruz. É esta a autoapresentação de Jesus. É aí, nessa anulação que Jesus vê frutificar a abundância da Vida Nova. É crucificado que Jesus é elevado. E é na cruz que Ele se dá a ver, atraindo todos a si. Pois daí Ele lança o seu olhar à terra infértil dos nossos corações para torná-la fecunda e quebrar todas as durezas que impedem o germinar da graça e do amor. Dali ele nos olha e diz: confiança; Quem é totalmente livre do medo, quem se esquece dos seus interesses e seguranças, quem se compromete com a luta pela justiça, pela dignidade e liberdade do homem, quem ama tanto os outros que entrega a sua vida por eles, esse dará frutos de vida e viverá uma vida plena, quem nem a morte calará.

Desafio: “Queremos ver Jesus”, é o desejo que muitos homens e mulheres têm no íntimo do seu coração. A quem irão, para que os levem a Jesus? Podemos nós levar alguém a Jesus? Se alguém se aproxima de mim, descobre o rosto de um Deus capaz de dar a vida pela ovelha perdida? Capaz de se fazer próximo para cuidar e acompanhar, como o samaritano?

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