12 de setembro de 2021 -24º Domingo do Tempo Comum – Ano B

A liturgia da Palavra deste 24.º Domingo do tempo comum leva-nos a refletir sobre o modo como vivemos a fé cristã que dizemos professar. Podemos dizer-nos cristãos porque frequentamos a igreja? Não pensaremos em termos de sucesso, glória, honras humanas, em ficar nos primeiros lugares?  Recitamos muitas fórmulas e fazemos muitas profissões de fé, não pomos em dúvida as verdades que nos ensinaram na catequese, mas será que apenas pronunciamos palavras sem descobrir o seu real significado?

Mais que nunca, devido à influência da sociedade atual, somos tentados a pensar em nós mesmos, a pormo-nos no centro dos interesses, a procurar tudo aquilo que nos proporciona vantagens, o que necessariamente nos afasta do interesse pelos outros.

 

Ser cristão é ver o mundo com novos olhos

Mais que nunca, as pessoas se deixam seduzir por ideais efémeros, mesquinhos e enganadores. Enaltecem os que têm sucesso, que são fortes, vencedores, que se conseguem impor. Muitas vezes nos deixamos levar pelas aparências e nos apegamos a fátuas realidades que a vida acaba por desmascarar.

Confrontados estes nossos juízos com os de Deus, acabamos por constatar que os critérios que o Senhor segue são muito diferentes dos nossos. Ao longo de toda a Escritura, com mais acuidade no Antigo Testamento, verificamos que Deus escolhe preferencialmente os mais pequenos, os mais fracos e insignificantes para levar a cabo o seu projeto de salvação.

Neste trecho do profeta Isaías, que acabamos de escutar, é-nos apresentado um «Servo sofredor», homem ultrajado, humilhado, derrotado, mas que Deus não abandona nas mãos do inimigo. Pelo contrário, faz da sua obra um sucesso e mostra a todos que ele era um homem justo.

Os primeiros cristãos viram neste homem a imagem do seu Mestre, Jesus de Nazaré, rejeitado pelos seus contemporâneos, ferido, maltratado e repudiado pelos chefes religiosos e políticos do seu tempo, mas reconhecido por Deus, através da ressurreição, como verdadeiro vencedor.

Ora, o verdadeiro cristão é aquele que começou a ver o mundo e os homens com novos olhos, com os olhos de Deus; que não avalia as pessoas pelo dinheiro que possuem, pela grandeza das casas que habitam ou pelos grandes carros que têm, mas com base no amor que conseguiram demonstrar com a sua vida, a exemplo de Cristo,.

Aqui reside a fé que professamos.

 

A fé que professamos e a vida que vivemos

Assim aconteceu com os discípulos quando Jesus os interpela sobre a sua identidade. Eles haviam manifestado a opinião dos outros sobre o Mestre, mas Ele quer saber o que os discípulos tinham compreendido sobre tudo aquilo que lhes tinha ensinado e se realmente o conheciam. Acreditavam n’Ele, seguiam-n’O mas não compreendiam para onde se dirigia e qual a sua verdadeira finalidade.

À interpelação que Jesus lhes faz, é Pedro que responde em nome de todos: «Tu és o Messias». Deu uma resposta exata, mas a ideia que ele tem de Jesus é completamente errada, pois está convencido que o Mestre vai iniciar o reino de Deus na terra por meio de uma demonstração de força, com prodígios e sinais que o imponham à atenção de todos. É essa também a opinião dos outros discípulos. Mas Jesus «começa a ensinar-lhes» – diz o texto – que «tinha de sofrer muito, ser rejeitado pelos anciãos […] de ser morto e ressuscitar três dias depois».

Pedro reage por achar um projeto inaceitável que redundará em falência total. Jesus repreende-o severamente e expõe a todos claramente o que exige daqueles que o querem seguir, apontando três imperativos: «Renega-te a ti mesmo, toma a tua cruz e segue-me».

«Renega-te a ti», deixa de pensar em ti mesmo, rejeita o teu egoísmo, interessa-te pelos outros; «toma a tua cruz», que é o sinal do amor mais total, une-te a Mim, levas a cruz sempre que te sacrificas por fazer o bem, para tornar alguém feliz; e «segue-me», toma-Me como modelo, toma parte no meu projeto, vive por amor do irmão juntamente comigo.

Não é pelo facto de irmos à igreja, de impecavelmente enunciarmos as nossas profissões de fé, de rezarmos as orações que nos propuseram, de não duvidarmos das verdades que nos foram ensinadas durante o período da nossa catequese que se identificará a fé que dizemos professar.

Se continuamos a pensar no reino de Deus com base na glória, nos triunfos, nos aplausos recebidos, não estaremos a raciocinar segundo Deus, mas segundo os critérios humanos.

A vida do cristão deve ser construída com obras de amor.

 

O cristão deve construir a vida em obras de amor

De que obras se trata? Não são as práticas rituais, as liturgias solenes nos templos, as orações, as idas à igreja. Não!

É São Tiago que nos responde: a religião «pura e sem mácula» consiste em respeitar os pobres e fazer obras de misericórdia. Não se pode consolar o necessitado com palavras ocas, mas é preciso dar-lhe ajuda concreta. É possível professar a fé com palavras exatas, construir uma religião em que falta o essencial: as obras de amor pelo homem.

Nós temos admiração por pessoas que não frequentam a igreja ou até se confessam ateias, mas que são extraordinariamente generosas, disponíveis, que ajudam quem precisa e somos capazes de nos interrogarmos: mas esta gente «sem fé» como é capaz de ser tão boa?.

Se o ato de fé se reduzisse à adesão fria e racional a uma verdade revelada, de certeza que estas pessoas que desconhecem a Cristo não teriam fé. Mas o Espírito do Senhor não fica fechado numa estrutura eclesial. Ele sopra onde quer, age livremente em cada homem e inspira a fazer obras de amor.

Quem se deixa guiar docilmente pelos impulsos do Espírito, mesmo que não se aperceba, segue pelo caminho da fé, crê mais do que quem professa em voz alta as orações e os dogmas, mas não conforma a sua vida com o Evangelho.

Como nos posicionamos nós? Mostramos a nossa fé sem obras, ou as nossas obras demostram a nossa fé?

Pensemos nisto.

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