«Seja feita a vossa vontade assim na terra como no céu.» Aprofundemos um pouco esta petição que vezes incontáveis já repetimos no Pai-Nosso.
Fazer a vontade de Deus foi o desejo ardente dos santos, a exemplo de Jesus Cristo, para quem a vontade do Pai era o seu alimento. Fidelidade, cumprimento exacto, não por servilismo doentio, por escravidão que aliena, mas por amor. Quem ama deseja dar gosto, fazer em tudo a vontade do amado. E como aqui o Amado é o Pai, fazer a sua vontade dignifica, agiganta, torna-nos mais divinos. A a vontade de Deus é uma vontade a fazer.
EIS-ME AQUI!
A resposta pronta de alguns dos grandes homens do Antigo Testamento é exemplo convincente da escuta atenta da Palavra do Senhor e do desejo de a seguir, de a fazer prática. Hoje, começa por ser difícil a escuta, pois Deus fala, mas o homem no meio da atividade, seduzido por tanta riqueza, técnica, negócio, não ouve o Senhor e não se dispõe a cumprir a sua vontade. Surdez humana, mal com graves consequências, que nos desvia do único Bem, nos escraviza, nos fecha no nosso pequeno mundo. Surdez que nos impede logo de partida de cumprir o que Deus quer. Se não O ouvimos, se não buscamos a sua Vontade, se não procuramos saber qual ela é, como poderemos cumpri.la?
«Eis-me aqui», é a resposta do servo fiel que por amor se dispõe à execução exata do que o Senhor quer e ordena. Abraão, o grande homem da fé, que soube «esperar contra toda a esperança», quando Deus o chama e lhe pede algo, só sabe dizer «eis-me aqui». Resposta pronta, execução perfeita, disponibilidade total. Quer o chamamento de Abraão quer o sacrifício de Isac são disso prova inequívoca, e exemplo maravilhoso.
«eis-me aqui», deve ser a resposta, a atitude interior de cada cristão, de cada filho de Deus, ao apelo do Pai, prontos a executar a sua vontade. À semelhança do profeta Isaías, cada cristão diante de Deus, e da sua vontade, perante o mundo e as necessidades dos homens, deve responder «Eis-me aqui, envia-me!».
VONTADE QUE SE MANIFESTA
Os exemplos que vimos são todos elucidativos e dão-nos luz no nosso agir. Apesar disso, muitas vezes sentimo-nos embaraçados, não vemos claro qual a vontade de Deus. Parece que Ele não fala, não se manifesta. Então, nesses casos impõe-se a oração, o discernimento, a busca dessa vontade, o conselho de outros, sobretudo a escuta atenta da Palavra de Deus. Não basta dizer: «não sei qual é a vontade de Deus». É necessário procura-la, busca-la na oração, na reflexão, no diálogo com os outros, na Eucaristia, numa abertura sincera e humilde, de quem só deseja acertar.
Deus fala de muitos modos e em muitos casos a sua vontade é clara, patente. A Palavra da Escritura é Palavra de Vida, do desejo de Deus. Cumpri-la, executá-la, pô-la em prática é fazer a vontade do Pai. Tudo o que for contra essa Palavra, não é vontade de Deus.
Cada um de nós, no estado de vida próprio, sabe que é vontade de Deus o cumprimento exato dos seus deveres: familiares, profissionais, escolares, sociais. Aí a consciência bem formada é norma do agir humano e maneira clara de Deus manifestar o que quer, o que deseja de nós.