14 de abril de 2017 – Sexta-Feira Santa – JESUS: SERVO, REI, SACERDOTE

A Palavra de Deus apresenta-nos a síntese da vida e ação de Jesus: Ele é o Servo que carrega os pecados da humanidade (I leitura), o Rei Universal que dá a vida (relato da Paixão) e o único Sacerdote e Mediador entre Deus e os homens (II leitura).

I Leitura (Is 52, 13-53, 12: O Sevo Sofredor: A redenção pelo sofrimento

Breve visão de conjunto: A perícope é chamada «o quarto canto do Servo de Javé». É o poema de um servo de Deus que enfrenta conscientemente a dor e a rejeição até à morte e acaba por ser glorificado por isso. No texto entram em cena três personagens: Javé, um grupo anónimo de pessoas e o Servo (que é objeto de atenção por parte das outras duas personagens. Desta forma, o texto pode ser dividido assim: a) Javé pronuncia um oráculo a respeito do Servo; b) O grupo anónimo fala do sofrimento do Servo, lamentando o facto de não ter entendido a tempo o significado dessa dor; c) Intervenção de Javé em favor do Servo.

É difícil identificar o Servo. Mas o conteúdo do quarto canto é muito claro. contrariando a doutrina da retribuição (= cada um recebe pelo mal que faz), esse Servo inocente sofre (ao passo que os culpados não), é condenado, morre e torna a viver glorioso. Pura teoria? A não ser que o texto seja interpretado metaforicamente, parece que isso jamais se tenha cumprido no Antigo Testamento. Mas serve para ressaltar uma das grandes conquistas de Israel durante o exílio, ou seja, a crítica à doutrina da retribuição, o valor do sofrimento redentor, a vitória do oprimido e a vida após a morte. Em tudo isto se manifesta misericordiosamente «o braço do Senhor» que, solidário com o sofredor, intervém para O glorificar.

Lendo este texto, as primeiras comunidades cristãs percebem que foi inteiramente realizado na Paixão de Jesus.

II Leitura (Heb 4, 14-16; 5,7-9): Jesus, Sumo Sacerdote digno de fé em relação a Deus e misericordioso em relação aos homens.

Assim chamada carta aos Hebreus não é uma carta, mas sim um discurso sobre o sacerdócio de Cristo. O autor é um cristão anónimo que, aí pelo ano 80, escreveu a cristãos tentados de desânimo e em perigo de rejeitarem a fé em Jesus revelador e portador da salvação. Os motivos de desalento desses cristãos eram: o ter que suportar sofrimentos por serem cristãos, a tentação de voltar às formas já superadas do culto judaico e o afrouxamento diante da demora da salvação final.

O presente texto pertence a uma parte que pode ser intitulada: Jesus, Sumo Sacerdote digno de fé e misericordioso. Ele é digno de fé porque preencheu todos os requisitos que Deus tencionava realizar. A Sua credibilidade perante Deus foi plena. Por isso, a humanidade adere a Ele com plena confiança. Sendo plenamente confiável perante Deus, Ele é também Sumo Sacerdote misericordioso em relação aos homens, por ter experimentado a nossa condição humana, conhecendo as nossas fraquezas. Por meio do sofrimento tornou-Se obediente, de uma obediência tal que, se os homens a fizerem sua aderindo a Ele saborearão a salvação eterna.

Jesus abriu o caminho de acesso a Deus. Não o fez como o faziam os sumos sacerdotes da antiga Aliança, que se apresentavam diante de Deus, no Santo dos Santos, com o sangue das vítimas, mas penetrando no céu, tendo derramado o próprio sangue para o perdão e salvação da humanidade. Ele é, portanto, o único Caminho e Mediador entre Deus e os homens.

Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São João (18,1-19,42); Jesus, único verdadeiro Rei.

  1. Jesus é o doador da vida nova. O relato da paixão segundo S. João começa e termina num jardim. É uma alusão ao jardim do Éden, onde o homem não soube comportar-se como verdadeiro homem, rejeitando a vida para escolher a morte, Jesus ensina o modo de possuir a vida: dando-a gratuitamente em favor dos outros. Diante de Jesus, o homem tem duas opções: ou O reconhece e se compromete com Ele, ou acaba por aderir a quem O rejeitou e condenou, anulando assim a possibilidade de ter a vida. Ele é Rei porque cumpre até ao fim a vontade do Pai, que é a de amar de tal modo a ponto de entregar o seu Filho único. Na Paixão segundo S. João, Jesus é o verdadeiro Rei. João evita, por isso, falar dos maus tratos que Jesus sofre. Ao falar dos soldados que fazem troça de Jesus, coroando-O de espinhos e vestindo-O com um manto de púrpura, o autor do IV Evangelho ironiza a desmascara os poderes deste mundo, ressaltando ainda mais que a realeza de Jesus é diferente.

Na cruz Jesus atua plenamente a realeza, da qual beneficiarão os povos (os soldados que repartiram as vestes). João evita pôr na boca de Jesus a palavras «Meu Deus, Meu Deus, porque me abandonastes?»: ele dá a entender que o Rei está plenamente consciente do que faz. Outro indício da Sua realeza é o da quantidade de perfumes usados no sepultamento de Jesus: mais de 32 quilos, quantidade empregada só para enterro de reis. Ungindo assim o corpo de Jesus, Nicodemos, na realidade, prepara o esposo para a festa de casamento com a humanidade.

  1. Jesus é o Cordeiro de Deus. Jesus morre durante a Preparação da Páscoa dos judeus. João faz coincidir a morte de Jesus com o momento em que no templo eram imolados os cordeiros para a Páscoa dos judeus. Com essa coincidência de eventos ele faz ressaltar que o verdadeiro Cordeiro Pascal é o que foi imolado na cruz, cujo o sangue redime a humanidade, conferindo-lhe vida nova (não como o sangue do cordeiro em Ex 12,7), e de cujo corpo a nova humanidade se irá nutrir. Ele é o pão descido do céu, que dá a vida ao mundo. É o verdadeiro Cordeiro.

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