11 de setembro de 2022 – 24º Domingo do Tempo Comum – Ano C

Na liturgia deste domingo o Senhor dirige-nos palavras de confiança, chama-nos à conversão, promete o perdão, fala da alegria na casa do Pai, porque o pecador se arrependeu e voltou ao convívio familiar.

Esta mensagem deve despertar em nós o desejo de nos pormos em paz connosco próprios, com os outros e sobretudo de nos aproximarmos mais de Deus.

A infidelidade dos israelitas libertados do Egipto

O povo hebreu, depois da sua saída da escravidão do faraó no Egipto, percorreu o deserto numa marcha lenta e muito penosa. As dificuldades dessa vida errante depressa levaram ao esquecimento de todos os prodígios que o Senhor havia realizado em seu favor.

Assim, enquanto Moisés se encontra no monte a falar com o Senhor, os israelitas dão a Aarão as suas jóias e, com o ouro reunido e fundido, fazem um touro e adoram-no.  Desviado do recto caminho o povo depressa pratica a idolatria. A ideia de um Deus único e indivisível é substituído por um ídolo de fabrico humano. Moisés, alertado para o facto pela indignação de Deus, ora ao Senhor lembrando a Sua grande bondade: quanto fizera pelo seu povo e quanto lhe havia prometido. Se o pecado dos homens é grande, maior é o perdão de Deus.

 

O perdão, amor gratuito de Deus

O comportamento dos israelitas é a imagem do que fazemos também nós. Quando escutamos a palavra de Deus, sentimo-nos impelidos a segui-la com entusiasmo. Mas, passados alguns dias ou até mesmo algumas horas, tudo volta a ser com dantes.

O homem nunca deixa de ser pecador, repete sempre os mesmos pecados, não se arrepende. Mas não deve desesperar. A única maneira de obter a salvação é confiar na infinita bondade de Deus, pois o Seu amor nunca será vencido por nenhuma infidelidade, por maior que esta seja.

A oração de Moisés em favor dos seus irmãos israelitas leva o Senhor a desistir do castigo com que tinha ameaçado o seu povo.

Assim também nós, não devemos confiar apenas nas nossas forças, na nossa capacidade de realizar gestos virtuosos, pois teríamos motivos suficientes para desesperar. Ponhamos então a nossa confiança no amor gratuito de Deus e na sua misericórdia.

 

E da sua profunda misericórdia

No Evangelho deste domingo escutamos o relato de três parábolas denominadas «parábolas da misericórdia». Os destinatários destas parábolas são os fariseus e os escribas que se consideram “justos” perante Deus e são chamados, por Jesus, à conversão. Estes não compreendem o facto de Jesus acompanhar e comer com aqueles que eles consideram como pecadores.

Os pecadores, para eles, eram essa “gente perdida”, as moedas, as ovelhas perdidas, o filho esbanjador e dissoluto que regressa a casa. Agora estão todos à volta de Jesus. Vivem em casa com Ele, estão a fazer festa, comem alegremente.

Quem agora necessita de um apelo à conversão não são eles, mas os “justos”. As noventa e nove ovelhas são os “justos”, são as nove dracmas, o filho mais velho, que se arriscam a perder a festa. Não compreendendo o que está a acontecer, são apanhados de surpresa pela nova realidade.

O que Jesus quer fazer compreender é que começou uma festa organizada para gente indigna, que causa problemas aos “justos”. O comportamento de Jesus, que acolhe os pecadores e come com eles, revela o rosto de Deus que os fariseus não podem aceitar: é escandaloso.

O Deus de Jesus é Alguém que salva gratuitamente a todos, é Alguém que raciocina com o coração; é Alguém que organiza a festa não para quem a julga merecer, mas para quem está triste, para quem tem fome; é Alguém que «não quer que se perca nenhum destes pequenos».

Quem é que se deve converter? Os pecadores? Evidentemente. Mas devem converter-se sobretudo os “justos”. Estes, para além de terem de corrigir a sua vida (porque todos somos pecadores, sendo difícil definir quem é mais ou menos pecador), devem corrigir principalmente as suas falsas ideias acerca de Deus, pois inventam uma “religião dos méritos”. Deus alegra-Se em sentar-Se à mesa com o pecador.

As duas primeiras parábolas põem em relevo a iniciativa da conversão, que não parte do homem, mas de Deus. É Ele que vai à procura do que se perdera. A parábola do chamado “filho pródigo”, que Jesus conta logo a seguir, põe em relevo o respeito de Deus pela liberdade do homem, pelo que deveríamos antes chamar-lhe a parábola do “pai misericordioso e compreensivo”. Este pai misericordioso não força o filho a ficar em casa, mas também não o obriga a voltar: mas sabe esperar.

S. Paulo, na segunda leitura, sublinha que Deus usou de misericórdia para com ele que era um blasfemador, um perseguidor e um violento. Se alguém como ele, inimigo da fé, “o primeiro entre os pecadores” como afirma, obteve misericórdia, poderá ainda alguém ter medo de que Deus o trate com severidade?

Saibamos, pois, agradecer este amor que o Senhor nos tem, sem merecimento nosso, e consideremos seriamente este apelo contínuo à conversão.

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