13 de fevereiro de 2022 – 6º Domingo do Tempo Comum – Ano C

Celebramos o sexto Domingo do tempo comum. Na primeira leitura o Profeta Jeremias põe frente a frente a auto-suficiência daqueles que escolhem viver à margem de Deus, com a atitude dos que confiam em Deus e alcançam a felicidade. O salmista confirma esta verdade: Feliz o homem que pôs a sua esperança no Senhor. Jesus proclama “Bem-aventurados” aqueles que choram e infelizes os que preferem o egoísmo.

 

Bendito o homem que confia no Senhor.

O profeta Jeremias louva aqueles que acreditam em Deus e confiam na divina providência e faz a denúncia de quem se apoia nos homens, prescindindo de Deus. Certamente que devemos confiar nas pessoas que nos rodeiam, mas não devemos colocar toda a nossa confiança nas pessoas e nos bens terrenos. Não contar com Deus significa construir uma existência efémera, como um “arbusto plantado no deserto.” Todos conhecemos o sofrimento provocado pela desilusão que resulta da confiança que tínhamos em alguém que nos atraiçoou. Por outro lado, quem confia e coloca em Deus a sua esperança é como “uma árvore plantada à beira da água, que estende as suas raízes para a corrente.” Esta comparação tranquiliza-nos. Com Deus na nossa vida temos segurança e produziremos frutos com abundância.

Bendito o homem que confia no Senhor. Feliz o homem que pôs a sua esperança no Senhor.

 

 

Bem-aventurados.

Bem-aventurados! Felizes! Jesus escolheu esta palavra para iniciar todas as frases do Sermão da Montanha. A primeira homilia de Jesus é sobre a felicidade. “Bem-aventurados os pobres que o são no seu íntimo, porque deles é o Reino dos Céus!” Felizes os que confiam na misericórdia de Deus, nosso Pai! O início do Novo Testamento é alegre, prometendo-nos a felicidade do Reino dos Céus.

As Bem-aventuranças que hoje lemos no Evangelho de S. Lucas são diferentes daquelas que S. Mateus escreveu. S. Lucas apresenta-nos Jesus, descendo do monte na companhia dos Apóstolos; deteve-se num sítio plano, com uma numerosa multidão. “Ergueu os olhos para os discípulos e disse: Bem-aventurados vós os pobres.” Esta mensagem de carácter social revela o amor preferencial de Deus pelos pobres. S. Lucas dirige-se a pessoas concretas, que não têm bens materiais. Os destinatários das bem-aventuranças no Evangelho de São Lucas são os que têm fome, os que choram, os que são perseguidos. A palavra “pobres”, equivale a “anawim” em hebraico e define uma classe de pessoas desprotegidas, exploradas, privadas de bens e à mercê da prepotência dos ricos. Os pobres são os primeiros destinatários da salvação de Deus, porque eles estão mais abertos para acolher a bondade divina.

 

“Ai de vós os ricos”

As “maldições”, ou os quatro “ais” aos ricos, denunciam a maneira de pensar dos que não estão disponíveis para acolher a Boa Nova do reino dos Céus: “É difícil a um rico entrar no reino dos Céus.” (Mt 19,23) “Como é difícil aos que possuem riquezas entrar no reino dos Céus.” (Marcos 10, 17-30) O terrível poder do dinheiro leva Jesus a dizer: “Vós não podeis servir a Deus e ao dinheiro” (Lc 16,13). O rico fecha o seu coração e não consegue ver o pobre Lázaro que está à sua porta (Lc 16, 19-31). Na Parábola do semeador Jesus afirma que a preocupação da riqueza sufoca a Palavra de Deus (Mt 13,22).

A interpretação das Bem-Aventuranças segundo S. Mateus convida a todos, ricos ou pobres, ao desprendimento espiritual, à conversão do coração. A interpretação segundo S. Lucas convida-nos a todos a transformar as estruturas da sociedade para que haja menos gente desfavorecida. Para escutar as bem-aventuranças em Mateus, é preciso subir à montanha. Para viver segundo o espírito do Evangelho de S. Lucas, é preciso “determo-nos num sítio plano,” isto é, precisamos de estar inseridos e interessados na vida real de todos os dias: “Bem-aventurados vós, os pobres, os que agora tendes fome, os que agora chorais. Alegrai-vos e exultai, nesse dia, porque é grande no Céu a vossa recompensa.”

“Ai de vós os ricos.” Que tristeza quando a irmã morte nos vier dizer como ao homem rico que confiava nos bens armazenados no novo celeiro: “Insensato. Esta noite terás de entregar a tua alma e as riquezas que acumulaste serão para quem?” (Lc 12, 16-20). É sempre actual esta passagem do Salmo, descrevendo a morte do rico: “Quando morrer nada levará consigo, a sua fortuna não o acompanhará.” (Salmo 48,18) Mas também podemos recordar a felicidade de “José, homem rico de Arimateia, que era membro do Conselho e discípulo de Jesus.”[1] A influência deste homem junto de Pilatos, facilitou a sepultura de Jesus. Felizes os ricos que utilizam os bens deste mundo, exercendo a misericórdia para com os necessitados. Não precisam de ter seguro de vida, pois estão certos de que com os bens passageiros deste mundo alcançarão os bens eternos do Céu.

“Deus confiou-nos as riquezas para ajudarmos os pobres. Não desperdicemos os nossos bens: ter uma casa, liberdade, saúde, tudo isso nos foi confiado por Deus para o pormos ao serviço dos que são menos afortunados do que nós. Jesus disse: «o que fizerdes ao mais pequenino dos meus irmãos, é a Mim que o fazeis» (Mt 25,40). A única coisa que pode entristecer-nos é ofender Nosso Senhor por egoísmo ou por falta de caridade para com os outros. Devemos partilhar o que recebemos, incluindo a nossa própria vida. Todos nós desejamos ser felizes. Fomos criados para isso e só podemos encontrar a felicidade e a paz “amando a Deus e amando o próximo”. O amor traz-nos a alegria e a felicidade. Muitas pessoas pensam que viver fazendo o que lhes apetece as torna felizes. É muito difícil ser feliz na riqueza, porque as preocupações para ganhar dinheiro e o conservar nos afastam de Deus. (Santa Teresa de Calcutá)

 

Ressurreição

A segunda leitura fala da nossa ressurreição como consequência da ressurreição de Jesus. A leitura de hoje continua a catequese sobre a ressurreição que S. Paulo apresenta na Primeira Carta aos Coríntios. Depois de ter afirmado a ressurreição de Cristo (1 Cor 15,1-11), o Apóstolo afirma a realidade da nossa ressurreição. Esta doutrina não era compreensível para a filosofia grega. A cultua helénica não aceitava a ressurreição porque considerava o corpo uma prisão para a alma; sendo assim, o corpo não podia ressuscitar. São Paulo ensina que a nossa fé em Jesus ressuscitado nos oferece a certeza da nossa ressurreição. Não esperar a ressurreição dos mortos equivale a não acreditar na ressurreição de Jesus. Ora, se Cristo não tivesse ressuscitado, os cristãos seriam “os mais miseráveis de todos os homens”. Mas nós temops a certeza: “Cristo ressuscitou dos mortos, como primícias dos que morreram” (1 Cor 15, 20). 

  “ Consideremos, amados irmãos, como o Senhor nos manifesta continuamente a verdade da nossa futura ressurreição. Pensemos na ressurreição que nos mostra a lei do tempo. O dia e a noite falam-nos da ressurreição. Vai-se a noite e desponta o dia; morre o dia e vem a noite. Tomemos como exemplo os frutos da terra. Como se faz a sementeira e como germina a semente? Sai o semeador e lança a semente à terra. Os grãos da semente, secos e nus, caem na terra e desagregam-se; mas a maravilhosa providência do Senhor fá-los ressuscitar desta mesma desagregação, e de um só grão nascem muitos, que crescem e dão fruto.  Com esta esperança, unam-se as nossas almas Àquele que é fiel às suas promessas. Reavive-se a nossa fé e acreditemos que tudo é possível para Deus.”[2]

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