15 de setembro de 2024 – 24º Domingo do Tempo Comum – Ano B |Pedro seguia Jesus, mas tinha confundido a meta

No Evangelho de Marcos, Jesus está sempre em movimento, e atrás dele caminham os seus discípulos; estes, desde o início, deram-se conta de seguir uma personagem extraordinária. Prestaram sempre grande atenção ao que Ele dizia às pessoas, eram sensíveis aos elogios e congratulavam-se com os consensos que recolhia já que o seu sucesso os tocava também a eles. E, no entanto, mesmo depois de meses de comunhão de vida com o Mestre, não tinham conseguido compreender a sua verdadeira identidade.

Em várias ocasiões, no início deste Evangelho, lê-se que as multidões e os próprios discípulos se puseram a perguntar: Quem é este? Tem o poder de expulsar os demónios, e faz prodígios, dá ordens às ondas do mar e estas obedecem-lhe…Quem será? Com o trecho de hoje começa a parte central do Evangelho de Marcos, aquela onde Jesus desvela o mistério, responde à pergunta que todos se põem, mostra o seu verdadeiro rosto.

Na segunda parte do trecho, Jesus começa a ensinar aos discípulos que o Filho do homem deverá ainda sofrer muito, que não está destinado ao sucesso, mas ao fracasso, que não triunfará sobre quem se opõe ao seu projeto mas será derrotado. Não vai a Jerusalém para pôr em fuga os seus inimigos, mas para lhes dar a sua vida.

Começa a ensinar. Esta afirmação do evangelista deixa transparecer um certo embaraço, uma certa desilusão do professor que, a meio do ano escolar, depois de ter repetidamente explicado uma lição, se dá conta de ter que recomeçar do início porque os alunos não conseguiram assimilar nada.

Os discípulos não podem entender nem aceitar a prespetiva do dom da vida. Não foi por isto que abandonaram a casa, o barco, a família, para seguirem o Mestre. Onde os quer levar? À ruína e à derrota?

Jesus não retira uma única palavra, antes pelo contrário, repete-lhe por duas vezes: «O Filho do homem vai ser entregue nas mãos dos homens que o hão-de matar»; «Eis que  subimos a Jerusalém e o Filho do homem vai ser entregue aos sumos sacerdotes e aos doutores da Lei, e eles vão condená-lo à morte e entrega-lo aos gentios. E hão-de escarnece-lo, cuspir sobre Ele, açoitá-lo e matá-lo. Este último anúncio é particularmente dramático porque enumera, de forma detalhada, quase pedante, as seis obras que constituem a resposta do homem ao Senhor que vem ao seu encontro para lhe oferecer a salvação. Segue-se depois uma sétima: «Três dias depois, ressuscitará», mas esta será obra de Deus.

A lógica humana não pode ficar senão desorientada perante uma tal perspetiva, e de facto Pedro, em nome de todos, reage, não por ter medo dos sacrifícios, até porque sabemos que ele estava disposto a arriscar a sua vida, se fosse necessário, mas porque quer vencer, e não perder. Tem dificuldade em aderir a um projeto absurdo, não pode aceitar ir por uma estrada que leva ao fracasso, e por isso tenta fazer com que o Mestre mude de ideias.

A resposta de Jesus a Pedro que o quer desviar do seu caminho é dura: «Vai-te, satanás!» Ele não pretende afastar de si Pedro, mas pô-lo no bom caminho. As suas palavras não significam: «Vai embora», mas sim «vem atrás de mim», «fica comigo enquanto vou para a minha vida».

Pedro cometeu o erro de passar à frente do Mestre. Movido pelas suas convicções religiosas, sentiu-se no dever de lhe indicar o caminho. Jesus convida-o a voltar ao seu lugar, atrás, e a seguir os seus passos. Chama-lhe satanás porque, tendo assimilado os pensamentos dos homens, que cegam e não deixam compreender os desígnios de Deus, sugeriu ao Mestre, sem sequer se dar conta, escolhas opostas às do Senhor.

Depois de ter reprovado Pedro, Jesus convoca a multidão.

É surpreendente que, ao longo da estrada que leva a Cesareia de Filipe, apareça inesperadamente uma multidão da qual até então não havia nenhuma referência. Marcos introdu-la em cena por uma razão teológica: nesta multidão ele vê personificada a multidão dos cristãos das suas comunidades. Quer põ-los perante as severas condições postas por Jesus a quem quer segui-lo. São exigências que não podem ser mitigadas ou tornadas mais aceitáveis; podem apenas ser aceites ou rejeitadas, mas não são negociáveis. A radicalidade desta escolha, que não admite descontos, atrasos e reconsiderações, é evocada com três imperativos: «Renuncia a ti mesmo, toma a tua cruz, segue-me».

É a inversão da lógica deste mundo. O ser humano tem radicada no próprio coração a tendência a «pensar em si mesmo», a pôr-se no centro dos interesses, a procurar em tudo tirar proveito do que lhe é vantajoso e a desinteressar-se dos outros. Quem escolhe seguir a Cristo é chamado, antes de mais, a rejeitar esta atitude egoísta, a renunciar às escolhas ditadas pelo interesse próprio.

O discípulo que «deixou de pensar em si mesmo» não toma minimamente em consideração os efeitos positivos que possam ter para a sua pessoa as ações que realiza. Não pensa sequer na glória que lhe está reservada no paraíso. Ama gratuitamente, a fundo perdido, como faz Deus.

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