Há dias perguntavam-me: “o que seria dos pobres sem as respostas sociais prestadas por instituições ligadas à Igreja Católica?” Respondi que as consequências seriam semelhantes à decisão dos proprietários ou gerentes de restaurantes naturais de Arganil fecharem as portas das casas que gerem em Lisboa: a fome, dir-se-ia com algum exagero! Porque assim é, de facto, na sociedade lisboeta, onde atividades profissionais afirmam-se de acordo proveniências geográficas ou influências de determinados grupos e até inspirações espirituais ou religiosas. E se os restaurantes em Lisboa têm por trás do balcão muitas mulheres e muitos homens da zona centro de Portugal, os pobres, em todos os locais, têm muitos cristãos comprometidos a lutar pela dignidade de vida de cada um deles, todos os dias. Uns de forma organizada, nas várias instituições de solidariedade, outros no exercício autêntico da caridade, que dá e promove o outro sem que ninguém dê por isso.
O Papa Francisco inspira e desafia à solidariedade de forma sempre criativa! Facilmente assentimos no sucesso do combate à pobreza caso fossem seguidas as propostas que o cardeal que chegou de Buenos Aires repete desde sempre e de forma mais insistente e com alcance global a partir do momento em que preenche o ambiente do Vaticano.
Primeiro na exortação apostólica “A Alegria do Evangelho”, Francisco afirma que “para a Igreja, a opção pelos pobres é mais uma categoria teológica que cultural, sociológica, política ou filosófica” e sugere uma “atenção amiga” aos pobres.
Depois na mensagem para a Quaresma, o Papa estende este programa de experiência crente a todos os batizados, às comunidades e grupos que formam, numa reação clara à indiferença que marca a maioria das relações humanas. Ser “ilhas de misericórdia no meio do mar da indiferença” é o desafio deixado às paróquias.
No último domingo, na missa com os novos cardeais, o conselho que o Papa lhes deixava insistia na mesma determinação proposta para toda a Igreja: “acolher com ternura os marginalizados”.
“Não só acolher e integrar, com coragem evangélica, aqueles que batem à nossa porta, mas sair, ir à procura, sem preconceitos nem medo, dos afastados revelando-lhes gratuitamente aquilo que gratuitamente recebemos”. É este o programa para todos. Também para quem é cardeal.
A inspirar slogans, desafios ou objetivos está o gesto de Jesus diante do leproso, quando rompe com a lei que o catalogava como impuro, escandaliza toda a sociedade que o remetia para o isolamento e choca a mentalidade de então que o colocava sempre à distância. E Jesus não só se aproxima do leproso como também lhe toca, inaugurando um novo paradigma na atenção ao outro e na forma de o ajudar.
Antes de qualquer programa, projeto ou estratégia tem de estar o toque, a determinação de tocar o pobre. E são tantos os exemplos que o demonstram!
Paulo Rocha,
Agência ECCLESIA