Os perigos mais graves são os que estão melhor camuflados e escondidos, aqueles que nos apanham de surpresa. Se Jesus recomenda com insistência aos discípulos para se acautelarem, para estarem atentos a um certo tipo de pessoas, isto significa que as insídias que armam são extremamente sérias.
Depois de uma série de controvérsias com fariseus, saduceus e herodianos, no templo de Jerusalém, Jesus dirige um ataque direto, corajoso e preciso contra os escribas; e para o tornar mais incisivo, recorre à sátira, à ironia, a uma linguagem que pode parecer até demasiado provocatória. Isto revela a sua grande preocupação com a possibilidade de que um certo tipo de comportamento nefasto pudesse infiltrar-se na comunidade dos seus discípulos.
A primeira acusação que lhes dizia respeito à vaidade, à ostentação. Eram pessoas que gostavam de exibir o seu saber e os seus títulos e, para chamarem a atenção, para não serem confundidos com o povo, com as pessoas ignorantes, faziam questão de não se vestirem como os outros. Tinham um uniforme, «gostavam de exibir longas túnicas».
Era por respeito às suas roupas que as pessoas os tratavam com mil deferências, lhes davam passagem na rua, lhes reservavam os primeiros lugares nas praças e nas sinagogas, e os serviam melhor que aos outros nos mercados.
O Mestre considerava tudo isto uma comédia ridícula e não a suportava; era alérgico aos seus uniformes porque eram motivo de divisão, de separação, criavam uma casta.
Mais do que um pecado, tratava-se de uma doença, de uma patologia que poderia ser facilmente curada. O que alimentava a vaidade dos escribas era o servilismo ingénuo das pessoas que, tributando-lhes honrarias e obséquios, estavam convencidas de dar glória a Deus. Para os meter na ordem e dar-lhes a possibilidade de se sentirem irmãos, bastaria que todos se comportassem como Jesus, que não os tratava com particular deferência; em vez da deles, preferia a amizade dos pecadores e dos marginalizados, não recorria às suas influências, não lhes pedia apoio.
Perante o comportamento e as palavras do Mestre, muito claras, podemo-nos perguntar como pode acontecer que por vezes na Igreja não nos dêmos conta do quanto são anti-evangélicas as atitudes de corrida aos primeiros lugares, aos títulos honoríficos e à busca de privilégios. O mundo estruturado segundo uma hierarquia piramidal foi definitivamente condenado por Cristo, e querê-lo restaurar não é um pecado venial, mas um atentado frontal contra a lógica evangélica.
A exploração das pessoas mais fracas é o princípio pelo qual se rege o nosso mundo competitivo e conflituoso, e é deste princípio que nasce a sociedade dos espertos, que é o oposto da sociedade evangélica. Mas também os pobres, quando anseiam por ocupar o lugar de quem os oprime, não estão a sonhar com um mundo novo, mas aspiram apenas a perpetuar o antigo. Não querem pôr fim à mentalidade dos «escribas», mas substituir-se aos «escribas»; querem uma troca de papéis, enquanto Jesus pretende que seja deitada ao lixo a obra teatral que desde sempre foi recitada no mundo.
O discípulo não é aquele que põe em jogo uma parte de si ou daquilo que tem, mas vende tudo o que possui para o dar aos pobres e oferece toda a sua vida como fez o Mestre.
Mesmo quem é pobre, como a viúva do Evangelho deste domingo, é chamado a dar tudo. Não há ninguém tão pobre que nada tenha para oferecer, e ninguém tão rico que nada precise de receber.
Deus encheu de dons os seus filhos para que, seguindo o exemplo do Pai que está nos Céus, eles não os guardem para si próprios, mas os ponham à disposição das outras pessoas.
Catequistas, cantores, leitores, acólitos, ministros extraordinários da comunhão, visitadores de doentes.